Apesar da duplicação da Rodovia dos Tamoios, acesso poderá ser empecilho ao crescimento do terminal
Augusto Diniz
São Paulo quer voltar a ser o grande catalisador do setor produtivo do País. Mas, para isso, precisa aumentar a sua competitividade em relação aos outros estados concorrentes. O incremento no modal hidroviário é uma das apostas para atrair mais empresas ao seu território. E a expansão do porto de São Sebastião, no Litoral Norte do Estado, é um dos principais exemplos dessa política. Diversas obras estão previstas no terminal.
“O modal hidroviário é a bola da vez. Os recursos são os maiores já aplicados nos últimos tempos”, explica o engenheiro naval Casemiro Tércio dos Reis Lima Carvalho, presidente da Companhia Docas de São Sebastião e Diretor do Departamento Hidroviário, ambos órgãos vinculados à Secretaria Estadual de Logística e Transportes do Estado de São Paulo.
Com o incremento na área, o Estado espera dar mais competitividade ao custo logístico em São Paulo e atender demanda reprimida no uso do modal. A unificação do ICMS nas transações interestaduais de produtos importados, para acabar com a guerra fiscal entre os estados, também deve favorecer o porto de São Sebastião.
A duplicação da Rodovia dos Tamoios (SP-099), que liga São José dos Campos a Caraguatatuba em uma extensão de 82 km, deverá ser o propulsor para que o terminal de São Sebastião alcance o crescimento desejado. “O sistema hidroviário não é igual ao rodoviário ou ferroviário, que se constrói no local onde se oferece mais vantagens. A hidrovia depende de conexão com outros modais”, explica Carvalho.
O porto atende a dois polos industriais importante do País: o Vale do Paraíba e o Corredor de Campinas, que produzem mercadorias de alto valor agregado.
A duplicação da Tamoios está dividida em três partes. O trecho de planalto já está em obras. O contorno nos municípios de São Sebastião e Caraguatatuba deve em breve ter sua licença prévia liberada. O trecho de serra é o mais complicado porque, além do terreno acidentado e instável, atravessa reserva ambiental da Mata Atlântica. A licença para intervenções nesse trecho não tem ainda previsão de liberação.
“Com a duplicação, 14% do tráfego terá influência do porto”, afirma o presidente da Docas.
No entanto, o engenheiro Marcos Vendramini, consultor em transporte e logística hidroviária e diretor da Aecom, não vê com tanto otimismo a obra. “A visão do Estado é corretíssima. Porém, um real investido no porto representa investir dois ou três em acesso.
E somente a duplicação da rodovia não será suficiente”, analisa o especialista.
De acordo com Vendramini, a movimentação de carga prevista no porto de São Sebastião, até 2020, de 12 milhões de t, impactará de forma bastante significativa nas vias de acesso ao terminal. “O movimento de veículos já é muito ruim no local. Imagine depois, com o aumento considerável do tráfego de caminhões”, analisa. Ele acredita que um número aproximado de 100 caminhões por hora, em média, poderão circular na rodovia com a expansão do porto até 2020. “Trata-se de um índice alto”, diz. Ampliação do porto A Companhia Docas optou por fazer obras básicas no porto de São Sebastião antes de arrendá-lo ao setor privado. A área portuária passará dos atuais 400 mil m² para 1,2 milhão m².
Algumas pequenas obras já foram realizadas na área, mas as consideradas complexas devem começar ainda este ano. Está para ser aberta licitação para desenvolvimento de projeto básico e executivo para o pátio 4, com tecnologia para implantação de pilotis (estacas) e lajes. A Companhia Docas espera até o fim do ano para início das obras, com a liberação das licenças prévias. O investimento nesta fase está calculado em R$ 200 milhões.
Ainda dentro das obras previstas para os próximos anos, inclui-se a implantação de seis berços para grandes embarcações, com profundidade de 12 m a 18 m; instalação de oito berços para embarcações de menor porte (suppyboats), com profundidade de 8 m; e instalação de terminal turístico para navios de cruzeiros com área para recepção e acomodação de passageiros. Arrendamento Paralelamente, o governo de São Paulo realiza estudo de modelagem de arrendamento do porto, com análise da carga e espaço ocupado, e movimento esperado. “As regras de uso do arrendatário devem prever também investimentos totais na ordem de R$ 2,5 bilhões”, destaca Casemiro.
Os possíveis arrendatários incluem operadores de granéis líquidos, granéis sólidos, de contêineres, de veículos e de base de apoio para atuação offshore, este último notadamente por conta da exploração do pré-sal na Bacia de Santos.
O complexo de São Sebastião é integrado ainda pelo Terminal Almirante Barroso (Tebar), operado pela Petrobras, que é o maior terminal petrolífero da América Latina.
“As condições do porto de São Sebastião são excepcionais. Talvez as melhores do Brasil, junto com as do porto da Ponta da Madeira (MA).
Navios com grandes calados podem ancorar no local. Para navegação de cabotagem, é excelente”, conclui Marcos Vendramini.
Fonte: Padrão