Quem ainda tinha alguma dúvida, sobre o imbróglio que é esse Código Florestal brasileiro, pode eliminá-la com facilidade a partir da entrevista que o ambivalente Roberto Klabin, empresário do ramo de papel e celulose e, ao mesmo tempo, presidente da Fundação SOS Mata Atlântica, prestou à Folha de S. Paulo e que está publicada na edição de hoje deste jornal.
No fundo, o código é o que se previa: um arranjo costurado para favorecer ruralistas em detrimento do futuro. O futuro, em um mundo que se transforma por conta das mudanças climáticas, passou batido nas preocupações dos que votaram a proposta do código: algo passageiro, chocho, cuja ideia era mostrar que se estava fazendo alguma coisa, quando não se estava fazendo coisa nenhuma.
Essa impressão, suscitada pelas discussões que procuraram negligenciar as opiniões maduras de cientistas insuspeitos, incluindo, dentre eles, o geógrafo Aziz Ab´Saber, que acaba de conquistar o Prêmio Intelectual do Ano, concedido em Ribeirão Preto (SP), pela União Brasileira de Escritores (UBE), é constatada agora, com o amparo de fatos reais, pelas luzes da entrevista.
Diz, Roberto Klabin, que nunca houve, nas discussões, a intenção de melhorar o código anterior ou de "tornar o Brasil mais moderno na questão ambiental. O que temos na proposta é um código agrícola, em vez de um código florestal." Palavras assim, simples assim.
Com o código feito sob medida para se evitar algo consentâneo com as mudanças reclamadas tanto aqui quanto em outras regiões do mundo, na questão ambiental, o que se tem é um punhado de poeira jogado nos olhos da sociedade. No futuro, o próprio segmento agrícola poderá ser vítima desse vexame, uma vez que o código deixa de enfeixar uma visão de futuro para, segundo Roberto Klabin, seguir "na contramão da história, uma vez que as mudanças no código claramente pioram esses efeitos" (os efeitos das mudanças climáticas). E, em Brasília, conforme a entrevista, muitos dos deputados que votaram o documento, sequer sabiam o que estavam votando.
Texto:Nildo Carlos Oliveira
Fonte: Padrão