Chuva compromete estrada recém-pavimentada na Amazônia

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Augusto Diniz – Cruzeiro do Sul (AC)

Arevista O Empreiteiro percorreu no mês passado os 672 km que separam a capital do Acre, Rio Branco, e a segunda maior cidade do estado, Cruzeiro do Sul. O trecho pertence à BR-364 e desde 1999, quando foi aberta, somente funcionava quatro meses ao ano – nos outros meses ela permanecia intransitável devido ao rigoroso período das chuvas da Amazônia.
Porém, pela primeira vez em sua história, a estrada ficou por toda a sua extensão trafegável durante o último inverno amazônico (outubro a maio). O motivo foi a sua completa pavimentação — ou pelo menos a colocação de capeamento provisório de asfalto em alguns trechos. Na edição 501 (setembro/2011), a revista O Empreiteiro fez um relato sobre a obra e os desafios de se construir na região, com diversos rios e igarapés a transpor e que compõem a Bacia do Rio Amazonas, além de solo argiloso e instável e a difícil logística de transportar materiais de construção à região. A pavimentação total teve um custo de R$ 1 bilhão e faz parte das iniciativas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

No entanto, constata-se hoje que a rodovia não resistiu em alguns pontos. Deslizamentos às suas margens e recalque da capa asfáltica são quase recorrentes em alguns trechos. Em partes mais antigas da via, que já eram asfaltadas, vê-se a necessidade de restauração. As autoridades locais garantem que neste verão amazônico as obras serão concluídas e os problemas, resolvidos.
Já as populações das cidades que a rodovia serve se sentem aliviadas com o fim do isolamento. Também constata-se uma diminuição nos preços de produtos de primeira necessidade por causa do melhor acesso.
Destaca-se ainda durante o trajeto a Floresta Amazônica quase intocada, mostrando toda a sua exuberância em alguns momentos bem às margens da rodovia. A estrada ainda corta reservas indígenas, revelando que aquele pedaço do Brasil conta com uma forte presença de índios.

*Imagem da rodovia BR-364 ainda em obras

A seguir, a revista O Empreiteiro apresenta um relato, apoiado em ensaio fotográfico, da estrada que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul, uma das mais desafiadoras vias construídas no País nos últimos tempos. As fotos são de Augusto Diniz e Manoel Façanha.

Trecho Rio Branco-Feijó (378 km): A estrada até Sena Madureira (a 139 km da capital) já era asfaltada desde a década de 90. Hoje, encontra-se com pavimento bastante desgastado. A partir de Sena Madureira em direção a Cruzeiro do Sul, inicia-se o trecho que sofreu as recentes intervenções. A primeira parte, até o trevo de acesso à cidade de Manoel Urbano, depois do trecho inicial pavimentado, o revestimento asfáltico já começa a apresentar problemas. Em seguida, em direção a Feijó, verifica-se de forma constante o desafio de construir uma estrada na região amazônica, com rigoroso período de chuvas e terreno argiloso instável, conhecido como tabatinga.
Feijó: cidade localizada quase no meio do trajeto da rodovia, foi por muito tempo a que mais sofria com a falta de acesso durante o inverno amazônico. Edmundo Paiva, nascido em Feijó, conhecida como terra do açaí, elogia a abertura da estrada durante todo o ano. Ele possui um box no mercado municipal da cidade. Antes da pavimentação da estrada, empresas de táxi aéreo de até oito lugares cobravam R$ 250 por passageiro, para a viagem entre Feijó e Rio Branco. Segundo Seu Edmundo, durante o período das chuvas, o tráfego de aviões era intenso. “Agora, quase não se ouve barulho de avião”, afirma. A passagem entre Feijó e Rio Branco é de R$ 60, de ônibus, que agora trafega com regularidade.
Trecho Tarauacá-Cruzeiro do Sul (294 km): vê-se de forma mais intensa trabalhos sendo executados na rodovia. Este trecho é o melhor da estrada, embora ainda tenha problemas em algumas partes, como depressão no asfalto. Por 18 km a rodovia corta reserva indígena. É também onde a Floresta Amazônica se mostra mais exuberante. Na cidade de Cruzeiro do Sul, na banca do Edilson, no mercado municipal, o preço de legumes e verduras caiu de preço devido à abertura da rodovia o ano todo. O quilo do tomate, por exemplo, passou de R$ 7 para R$ 3. Também outros produtos não-perecíveis tiveram seus preços reduzidos, como açúcar e arroz. A cidade sempre foi abastecida por Manaus (AM) e as mercadorias chegam pelo rio Juruá, um dos maiores afluentes do Amazonas. A expectativa com a estrada é que esse fluxo mude, com mais mercadorias chegando provenientes da capital do Acre.

Fonte: Padrão


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