Augusto Diniz – Vitória do Xingu (PA)
Seu nome, por vezes, aparece como AHE (Aproveitamento Hidrelétrico) Belo Monte e não UHE (Usina Hidrelétrica) Belo Monte. A diminuição drástica do reservatório, a transformando em uma usina a fio d’água, motivou a adoção da designação menos conhecida, assim como o excepcional desnível de 90 m do rio Xingu naquela região.
Porém, a redução da área de armazenamento de água para 503 km² (sendo 228 km² na própria calha do rio) não significa que o empreendimento tenha perdido seu gigantismo. Ao contrário, tudo é superlativo na maior obra de infraestrutura em andamento no País. A começar pelo seu custo total: cerca de R$ 25,8 bilhões.
No pico da obra, em meados de 2014, o número de trabalhadores no empreendimento alcançou 33 mil pessoas (10% de mulheres). Para receber este contingente, foram montados 900 mil m² somente de infraestrutura de canteiros, incluindo alojamentos, refeitórios e escritórios. Hoje, o avanço das obras civis chega perto de 70% – a construção do empreendimento começou em 2011 e deve ser totalmente concluída em 2019.
Há cerca de 50 policiais da Força Nacional dentro do empreendimento. Registram-se 444 dias de paralisações por conta de greves e protestos de toda ordem.
A Volta Grande do Rio Xingu, com 140 km de extensão e que forma a letra “U” no trajeto do rio, é a região exata onde se realiza a obra da hidrelétrica. É dentro desse “U” que estão os quatro sítios de obras de Belo Monte, no perímetro do município de Vitória do Xingu, vizinho a Altamira (PA). O rio será transposto nesse trecho, por meio de um canal de transição de 20 km e um reservatório intermediário, com 28 grandes diques de contenção.
O desvio do rio deverá oficialmente ocorrer em setembro de 2015. No trecho, uma ensacadeira será construída no leito do rio para desviá-lo para o vertedouro Pimental, onde funcionará a casa de força auxiliar (a geração de energia nessa casa de força abastecerá Altamira e a própria usina) e, também, para o canal de transposição, que levará a água até o reservatório intermediário e a casa de força principal.
A casa de força auxiliar terá seis turbinas tipo bulbo, com capacidade instalada de 233 MW. De Pimental à casa de força de Belo Monte são pelo menos 50 km de distância de carro – no total, há 200 km de vias interligando as obras do empreendimento. É lá que 18 turbinas tipo Francis, com capacidade instalada de 11 mil MW, gerarão energia para várias regiões do País – a primeira unidade, de acordo com a Norte Energia, deve entrar em operação em fevereiro de 2016, sendo que, a partir daí, uma a cada dois meses entrará em operação.
Sítio Belo Monte
Oito turbinas devem gerar energia primeiro – o canal de fuga desse trecho já está quase escavado. Nesta parte, já se montam os berços para posicionamento das turbinas nas unidades geradoras 1 e 2, além do pré-distribuidor. A queda da água será de 94 m.
Detonações a jusante, no canal de fuga, começaram em 2012. Quando terminar este trabalho, 13 milhões de m³ de escavação em rocha terão sido feitas. A rocha retirada a jusante é britada e parte é usada na barragem de enrocamento, que deve ser concluída em janeiro de 2015.
Uma ponte, com 32 pilares e 615 m de extensão, passará por cima do canal de fuga. Ela integrará o novo segmento da Rodovia Transamazônica (BR-230) naquele trecho. Fundações prontas, a estrutura deve ser concluída em meados no ano que vem.
Duas centrais de concreto (600 m³/hora de capacidade total) e duas centrais de gelo (2.400 kg/dia e 2.700 kg/dia de capacidade total) atendem ao sítio de Belo Monte. O cimento vem da fábrica da Votorantim em Xambioá, no extremo norte do Tocantins, a cerca de 600 km de Belo Monte. Chegam, somente no sítio Belo Monte, 10 mil t/dia de cimento – cada carreta, apelidada de caminhão-cebola, carrega 40 t de cimento. O movimento é frenético de caminhões.
Uma estação de transbordo de carga no rio Xingu foi construída no sítio Belo Monte, onde, principalmente, chegam equipamentos, máquinas e peças do conjunto de componentes da casa de força. O local é usado para desembarque de materiais vindos de Belém pelo rio Xingu – são 80 horas de viagem. É esperado um aumento expressivo do movimento do porto para o segundo semestre de 2015, quando serão desembarcadas as principais peças das turbinas de Belo Monte.
Canal de transição
A rocha migmatito – chamada pelos geólogos de rocha nova – é predominante no solo da região da Volta Grande do Rio Xingu. O caso mais visível desse trabalho de escavação nesta rocha é no canal de transição, de 20 km, de até 300 m de largura e 24 m de altura. O canal liga o reservatório de água principal com o intermediário.
O cenário neste sítio impressiona pela quantidade de máquinas em operação – há 2.300 máquinas pesadas em operação no empreendimento, sendo 1.400 somente na construção do canal. Um formigueiro de equipamentos para realização das escavações é visto hoje em cinco frentes de trabalho. São 126 milhões m³ de escavação. Pouco mais de 6 km do canal estão prontos.
No dia 15 de novembro de 2015 terá início o enchimento do canal. São 47 dias para encher o canal e o reservatório intermediário, depois que a ensecadeira da boca da estrutura for removida.
Uma ponte de 370 m atravessará o canal e dará acesso ao sítio Pimental.
Diques
No reservatório intermediário, 28 diques nos mais variados tamanhos estão sendo construídos – alguns provocaram reversão do curso de igarapés. Os diques mais parecem barragens.
O dique 19B é o segundo maior em comprimento: 1.500 m. O 13 é o maior em extensão e volume: 1.987 m de extensão e 5 milhões m³. O dique 8A é o mais alto: 68 m.
No total, dez canais de transposição serão feitos no reservatório intermediário para dar carga à água que segue à casa de força principal de Belo Monte.
Sítio Pimental
Parte mais adiantada do empreendimento, com 95% de avanços das obras civis, o trabalho no sítio Pimental se concentra hoje na montagem da casa de força. O barramento do lado esquerdo possui 5 km. O do lado direito, 800 m – é nesse lado que será feito o desvio do leito do rio para o vertedouro de Pimental. São 7,5 km de barragem, incluindo o vertedouro e casa de força auxiliar.
A barragem de Pimental tem 35 m de altura – 50 m a partir da fundação.
No total, 5 km pelo rio Xingu separam a barragem de Pimental da entrada do canal de transição. No sítio Pimental, 5 milhões de m³ de solo e argila foram movimentados. O vertedouro de Pimental tem 18 vãos de 20 m – as seis máquinas de geração de energia ficam do lado esquerdo da barragem.
O estrangulamento do rio Xingu no trecho em que a barragem de Pimental foi erguida, exigiu que se criasse do lado oposto do rio onde se construiu a estrutura, uma transposição de pequenas embarcações – que continuará a existir, mesmo depois de o empreendimento pronto.
A vazão do rio Xingu na altura da Grande Volta, em outubro deste ano, alcançou 1.200 m³/s. Mas quando vai a mais de 15 mil m³, nenhuma embarcação consegue subir o rio – já não se fazia isso nem quando não existia a barragem de Pimental. Na cheia desse ano, a vazão do rio chegou a 29 mil m³/s no trecho.
A média mínima histórica de vazão na Volta Grande do Rio Xingu atingiu 400 m³/s. O vertedouro trabalhará com o mínimo de 700 m³/s. Estudos indicam que esta vazão não afetará a fauna e a flora da Grande Volta do Rio Xingu.
Fonte: Revista O Empreiteiro