Projeto vai custar US$ 1 bilhão, na modalidade PPP, e o seu sucesso operacional deverá incentivar outros no país
Agora, a expectativa é grande com a planta de dessalinização da Califórnia para tratar 204 milhões de litros/dia, e que vai custar US$ 1 bilhão. Caso dê certo o projeto californiano que será implementado na modalidade de Parceria Público-Privada (PPP), é provável que outras iniciativas desse tipo surjam no país.
A Poseidon Water, de Boston, que liderou o empreendimento de Tampa, aliou-se à San Diego Water Authority (SDWA) para financiar e implantar a planta de Carlsbad, na Califórnia.
A dessalinização de água marinha vem sendo adotada em diversos países áridos, como Austrália, Israel e Emirados Árabes, e outros com poucos recursos hídricos, como Cingapura. Há 14.754 plantas de dessalinização pelo mundo, produzindo cerca de 64 bilhões de l de água, que ainda precisam de tratamento adicional para gerar água potável, segundo a IDE Technologies de Israel, uma das empresas líderes nesse processo.
Até tempos recentes, esta tecnologia era vista nos Estados Unidos como cara tanto no custo por litro como no consumo de energia. Mas com o crescimento populacional em regiões como Califórnia, Texas e Flórida, e a escassez de recursos hídricos, esse processo voltou a ser considerado. Jujung Chang, diretor da AECOM, aponta que o custo das membranas de reverse osmosis (item essencial responsável pela purificação da água) tem caído com o avanço tecnológico, bem como o custo total da planta.
A planta de Carlsbad, a ser concluída em fins de 2015, será o maior empreendimento operando com essa tecnologia no Ocidente. De qualquer forma, a contratante SDWA tomou todas as precauções para se resguardar de problemas, tanto é que o acordo para a compra da água produzida — após longas negociações — obriga a Poseidon a assumir 100% dos riscos de construção e operação nos primeiros dez anos.
Segundo Sandy Kerl, gerente-geral da SDWA, a agência não vai pagar um centavo até a entrega efetiva da água nos padrões fixados no contrato. Em troca, ela desembolsará um preço ligeiramente acima do mercado à Poseidon, entre US$ 1,50 e US$ 1,67 por m³, com o valor do dólar de 2012, dependendo do volume anual consumido, estimado entre 59 e 70 milhões m³.
Embora o preço esteja acima do pago pela água importada de Los Angeles, a SDWA acredita que será mais econômico no longo prazo. A planta de Carlsbad deverá suprir entre 7% e 10% da demanda de água na região em 2020, e cerca de um terço do volume total produzido no condado de San Diego. A agência tem a opção de comprar a planta por um dólar após 30 anos.
Outra aspecto importante para a SDWA foi reter a necessidade de sua aprovação quanto às construtoras e projetistas contratados, que considera como de primeira linha o consórcio construtor formado por Kiewit & Walnut e J.F.Shea, tendo a subsidiária local da israelense IDE Technologies como projetista do sistema de osmose reversa. IDE já construiu cerca de 400 plantas do tipo no mundo e comissionou recentemente no seu país uma planta de 150 milhões m³/ano, considerado a maior já construída.
Água será extraída de lagoa marinha
A planta de Carlsbad, erguida junto a uma termelétrica de Encina, movida a gás natural, vai obter a água marinha da lagoa de Água Hedionda, usada por esta para fins de resfriamento. Uma tomada de água vai captar 393 milhões litros/dia do fluxo de 1.150 milhões litros/dia do canal de descarga de resfriamento da termelétrica.
Cerca de 189 milhões litros/dia de água marinha serão filtrados com antrácito e microtelas de pré-tratamento, que vão extrair o sal usando reverse osmosis, com membranas de 8”. Essa água tratada ficará estocada num reservatório, antes de ser bombeada para tratamento adicional pela SDWA.
Outro fluxo de 220 milhões litros/dia descartado pela planta terá o dobro da salinidade da água marinha do oceano e será diluído na descarga da termelétrica, antes de ser encaminhado ao mar.
Este projeto de dessalinização vai demandar obras correlatas da SDWA no valor de US$ 80 milhões, incluindo o revestimento novo de um trecho de 8 km de um aqueduto e alterações na ETA de Twin Oaks Valley.
Evolução da reverse osmosis
Conforme o presidente da IDE, Avshalom Felber, o processo recebeu melhorias ao longo do tempo. A equipe da planta Carlsbad visitou as instalações de dessalinização que funcionam em Ashkelon e Hadera, em Israel, e uma terceira em Chipre. Ao invés de usar membranas de 8”, a planta mais nova em Sorek, perto de Tel Aviv, em Israel, emprega membranas com dobro de espessura, o que aumenta a produção de água e reduz o gasto de energia. Essa planta começou a funcionar no verão e não requer produtos químicos no pré-tratamento, e o consumo de energia caiu 15% com relação à geração anterior do processo.
A planta de Carlsbad vai buscar o status neutro de carbono. Um sistema da Energy Recovery Inc. vai reciclar a energia da água pressurizada do processo de reverse osmosis , o equivalente a cerca de 45% do seu consumo. Painéis solares no telhado vão gerar 1 MW de energia, substituindo o uso da rede pública.
O projeto, entretanto, enfrenta oposição de grupos ambientalistas. Uma
das críticas aponta que a planta baseia sua viabilidade numa permissão para captação de água marinha da usina Encina, que vence em 2017, quando a legislação atual da Califórnia passa a proibir essa prática. O governo local, entretanto, já estuda mudanças na legislação com vistas às plantas de dessalinização.
Nos Estados Unidos, outros projetos estão em curso na área. Poseidon está aguardando licenças para uma planta de 50 milhões de l/dia em Huntington Beach, Califórnia, e uma outra instalação na base da Marinha em Camp Pendleton, no mesmo estado. A IDE também acredita que novos empreendimentos tomarão forma nos próximos anos na China, Índia, Austrália e Chile, uma vez estabilizada a retomada econômica nesses países.
Fonte: Revista O Empreiteiro