Eles nunca serão aqueles que o eleitor pensava que eles fossem. O tema é antigo, mas retorna nesse período em que muitos se encontram prestes a serem novamente ludibriados. Raros os que merecem algum crédito. A mentira lhes tem sido a arma da sobrevivência.
Um dia o cidadão vota num candidato ao Senado. O sujeito, bigode a marcar-lhe a sobriedade dos trejeitos faciais, posa com a seriedade de quem reflete sobre os grandes problemas do país. Independentemente até do partido pelo qual postula a chegada ao poder, tem uma mensagem de convencimento capaz de abalar os mais céticos. Porque fala a linguagem que o eleitor quer ouvir. Mas, depois de eleito, incorpora o transformismo. O homem não é o mesmo nas palavras, no comportamento, na manifestação diante do que defendia.
Sei de um candidato a deputado. Só de ouvi-lo, muitos afirmavam: "É este. Deverá ser o intérprete de nossos interesses no Parlamento". Eleito, ele passou a defender interesses antagônicos a tudo aquilo que pregara. Virou homem do mercado financeiro falando a linguagem dos bancos e das bolsas. Os especuladores souberam colocar lá o homem certo na hora certa.
Seria de imaginar-se que os candidatos à Presidência fugissem a essa regra. A honorabilidade de uma função, a mais alta, deveria eliminar quaisquer resquícios similares àqueles que moldam as candidaturas virtuais. Ocorre que eles são treinados para dizer o que possivelmente não pensem, quando pensam, uma vez que invariavelmente seguem o script dos que os manipulam.
O eleitor vê tudo, acompanha tudo, mas está imobilizado. É refém da arte do transformismo.
Frase de efeito
Hoje, em artigo publicado na FSP, no qual analisa a proposta da nova legislação florestal, o físico Rogério Cezar de Cerqueira Leite tem uma frase que precisa ser registrada. Ei-la: "É preciso lembrar que, afinal, o homem também é espécie a ser preservada".
Fonte: Estadão