É hora de se fazer uma revisão do significado dos shoppings na estrutura das cidades. Eles ganharam espaço, difundiram-se, ampliaram-se, em cima da ideia de que concentram tudo, do pequeno ao megacomércio, oferecendo conforto, lazer, facilidades de circulação e comunicação e, sobretudo, segurança. Mesmo considerando que a verdade seja essa, sobrevém uma convicção: essa verdade é apenas uma meia verdade.
O impacto foi e tem sido grande no organismo urbano. O advento desses empreendimentos esvaziou as ruas. Criou bairros-fantasmas e convalidou, assim, uma das justificativas para eles se propagassem: a insegurança nos logradouros públicos. Sem o comércio, sem as atividades que fazem circular as iniciativas que levam o povo a ocupar as ruas, as cidades se desagregam. Podem retomar o ritmo de manhã e ao longo do dia, mas, à noite, vão ficando sombrias, espantam os casais, espantam a multidão e se divorciam de sua principal finalidade: permitir que seus espaços sejam de todos e não apenas dos espantalhos noturnos.
Muitos shoppings tentam imitar as cidades como apelo para sobreviverem. Ocorre que eles não são as cidades. No fundo, obliteram a possibilidade de que seus espaços sejam de todos. Jamais serão. E, hoje, veem que um de seus argumentos para crescer está se diluindo: podem ser seguros, mas jamais tão seguros. Poderia citar dezenas de casos – furtos, assaltos, sequestros, espancamentos, desastres, assédios e outras violências – que desmentem a alardeada segurança dos shoppings.
Repensar os shoppings, como elementos complementares da vida urbana – uma extensão das ruas e jamais alguma coisa segregada daqueles espaços – seria a melhor solução para os empreendimentos futuros. Revitalizar as ruas significa proporcionar segurança ao povo.
Hoje, quando se vê multidão tomando conta da Paulista, atraída pelos enfeites e apelo natalinos, percebemos que é possível, sim, dar-se um final – e final feliz – para a solidão das ruas.
Texto:Nildo Carlos Oliveira
Fonte: Padrão