A articulação com os grandes eixos logísticos

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Nildo Carlos Oliveira

É uma experiência que começou a sedimentar-se a partir de 1997. E quem conta essa história é um dos seus precursores, o engenheiro Marcelino Rafart de Seras, presidente de Ecorodovias. A empresa, fundada naquele ano pela Primav Construções e Comércio, do Grupo CR Almeida, vem operando concessões rodoviárias desde seus primórdios, mas com uma preocupação estratégica: articular os planos das obras de engenharia com a administração dos corredores de importação e exportação e dos mais importantes eixos turísticos do País.

Faz parte da história da empresa a parceria que ela estabeleceu em 1998 com a Impregilo International N. V., do Grupo Impregilo S.A., considerada a maior construtora de capital aberto da Itália. Essa parceria foi estabelecida inicialmente na Ecovias dos Imigrantes e, em 2002, na Ecorodovias, por meio de compra de participação acionária.

Contudo, é bom mostrar que um dos principais passos da holding para consolidar-se no mercado de infraestrutura brasileiro ocorreu ainda em 1999, quando ela começou a construção da pista descendente da Imigrantes. Era um projeto que se encontrava parado desde a década de 1970. A Ecovias transformou-o em realidade. Construiu a obra que, na época da inauguração, em novembro de 2002, tornou-se objeto da reportagem de capa da revista O Empreiteiro, com o título “Imigrantes – a saga da engenharia na segunda pista”.

Daquela época para cá muitas coisas aconteceram no desdobramento da história da Ecorodovias, que atualmente conta com seis concessões rodoviárias; 15 unidades de logística controladas pela Elog, distribuídas no Sul e no Sudeste do País; com o Complexo Tecondi, Termares e Termlog – o 3º maior terminal portuário do Porto de Santos e o 5º maior do Brasil.

Marcelino Rafart, que se formou engenheiro civil pela Universidade Federal do Paraná, foi supervisor geral de obras e diretor comercial da CR Almeida S.A., antes de assumir a presidência da Primav Construções e Comércio. É diretor-presidente da Ecorodovias desde 2002.

Um dos personagens centrais da história da Ecorodovias, ele dá conta da trajetória da empresa ao longo desses dez anos. Acredita na potencialidade brasileira, indica que o Brasil tem evoluído e ressalta: “O importante, nessa escalada de evolução, que desejaríamos mais apressada, é que ele evolui com um ‘Norte’ um caminho”. A seguir, a íntegra da entrevista.

Treinamento de resgate, comuso de rapel, realizado naPonte São Gonçalo, na regiãode Pelotas (BR-392-Ecosul)

Qual era a estratégia da Ecorodovias, na época de sua fundação, há dez anos?

Essa história começou no final dos anos 1990, em 1997. À época havíamos conquistado a primeira concessão, que foi a Ecovias Caminho do Mar, que liga Curitiba ao Porto de Paranaguá e às praias paranaenses. Desde aquela época nosso objetivo era nos fixarmos nos eixos de importação e exportação, com vinculação nos centros consumidores e nas indústrias, incluindo a do turismo. A primeira conquista foi a BR-277/PR.

Na sequência veio a concorrência do Sistema Anchieta-Imigrantes.

Isso aconteceu logo depois, em 1998. Participamos dessa concorrência com uma estratégia bem definida, bem delineada, para ganhar. E surgiu a Ecovias Imigrantes, que opera a principal ligação da região metropolitana de São Paulo com o Porto de Santos. Mas não podemos esquecer que foi ainda naquele ano, que nós conquistamos também uma participação na Ecosul, que é a ligação entre Porto Alegre, Pelotas e o Porto do Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Ela administra 623,8 km de vias federais no Polo Rodoviário de Pelotas. Assim, fechamos 1998 com as três principais ligações entre os três principais portos brasileiros e as três principais regiões econômicas.

Na época, quanto essas conquistas significavam, considerando a movimentação de bens e serviços transportados pelas rodovias brasileiras?

Significavam alguma coisa perto de 40%. Hoje podemos afirmar que esse índice é da ordem de 55%.
E quais os demais passos do Grupo no começo do novo milênio?

No ano 2007 adquirimos a Ecocataratas, que é uma ligação muito importante do Mercosul. Ela conecta o interior do Paraná à Foz do Iguaçu, ou melhor, com a região da chamada Tríplice Aliança, onde estão as fronteiras do Brasil com a Argentina e com o Paraguai.

Engenheiro MarcelinoRafart de Seras,presidente daEcorodovias

Como a Ecopistas se encaixa dentro dessa estratégia de evolução da empresa?

É necessário que situemos isso dentro do contexto empresarial. O que tínhamos em vista, depois da Ecocataratas, era conquistarmos, com a Ecopistas, o sistema Ayrton Senna–Carvalho Pinto. Seria importante, em nossa visão, agregarmos o eixo industrial e consumidor do Vale do Paraíba. É uma região muito importante, que se vincula ao Porto de São Sebastião. Mais recentemente viemos a conquistar trecho da ordem de 500 km da BR-101, na ligação Bahia-Espírito Santo. Veja que no Espírito Santo aquela rodovia está ligada praticamente a todos os portos capixabas, incluindo os privados. Hoje, portanto, a Ecorodovias detém seis concessionárias, todas vinculadas ao nosso objetivo: são eixos de importação e exportação, centros industriais e centros de consumo e turismo.

Essa diversificação não representa, para a empresa, enfrentamento direto com eventuais problemas setoriais?

Sim, mas todos solucionáveis. Tanto assim, que as crises de 1998 e 2008 não nos pegaram no contrapé. Se, de um lado, houve a diminuição na atividade econômica do País, de outro o PIB das famílias cresceu muito. Isso resultou em mais vendas de veículos e, consequentemente, no aumento do número de viagens para destinos turísticos, sem falar na movimentação de cargas.

E quando a empresa passou para a segunda fase de seu planejamento estratégico?

Depois que identificamos, nas nossas rodovias, os gargalos existentes, verificarmos o que isso representava em termos de “custo Brasil”. Foi a partir dessa constatação que começamos um trabalho intenso com a constituição dos ecopátios. São grandes sites e
m que se pode fazer, de maneira intermodal – rodoviária e ferroviária – toda a movimentação de contêineres cheios e vazios, num mesmo ambiente. Assim, foi criada a Elog, constituída com a compra de empresas dedicadas a esse tipo de comércio e de atividades alfandegárias. Isso resultou na nossa expansão para a área portuária, com a compra do Tecondi e a criação de uma logística integrada, reunindo rodovias, pátios, sistemas de logística e terminal portuário.

Nesse organograma, como se encontra atualmente o Ecopátio Cubatão?

Ele está maduro e dá respostas sumamente positivas às suas atividades logísticas. Situa-se naquele município ao lado da rodovia Cônego Domênico Rangoni, a 15 km da Margem Esquerda do Porto de Santos. É um importante hub para a triagem e o envio de caminhões para os terminais e, ao mesmo tempo, para os serviços correlatos à movimentação de contêineres cheios de importação e exportação e os contêineres vazios.

Construção da Imigrantes consolidou a empresa no mercado de infraestrutura

Está nas cogitações da empresa a construção e operação de um ecopátio em Viracopos?

Ecopátios são retroáreas fundamentais. Há os terminais portuários vocacionados a descarregar e carregar os navios, com a maior eficiência e produtividade possíveis, mas não há, na região de Santos e Guarujá, mais retroáreas disponíveis para ser acrescidas aos terminais. É que houve um adensamento natural da cidade. No mundo inteiro, esse tipo de serviço é feito de maneira remota, em terminais mais afastados (embora não muito). Hoje, além de contarmos com o Ecopatio Imigrantes, estamos cogitando de contar, sim, com o Ecopatio Viracopos, em Campinas. Ele deverá representar um ponto de apoio muito especial para as mercadorias que vêm por via aérea, pela proximidade do Aeroporto de Viracopos.

Acaso não haveria um ponto de desequilíbrio entre os ecopátios e os serviços alfandegários?

O sistema de ecopátio já tem e deverá ter cada vez mais funções alfandegárias. Com a nossa política de logística integrada, o que pretendemos estabelecer é o porto-porta ou porta-porto, de tal maneira que não haja vários agentes trabalhando sobre a mesma mercadoria. Sabemos que isso tem acarretado sobrepreço e o emperramento do fluxo, o que só aumenta a burocracia.

A logística integrada inclui os aeroportos?

A partir do novo marco regulatório, a questão portuária nos interessa também, já que temos um terminal portuário e isso faz parte de nossa estratégia. Queremos desenvolver, cada vez mais, a parte de logística, em especial perto das rodovias em que atuamos. A parte aeroportuária também nos interessa. Nós participamos do leilão de Guarulhos, ficando na segunda colocação. Fizemos uma ótima parceria com uma operadora, que é a Fraport, e esta parceria deve continuar para outros leilões que vêm aí. Nós temos com ela um acordo de participação paritária. Ao mesmo tempo em que eles são ótimos operadores, nós somos gestores destacados na área da infraestrutura.

A Ecorodovias contabiliza dez anos de êxito com sua estratégia de crescimento. E para os próximos dez anos?

Temos em vista saltos qualitativos. O Brasil está vivendo um momento muito especial de falta de infraestrutura. Quanto mais essa falta de infraestrutura afeta a economia e a sociedade, os governos tendem a convocar a iniciativa privada para ajudar a resolver esse problema. Nós nos consideramos plenamente qualificados e preparados para enfrentar tal desafio de melhorar e criar a infraestrutura necessária para ajudar a garantir o crescimento de uma economia que é a sexta do mundo.

O que está emperrando o Brasil, em seu caminho, na trajetória atual?

Poderíamos citar a reforma tributária e a burocracia. Mas temos de entender a cultura e esse ambiente que existe no Brasil. O atual governo se revela persuadido quanto à importância da participação da iniciativa privada nas concessões na área da infraestrutura. Exemplo disso são as recentes concessões dos aeroportos de Guarulhos, Brasília e Viracopos e o histórico de concessões rodoviárias e ferroviárias. Estamos evoluindo.

Até aonde vai o papel do Estado e até aonde vai o papel do governo?

Vemos isso da seguinte forma: todos os que assumem o papel de governo precisam compreender que estão assumindo o papel do Estado. Qual é esse papel? Quando você assina um contrato de longa duração, de 20 ou 30 anos, você está assinado um documento não com o governo, mas com o Estado brasileiro, em que as regras são fundamentais, tanto os haveres como os deveres. A manutenção dos contratos, o rígido cumprimento deles são cláusulas fundamentais para que o investidor possa diminuir os seus riscos e participar daqueles projetos de forma plenamente adequada.

A Ecorodovias trouxe experiência do exterior para compor seu modelo de operações?

Entendemos que sim. Se observarmos o volume de mercadorias que passa pelas nossas rodovias e o trabalho que temos realizado, podemos dizer que somos um exemplo quase que único no mundo, em termos estratégicos e focais. Sobre a logística empregada isso já é comum no mundo. Nós observamos os gargalos brasileiros e trouxemos de fora as experiências que deram êxito e as adaptamos e implantamos na realidade do País. Acreditamos que, com isso, estamos criando um novo paradigma com relação ao mercado brasileiro. Achamos que, nesse contexto, os nossos concorrentes terão também de se modernizar no mesmo ritmo.

A abertura de capital na bolsa teve reflexo importante no crescimento da empresa?

Somos uma empresa aberta, que está na Bovespa com uma série de investidores, pessoas físicas e jurídicas. Como tal, a Ecorodovias tem de proporcionar resultados a seus acionistas. Os resultados são um tripé composto de quase seis mil colaboradores, que devem estar cada vez mais motivados, preparados e aperfeiçoados tecnicamente. Além disso, temos os nossos clientes e usuários que, no caso das concessões rodoviárias, vêm reconhecendo o nosso trabalho e demonstrando satisfação com os serviços fornecidos. E temos os acionistas e investidores que colocam mais recursos para investimentos nas atividades da empresa na medida em que ela revele resultados positivos. É assim que a empresa está crescendo. Sem esse tripé não h&
aacute; empresa que promova uma iniciação social e um desenvolvimento socioambiental importante para os seus trabalhadores e para as comunidades lindeiras.

Crescimento. Este é o caminho do Brasil?

O Brasil tem evoluído. Em hipótese alguma afirmaríamos que ele está regredindo. Ele cresce, embora a passos vagarosos. Mas o importante é que ele tem um “Norte”. E segue um bom caminho.

Fonte: Padrão


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