Dinheiro curto atrasa projetos prioritários e causa apreensão

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Niterói, a capitalda indústria naval, é o maior empregador do segmento no País

Augusto Diniz – Niterói (RJ)

Niterói não é somente o lugar que tem a vista mais bonita do Rio de Janeiro, como costumam brincar os cariocas. Nem tampouco cidade-dormitório de quem trabalha na antiga capital federal. Ou ainda o principal polo de serviços e comércio do norte do Estado.

O município é o maior empregador da indústria naval no País. São 12 mil empregos diretos e 30 mil indiretos, com 14% do total da mão de obra do setor no Brasil, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval).

Há na região 10 estaleiros, dos 42 de grande porte existentes no Brasil. A maior parte deles trabalha para a Petrobras e subsidiárias e prestadores de serviço da estatal – são mais de 50 encomendas em carteira que envolvem projetos até 2020.

Elízio Fonseca, presidente da Associação Conselho Empresarial Naval-Offshore e Serviços de Niterói (Asscenon), afirma que o segmento está preocupado com a falta de dinheiro em caixa da Petrobras, o que tem atrasado pagamentos e projetos da empresa. Mas afirma não haver ainda demissão na área.

“A indústria naval é muito cara e de longo prazo. Não temos armadores no Brasil. Há uma dependência da Petrobras. Por conta dessa situação da estatal, estamos trabalhando com fluxo de caixa negativo. Isso é terrível”, explica o executivo. Ele acredita que somente a partir do início do ano que vem é que a situação deve começar a se normalizar na indústria, motivada pelos primeiros sinais de recuperação da indústria brasileira apresentados nesse meio de ano.

Elízio Fonseca, da Asscenon

Basicamente, os estaleiros de Niterói se dividem na construção de embarcação para a Transpetro (subsidiária da Petrobras), a partir do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef), e de módulos de plataformas de exploração de petróleo e embarcações de apoio.

Estaleiro Mauá

No caso do Promef, o principal estaleiro envolvido é o Mauá. O mais antigo estaleiro brasileiro, que pertenceu ao Barão de Mauá, já entregou três navios de produtos derivados de petróleo dentro do programa: Celso Furtado (o primeiro a entrar em operação no País a partir do programa), Sérgio Buarque de Holanda e Rômulo Almeida.

A empresa, até o final do ano, deve entregar mais um navio de produtos à Transpetro, o José Alencar, já lançado ao mar e em fase de acabamento. As quatro embarcações representaram investimentos de US$ 284 milhões.

O estaleiro Mauá também constrói a partir de seu cais outro petroleiro para a subsidiária da Petrobras, mas este deve ser entregue somente no ano que vem. O Anita Garibaldi é o primeiro de uma série de quatro do tipo panamax a ser construído pela companhia. A embarcação também já foi lançada ao mar.

O Mauá deve ainda entregar sete navios de produtos até 2020, perfazendo um total de 15 embarcações para a Transpetro.

O Promef é considerada a iniciativa que fez ressurgir a indústria naval brasileira. Com investimento de cerca de R$ 10 bilhões, o programa prevê a construção de 49 navios, com índice de nacionalização a partir de 65%. O Promef foi lançado em 2004, no primeiro governo Lula, que chegou a visitar Niterói seis vezes e torná-la o principal polo de construção naval do País.

Já o estaleiro Brasa, pertencente ao grupo SBM Offshore, faz módulos para plataforma em Niterói. Atualmente, ele constrói 10 deles para serem integrados à plataforma Cidade de Ilhabela do tipo FPSO (Floating Production Storage and Offloading;produção, armazenamento e transferência de óleo e gás) da Petrobras.

A UTC, que possui unidadeoffshoreem Niterói há mais de 30 anos, recentemente fez entrega de 10 módulos às plataformas FPSOs P58 e P62. Prevê-se para breve a construção pela empresa de módulos para as plataformas FPSOs P74 a P77.

O estaleiro Enaval, também em Niterói, monta atualmente conjunto de módulo de remoção de CO² para plataforma de exploração no pré-sal – cerca de 80% dos trabalhos já estão realizados. Este mês (julho), ele entrega parte do conjunto de módulos e até o final do ano o restante. Um terceiro conjunto de módulo de remoção de CO² já está contratado ao estaleiro.

O Enaval já havia montado conjunto de módulos de injeção e tratamento de água utilizado na plataforma FPSO Cidade de Paraty, a primeira em uso na exploração do pré-sal – a integração dos módulos foi feita pelo estaleiro BrasFELS, em Angra dos Reis (RJ).

Niterói conta ainda com os seguintes estaleiros com ativa carteira de encomendas (com alguns pedidos já entregues), segundo dados do Sinaval: STX OSV (embarcações de apoio tipos AHTS e PSV), Aliança (tipo PSV) e Enavi/Renavi (tipo bunker – navio de transporte de óleo). A Rolls-Royce também desenvolve módulos de energia em sua baseoffshoreno município. Há contratos da multinacional inglesa, por exemplo, para fornecimento de equipamentos para navios tipo OSRV (embarcação de apoio). O estaleiro São Miguel, no município vizinho de São Gonçalo, tem na carteira de encomendas três navios-bunker.

Canal de São Lourenço

O canal de São Lourenço, na Baía de Guanabara, é por onde embarcações de grande porte trafegam para chegar e sair dos estaleiros niteroienses. No entanto, ele encontra-se assoreado. A situação é um impeditivo ao crescimento da indústria naval local.

O estaleiro Brasa, por exemplo, que monta módulos para plataforma, não sabe se conseguirá remover as estruturas que estão construindo por conta disso.

Obra de responsabilidade do governo ederal, o local precisa ser dragado. O material retirado já t
em até local para ser despejado. Mas ainda aguarda licença do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) para se fazer a licitação e iniciar o serviço.

Fonte: Revista O Empreiteiro


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