De olho na China e no mercado interno

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Regina Ruivo

Parque siderúrgico nacional se expande com os olhos voltados para o exterior e as obras de infraestrutura no Brasil

Foi-se o cenário de crise de 2009. Foi-se 2010, quando as importações tiraram espaço do produto nacional. Em 2011, o mercado interno ficou favorável e a China continua uma boa compradora. As siderúrgicas retomaram seus programas de expansão e novas usinas estão saindo do papel.

“A Copa, os Jogos Olímpicos, o programa de habitação popular ‘Minha Casa, Minha Vida’ e os investimentos da cadeia de óleo e gás podem induzir que o consumo per capita passe para 200 kg/hab. em cinco anos, o que tem feito com que muitos investimentos saiam do papel. Mas é preciso enfrentar algumas questões, como a carga tributária que afeta a cadeia, problema agravado com o câmbio que exacerba as deficiências competitivas”, afirma Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil (IBr).

Segundo ele, a estimativa é que em 2011 a produção de aço bruto atinja 39,5 milhões t, representando um crescimento de 20% em relação ao ano passado, sendo que as vendas internas deverão aumentar 16%, com 24,6 milhões t. E as exportações também serão beneficiadas, com elevação de 42%, atingindo US$ 8,2 bilhões e 12,8 milhões t. Já as importações – que no passado atingiram cerca de 5% do mercado e em 2010 chegaram a responder por uma fatia de 20% — devem cair 42% (3,4 milhões t).

Nos primeiros quatro meses do ano, os números foram muito animadores: a produção de aço bruto cresceu 7,5% e a de laminados, 0,9% em relação ao mesmo período de 2010. As vendas internas cresceram 6,3% e as exportações, 30,7% em volume e 68,1% em valor.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima que até 2014 devem ser investidos R$ 33 bilhões pelo setor. A avaliação da instituição é baseada na redução das pressões sobre os preços das commodities, as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os megaeventos esportivos programados para 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Jogos Olímpicos) no Brasil e ao crescimento do mercado imobiliário.

Mais 18,5 milhões t/ano

Na opinião de José Carlos Martins, diretor-executivo de Marketing, Vendas e Estratégia da Vale, “o retorno, a longo prazo, da siderurgia brasileira é superior ao mundial e também fica acima dos obtidos com a mineração. Além disso, se pensarmos nos próximos 10 anos, o Brasil já tem um déficit estrutural de aço. Existe umconsenso que o País está no caminho certo”.

Embora as estimativas sejam positivas, a direção do IABr aponta que a capacidade instalada do setor irá superar em 50% o consumo de aço no País. Hoje, as siderúrgicas brasileiras têm condição de produzir 47,4 milhões t de aço bruto, número que deverá aumentar para 55 milhões t até 2015, com os novos investimentos divulgados.

O conjunto dos projetos siderúrgicos desenvolvidos pela Vale representa investimentos de US$ 21 bilhões e mais de 80 mil empregos na implantação. Depois de prontas, as novas usinas acrescentarão 18,5 milhões t/ano à produção siderúrgica nacional. Seu programa compreende a finalização da instalação da usina Thyssen Krupp CSA Siderúrgica do Atlântico, localizada em Santa Cruz (RJ), com capacidade de produção de 5 milhões t/ano de placas de aço. O empreendimento é composto de dois altos-fornos e aciaria, porto, coqueria e usina e representa investimento de € 5,2 bilhões.

Em outubro de 2010, a TKCSA embarcou o primeiro carregamento de placas de aço produzidas – 40 mil t -, para o Alabama, Estados Unidos, onde a Thyssen Krupp irá inaugurar em dezembro uma unidade de laminação. Quando as operações da siderúrgica alcançarem a capacidade total, a companhia passará a enviar 3 milhões t ao Alabama e, os 2 milhões t restantes, para a unidade da Thyssen Krupp na Alemanha. Isto deve ocorrer em setembro, 14 meses após a usina ter sido posta em marcha. O cronograma de acionamento está em operação e atualmente estão sendo produzidas cerca de 10 mil t diárias, dois terços da capacidade máxima prevista.

Sistema integrado

A Aços Laminados do Pará (Alpa) tem operação prevista para novembro de 2013, encontrando-se em obras de terraplenagem. Situada no Distrito Industrial de Marabá (PA), terá capacidade produtiva de 2,5 milhões t/ano de placas. A Licença Prévia (LP) foi recebida no dia 31 de março deste ano e, logo depois, a Licença de Instalação (LI) para a terraplenagem. Os investimentos são de US$ 3,2 bilhões, com 16 mil funcionários na implantação.

Trata-se de um investimento integral da Vale e, com seu funcionamento, o minério de ferro extraído das minas de Carajás, em Parauapebas, também no Pará, trará vantagens competitivas para o Estado. Além da usina, o empreendimento é formado por um sistema totalmente integrado, que contempla a execução de acesso ferroviário, para receber o minério de Carajás, e de terminal fluvial no rio Tocantins, para receber carvão mineral e escoar a produção siderúrgica até o terminal portuário de Vila do Conde, em Barcarena (PA).

Em novembro de 2009, a companhia e a Aço Cearense assinaram um memorando de entendimentos, para implantação das linhas de laminação da Alpa, que serão constituídas de bobinas a quente (710 mil t/ano) e a frio (450 mil t/ano) e galvanizados (150 mil t/ano).

Parceria com sul-coreanas

A Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) é outro importante projeto que começa a sair do papel: a terraplenagem começou em junho e será finalizada em dezembro, em uma área que compreende 980 ha. As fundações devem começar em seguida. A previsão da Vale é que a obra fique concluída em 2014. Trata-se de uma parceria da companhia com a sul-coreana Dongkuk para produção de placas de aço no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CE). A usina produzirá, numa primeira etapa (dezembro de 2014), 3 milhões t/ano de placas de aço para exportação, passando a 6 milhões t na segunda fase.

Os investimentos estimados para a implantação são de US$ 4 bilhões na primeira etapa, reunindo 15 mil funcionários durante os trabalhos de construção. A Vale detém 50% do empreendimento e as sul-coreanas Dongkuk e Posco têm, respectivamente, 30

e 20%. As obras estão a cargo da Posco Engeneiring and Constructions, braço construtor da Posco e consumirão recursos de cerca de US$ 4,5 bilhões.

Outros 5 milhões t

A Companhia Siderúrgica Ubu (CSU) nasceu com o fim do projeto BV Steel no Maranhão. Posteriormente, Baosteel e Vale tornaram-se parceiras no desenvolvimento de um projeto de uma usina para produção de placas em Anchieta (ES), a Companhia Siderúrgica Vitória (CSV), sendo que a Vale a assumiu-o depois, integralmente, mudando seu nome para Companhia Siderúrgica Ubu (CSU).

O empreendimento já foi aprovado para a emissão da Licença Prévia (LP) em março de 2011. A CSU receberá US$ 6,2 bilhões, gerando 20 mil empregos na implantação. Sua capacidade será de 5 milhões t/ano de placas de aço, entrando em operação em 2014.

Start up em breve

A unidade de Monlevade (MG) é hoje o principal investimento do grupo Arcelor Mittal no Brasil, passando por processo de expansão que visa dobrar a produção de 1,2 milhão t para 2,4 milhões t/ano de aço bruto. O projeto está orçado em US$ 1,2 bilhão e, em 2011, o desembolso será de aproximadamente US$ 480 milhões. As obras estão em execução e o start up está previsto para o segundo semestre de 2012.

A expansão inclui a construção de uma nova unidade de sinterização, para aumentar a capacidade de produção de sínter de 1,75 milhão t para 4,05 milhões t/ano; a construção de um novo alto-forno, com o objetivo de duplicar a produção atual de gusa de 1,12 milhão t para 2,24 milhão t/ano; a duplicação da capacidade de produção de tarugos da aciaria, que aumentará de 1,2 milhão t para 2,4 milhões t/ano; e a instalação de um terceiro laminador, com o qual a produção de fio-máquina será dobrada de 1,15 milhão t para 2,3 milhões t/ano.

Aumento de 40%

A companhia estuda o aumento da produção da usina Arcelor Mittal Cariacica, localizada no município de Cariacica (ES), que fabrica principalmente vergalhões para o setor da construção civil. Sua capacidade produtiva é de 600 mil t/ano de aços longos e, com um novo laminador, poderá aumentar a produção em 40%.

Expansão e novo laminador

Por sua vez, a Arcelor Mittal Tubarão (antiga CST) investirá US$ 50 milhões este ano para ampliar a capacidade de seu laminador de tiras a quente para 4,6 milhões t/ano. Hoje, o equipamento produz 4 milhões t. Também será construído um novo pátio para resfriamento de bobinas, com a finalidade de agilizar o processo produtivo e o fluxo operacional da empresa, para atendimento da crescente demanda dos mercados nacionais de automóveis, linha branca e construção civil. As obras deverão ser iniciadas no final do ano.

A companhia ainda avalia a possibilidade de destinar US$ 1 bilhão até 2012 para um novo laminador de tiras a quente para produção de bobinas na usina localizada em Serra (ES). A matéria-prima atenderá à crescente demanda dos mercados internos de construção civil, gás e rodas para automóveis. Segundo a Arcelor Mittal, a expectativa é iniciar as obras no próximo ano e a operação, em 2014.

Três linhas

A ArcelorMittal Vega, que é subsidiária da divisão de aços planos da Arcelor Mittal Brasil, receberá investimentos da ordem de US$ 300 milhões para uma nova linha de aços planos galvanizados em São Francisco do Sul (SC). A unidade terá capacidade para 550 mil t/ano de aço galvanizado e 100 mil t/ano de laminado a frio. As operações de compra dos equipamentos e de contratação de parceiros para as obras e a montagem deverão ser concluídas até o final do ano, estando a inauguração programada para 2013.

A empresa concluiu, no final de 2010, sua segunda linha de galvanização. A intervenção propiciou um aumentou de 40% na capacidade de produção, que equivalem a mais 360 mil t/ano, perfazendo 1,4 milhão t/ano. Com a decisão de investir na terceira linha, a Arcelor Mittal Vega atingirá capacidade em torno de 2 milhões t/ano de aços planos, sendo 75% de aço galvanizado e 25% de laminados a frio.

Investimentos em São Paulo

A Gerdau anunciou em maio a aplicação de recursos no valor de R$ 718 milhões para expandir sua usina de aços especiais para o mercado automotivo, em Pindamonhangaba (SP), e construir uma nova fábrica de produtos prontos para uso na construção civil na mesma cidade; e ainda implementar melhorias na laminação da usina de Araçariguama, também em São Paulo, para instalar nova linha de produtos para construção civil.

A empresa afirma que a decisão de investir em São Paulo foi impulsionada pela expansão da demanda da indústria automotiva e da construção civil.

Na usina existente será instalado novo laminador de aços especiais com capacidade de 500 mil t de barras redondas, que permitirá passar de 700 mil t de laminados produzidos para 1,2 milhão t. O novo equipamento começará a operar em 2012, atendendo ao mercado brasileiro.

A nova fábrica de Pindamonhangaba, que ficará pronta em 2013, fabricará telas para concreto, tubos, colunas e especiais, malhas e treliças para construção civil. Em Araçariguama, será instalada uma nova linha de vergalhões GG-50, cuja entrada em operação ocorrerá em 2012.

Inovações tecnológicas

Em maio, a Usiminas inaugurou a segunda linha de galvanização por imersão a quente da Unigal Usiminas –joint ventureentre a companhia (70%) e aNippon Steel (30%), executada ao custo de R$ 914 milhões. Ela está situada na usina de Ipatinga (MG), em área de 25 mil m² e incrementa a capacidade produtiva anual de aço galvanizado por imersão a quente em 550 mil t, permitindo que a empresa atinja produção superior a 1 milhão t.

Com os investimentos, a Usiminas introduziu uma série de inovações tecnológicas, como a produção de aços da série Dual Phase com limite de resistência mínimo de até 1.000 MPa, para uso na construção de peças de reforço de veículos, de modo a atender crescente demanda do setor automobilístico, que busca soluções de aços galvanizados mais leves e mais resistentes, a fim de permitir o desenvolvimento de veículos também mais leves e com menor consumo de combustível.

Com a nova linha, passaram a ser colocados, à disposição do mercado, aços com espessura de até de 3 mm. Outra característica é a tecnologia d

e “Tratamento L”, desenvolvida pela Nippon Steel. Trata-se da aplicação de um filme inorgânico de baixíssima espessura para cobrir o aço galvanizado, dando-lhe melhor desempenho nos processos de estampagem, ajudando ao cliente a eliminar, no seu processo de conformação, situações críticas com grande geração de refugos.

Fonte: Estadão


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