Por Gabriel Pereira, diretor de gerenciamento de projetos na Deerns Brasil
A engenharia sustentável emerge como resposta à intensificação da crise climática e com o objetivo de transformar a maneira como projetamos e construímos. As significativas mudanças enfrentadas pelo setor de engenharia refletem a demanda global crescente por soluções que combinem eficiência operacional e impacto ambiental reduzido. Atender a esses anseios tornou-se mais necessário dadas as práticas e as tecnologias inovadoras que estão facilitando e redefinindo os padrões construtivos e exigências regulatórias.
Tenho testemunhado como as práticas sustentáveis não apenas transformam projetos, mas também redefinem a maneira como empresas e comunidades enxergam o papel da engenharia no mundo. A busca por maior eficiência energética, pela redução de emissões de carbono e pelo uso responsável de recursos são diretrizes centrais na engenharia moderna.
Entre as soluções em destaque temos os edifícios net zero, que geram tanta energia quanto consomem; os materiais verdes, que minimizam impactos ambientais; e tecnologias de gestão inteligente que otimizam o uso de recursos.
Pensando no segmento de datacenters, essas práticas se tornam essenciais devido ao alto consumo de energia das instalações para esses fins. Percebemos uma maior procura por projetos aderentes a métricas e certificações sustentáveis visando conciliar as demandas do segmento com ações que reduzam a pegada de carbono do empreendimento durante a sua construção e operação.
O avanço na eficiência energética também tem sido impulsionado pelo desenvolvimento de soluções como resfriamento líquido para datacenters, free cooling (que utiliza o ar externo para climatização) e sistemas de gestão inteligente baseados em sensores IoT e IA. Integradas a fontes renováveis, como energia solar e eólica, essas práticas têm se tornado um diferencial para a redução da dependência de fontes de energia convencionais. No que podemos citar no campo dos materiais sustentáveis, opções como o concreto verde, que utiliza subprodutos industriais, e o aço reciclado, estão ganhando espaço. Biomateriais, incluindo madeiras certificadas, bambu e bioplásticos compostáveis, oferecem alternativas de menor impacto ambiental. Além disso, materiais de fase de mudança (PCMs) estão sendo aplicados para otimizar o conforto térmico de ambientes, reduzindo a necessidade de climatização artificial e o isolamento sustentável, feito de materiais reciclados ou renováveis como celulose, lã de ovelha e algodão.
Embora estejamos vivenciando um momento de progresso, implementar soluções sustentáveis em larga escala ainda apresenta desafios significativos. Entre eles estão o custo inicial elevado de novas tecnologias, a falta de padronização global, resistências culturais ou institucionais a mudanças, regulamentações desatualizadas e toda a complexidade técnica envolvida. Contudo, esses desafios também geram oportunidades para a inovação. Ao transformar obstáculos em impulsionadores de mudança, a engenharia tem o poder de liderar essa evolução não apenas reduzindo impactos ambientais, mas também criando cadeias de valor e fomentando a competitividade no mercado global. Empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento para tornar soluções sustentáveis mais acessíveis e eficientes ganharão vantagem competitiva. Em consequência disso, a capacitação de profissionais para lidar com novas tecnologias será essencial para acelerar essa transição.
Acredito que a sustentabilidade é extremamente importante para a prática da engenharia moderna, pois sua trajetória sólida na busca e implementação de soluções mostra que podemos percorrer esse caminho com excelência e ampliar continuamente nosso impacto em projetos que priorizam a eficiência de recursos e a inovação tecnológica, ao mesmo tempo em que integramos tecnologias emergentes e um profundo conhecimento técnico para entregar projetos que combinem valor econômico e benefícios ambientais.
Os próximos anos serão marcados pelo avanço dessas tecnologias que permitirão otimizar desde a fase de projeto até a operação das infraestruturas. O mercado de engenharia sustentável continuará evoluindo, com uma maior integração entre regulações ambientais e soluções inovadoras. Podemos prever um crescimento acelerado na demanda por soluções sustentáveis da mesma maneira que teremos regulamentações mais rigorosas e uma crescente conscientização ambiental que continuarão a impulsionar a adoção de práticas verdes.
Nesse cenário, empresas de consultoria e engenharia terão um papel extremamente importante ao atuar como facilitadoras na implementação de inovações e como líderes em educação sobre soluções sustentáveis ao trazer soluções técnicas viáveis e acessíveis para ajudar seus clientes a atingir metas de sustentabilidade, projetar edificações e sistemas eficientes, mas também fornecer estratégias para maximizar a vida útil dos ativos ao gerenciar recursos de forma inteligente e adaptar tecnologias às condições locais. Além disso, serão responsáveis por garantir que a transição para um futuro mais verde seja tanto técnica quanto economicamente viável ao ajudar a interpretar e implementar regulamentações e certificações ambientais.
A sustentabilidade na engenharia vai além de ser uma simples tendência – é um compromisso com o futuro do planeta. O mercado de engenharia sustentável evoluirá como um diferencial competitivo, no qual empresas que liderarem a inovação e a adoção de práticas sustentáveis ganharão relevância global, atraindo investimentos e criando padrões de referência. Esse movimento transformará a sustentabilidade – de uma obrigação regulatória em um pilar estratégico de negócios. Com a colaboração de empresas, governos e a sociedade, estamos não apenas adaptando o presente, mas construindo um futuro resiliente e equilibrado, no qual a engenharia se tornará protagonista e uma verdadeira força transformadora para um mundo mais verde.
