Cruzada contra planejamento falho e desperdício

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Há uma enorme preocupação no mercado com o tamanho das fiscalizações do TCU e com a rentabilidade das obras. Esses dois pontos cruciais deságuam na produtividade como talvez uma das poucas ferramentas que possam contornar parte dos problemas gerados por essas duas variáveis, na execução das obras de construção pesada.

A revista O Empreiteiro, que sempre abraça causas que contribuam para a melhoria setorial, ou para solução de problemas complexos, dedicou-se a mais esta: Como a produtividade na construção pesada pode contribuir para a solução objetiva desses quesitos.

A coluna é escrita sob a influência recente e direta do 1º Fórum Brasileiro da Construção, realizado em outubro, em São Paulo, com a presença de influentes pessoas do setor. Das discussões, quero extrair sem prejuízo para o contexto geral, o debate sobre as circunstâncias que envolvem as pesadas fiscalizações do TCU, sob o ângulo jurídico, com o advogado Anis Kfouri Júnior, e as ações empreendidas conforme as palavras do empresário Eduardo Capobianco, presidente da Transparência Brasil.

Discutimos os efeitos, abandonamos como sempre as causas. Desafiados, os palestrantes renderam-se às causas, entre tantas, a falta do projeto executivo na fase licitatória, que é, de per si, a grande causadora dos problemas que ocorrem posteriormente.

O assunto recebeu uma complementação espetacular na apresentação do presidente do Sinaenco(SP), José Roberto Bernasconi, recém-chegado de Londres, onde testemunhou: No dia seguinte à escolha daquela cidade para sediar os Jogos Olímpicos de 2012, foi constituída a comissão que elaboraria e acompanharia a execução de todo o complexo que abrigará os jogos.

Foram, nas palavras de Bernasconi, um ano e meio, de trabalho de planejamento, com modificações, mais um ano e meio na preparação dos projetos executivos, finalmente a contratação e execução, que – pasmem – será entregue um ano antes do prazo.

A produtividade na construção pesada é escrava desse binômio PLANEJAMENTO e PROJETO EXECUTIVO, o qual irresponsavelmente continuamos a ignorar. Se margens de contribuição altíssimas permitiram desprezar esse ponto angular do tema, porque não nos perguntarmos: Quanto mais seria o ganho, quanto mais conhecimento e tecnologia poderíamos ter utilizado?

Muito bem. Profissionais e professores que se interessaram em resolver esse problema, há décadas, também presentes em países desenvolvidos, e mais recentemente no Brasil, estarão conosco nesta cruzada que começa neste primeiro artigo, de outros cinco que se sucederão, e que culminarão com um seminário Internacional para discussão e proposição de soluções até o meio do próximo ano. O ponto de partida, implica a apresentação de uma agenda, sucinta e muito objetiva, que pretendemos esteja representada nas perguntas e ou proposições a seguir:

Teoria da produção: Que tipo de produção é essa na construção pesada? Aqui serão discutidos fundamentos, aplicação na construção, o que é básico e o que é obsoleto, e por fim, para nos perguntarmos: Precisamos de uma Teoria para a gestão da produção na Construção Pesada?

O que há de novo no planejamento e gestão da produção: Aqui examinaremos as mudanças estruturais, práticas e comportamentos que possam estar influindo negativamente nesse processo, mas também trataremos das experiências bem sucedidas com ferramentas espetaculares como o Last Planner, o BIM, e todo o arsenal informático à nossa disposição.
Como mudar? Uma vez delimitadas as “complexidades” como define o Professor Lauri Koskela, analisadas as peculiaridades do setor e dos aspectos inerentes à produção,o que é necessário ou não, decidiremos as propostas, que certamente passarão pelo treinamento e atualização de profissionais, a maneira como pensam, etc. A partir daí, iremos desembarcar num grande seminário que traga no seu bojo, muitas provocações, mas também muitas idéias e testemunhos.

Grande parte da bibliografia utilizada será do arquivo do professor Dr. Lauri Koskela e seu grupo que nominaremos a cada citação. Estão convidados, o professor dr. Herman Glenn Ballard, o professor dr. Carlos Torres Formoso, o professor dr. Lúcio Sobelman um grande conhecedor de BIM (Building Information Modeling), a professora dra. Sheyla M.B. Serra, e muitos outros, que oxalá confirmem suas participações no Seminário do próximo ano.

Não deixaremos de ter “cases” para apresentarmos ao fim desta campanha, no seminário, e entre eles, um pelo menos local, que nos dê munição suficiente para provocarmos uma verdadeira ebulição sobre o assunto, no setor.

Também não será de forma passiva que o leitor e interessado no assunto vai pacientemente lendo o assunto nas edições projetadas, você poderá participar ativamente através do site: www.produtividadenaconstrucaopesadal.com.br, enviando suas perguntas, dúvidas, proposições e exemplos, de tal modo que ao fim deste programa, tenhamos uma agenda técnica enriquecida também pela sua contribuição.

Para encerrar este primeiro artigo, vamos lançar um desafio: Queremos discutir o entendimento da produção na construção pesada, não como uma transformação, mas sim como um fluxo, e, portanto, um movimento contínuo de tarefas realizadas e não realizadas, que farão a introdução destes conceitos todos, que serão estudados profundamente no Seminário, mas que a cada edição serão aqui sinteticamente apresentados e discutidos.
Fonte: Estadão


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