A demanda por infraestrutura de transporte, habitação e saneamento vai crescer. O atendimento às necessidades desses habitantes será crucial para o governo central. No mesmo período, a população rural, da ordem de 900 milhões,
pode decrescer para 400 milhões
Para se ter uma ideia dessa velocidade de urbanização, quinze anos atrás pouco se falava da classe média nas cidades — em 2011 metade da população passou a viver nos centros urbanos da China. No plano publicado pelo primeiro-ministro Li Keqiang, empossado no ano passado, o governo reconhece que as cidades do país sofrem com poluição crescente, causada por fábricas e pela geração elétrica à base de carvão, o crescimento desordenado, o tráfego congestionado e as tensões sociais em alta. Isso se soma às dívidas gigantescas dos governos locais, com projetos de infraestrutura mirabolantes e denúncias cada vez mais frequentes de corrupção de funcionários de governo em diversos níveis — veiculadas pelas redes sociais.
A revista inglesa aponta que, em novembro passado, na assembleia do Comitê Central do Partido Comunista, este afirmou pela primeira vez que “as forças do mercado precisam desempenhar um papel decisivo no desenvolvimento”. Um problema histórico ainda não resolvido é permitir que a população rural possa vender suas terras — que hoje são tomadas pela administração local a seu bel-prazer, para serem “revendidas” a empreendedores privados.
A população urbana chinesa soma hoje 730 milhões, dos quais um terço é composto de migrantes e seus filhos já nascidos nas cidades, que não têm acesso aos benefícios sociais e serviços púbicos reservados aos habitantes reconhecidos como urbanos — alimentando uma fonte permanente de tensão.
Poder de consumo
O PIB do país avançou 7,5% em 2013, a mesma taxa projetada para este ano, estabelecendo um novo padrão diferente dos dois dígitos de crescimento que se tornou habitual até pouco tempo atrás. As vendas no varejo, entretanto, se expandem com mais força — 11,6% em 2011, 12,1% em 2012, 11,5% em 2013, em termos reais. Sinalizando uma nova tendência, a participação do consumo doméstico no crescimento do PIB ultrapassou a rubrica de investimentos em 2011 e 2012. No ano passado, a China superou o Japão como a segunda economia global em termos de consumo.
Outro fenômeno inédito na China, segundo a revista The Economist, é que a força de trabalho entre 15 e 59 anos começou a encolher em 2012, obrigando os governos locais a elevar o salário mínimo pago a trabalhadores não especializados. As novas fábricas começam a buscar as cidades a oeste, afastando-se das zonas industrializadas próximas à costa, em busca de mão de obra mais barata.
O salário médio do trabalhador migrante nas cidades dobrou entre 2005 e 2011, para cerca de US$ 322/mês, e no ano passado cresceu outros 14%. Essa massa enorme de trabalhadores migrantes representa um gigantesco potencial de consumo, desde que o governo central consiga equalizar o acesso deles aos benefícios sociais e serviços públicos como escolas e habitação, que por enquanto são exclusivos aos habitantes reconhecidos como urbanos. Enquanto isso não mudar, os migrantes vão continuar poupando quase tudo que ganha, como uma espécie de seguro contra imprevistos, já que muitos moram em alojamentos ilegais e trabalham sem contrato.
A poluição nas cidades se agrava
Nos planos de urbanização revelados em março passado, apenas as cidades com população acima de 5 milhões devem ter seu crescimento regulado, o que afeta apenas 15 cidades na China, ao passo que há mais de 130 centros urbanos com população acima de 1 milhão. A título de comparação, os Estados Unidos têm apenas nove cidades com esta densidade demográfica. Na década passada, as cidades pequenas viram sua população declinar — os trabalhadores migrantes preferem as cidades maiores.
Para servir de projeto piloto e testar tecnologias que possam reduzir a grave poluição das grandes cidades do país, o governo chinês fez uma parceria com Cingapura para erguer uma ecocidade a partir do zero, aproveitando uma área de 30 km² próxima à cidade portuária de Tianjin, ao norte. Em torno de um lago que era usado para tratamento de esgoto, edifícios residenciais ecoeficientes em energia estão sendo construídos, que contam com ônibus elétricos para transporte público e lixeiras públicas iluminadas por painel solar.
Para dar massa crítica ao empreendimento, o governo criou ali o primeiro parque industrial do país dedicado à indústria de animação, ao custo de US$ 690 milhões, que abriu as portas em 2011 e atraiu centenas de empresas. Visando melhorar a infraestrutura dos moradores, o governo construiu uma escola e um hospital de 350 leitos.
Num centro de controle, funcionários observam uma tela gigante que monitora o sistema de aquecimento, a rede d’água e o tráfego de veículos via câmeras em circuito fechado. Embora ainda pareça uma cidade fantasma, a população atual atinge 10 mil residentes, com previsão de se chegar a 350 mil por volta de 2030. A construção das linhas de metro até Tianjin e zonas industriais próximas será iniciada ainda este ano. Seu projeto fixa a meta de gerar 20% da energia de fontes renováveis — comparada à meta nacional de 15%; a taxa de participação atual é de 9% hoje.
A piora da poluição nas cidades chinesas tem provocado protestos recorrentes dos residentes, que repercutem nas redes sociais. Nos anos recentes, um terço dos 600 municípios chineses anunciaram planos para se transformar em ecocidades, embora sem projetos específicos. O governo central estipulou recentemente contr
oles mais rigorosos sobre emissões de carbono e poluentes que formam a névoa cinzenta nos grandes centros urbanos.
Houve protestos também da classe média a partir de 2007 contra projetos industriais que produzam poluentes perigosos, como as fábricas de paraxylene, um composto químico para se obter o poliéster. Estes protestos que reuniram dezenas de milhares de pessoas, convocados via redes sociais, ocorreram em Xiamen, Dalian, Ningbo e Kunming em maio de 2013, e Maoming, em abril passado.
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Fonte: Revista O Empreiteiro