Idealizado há mais de um século e com obras paradas há 17 anos, por falta de recursos, o projeto da Ferrovia Transnordestina pode finalmente ganhar o mundo real, graças a um financiamento de R$ 4,5 bilhões, com recursos do PAC – parte do governo e parte da iniciativa privada. O projeto, em sua concepção original, prevê a ligação ferroviária entre dois grandes portos do Nordeste (Pecém, em Fortaleza, e Suape, em Recife) e entre eles e a fronteira agrícola formada pelo sul do Piauí, norte do Tocantins, sul do Maranhão e noroeste da Bahia. A ferrovia terá a extensão de aproximadamente 1.800 km. Desse total, 650 km serão de ferrovia nova, a ser construída a partir do município de Missão Velha (CE), passando por Salgueiro(PE), Parnamirim (PE), Trindade (PE), Pedro Laurentino (PI) e Eliseu Martins (PI). Esses trechos novos se conectarão a outros existentes, que fazem parte da malha sob controle da concessionária Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), que por sua vez terão de ser recuperados ou readequados. Isso acontecerá com o trecho de 550 km, entre Salgueiro e Suape, e outro com 600 km, entre Missão Velha e Pecém. Uma vez concluída, a Transnordestina possibilitará o escoamento da produção de grãos do oeste baiano e do cerrado do Piauí, de frutas cultivadas no Vale do São Francisco, e da produção do pólo gesseiro de Araripina (PE). Em julho de 2006, foram reiniciadas pela CFN as obras no trecho entre Missão Velha e Salgueiro, com 110 km. Para este empreendimento, foi contratada a construtora EIT, pelo custo de R$ 245 milhões. Para efeito de execução, o trecho foi subdividido em três lotes. Mas somente a colocação da infra-estrutura do lote III é que foi iniciada, com previsão de conclusão em dezembro de 2007. Nos demais lotes foram concluídos os trabalhos de inspeção do solo e estão sendo realizados os processos de concorrência para execução de infra-estrutura, drenagem e construção de obras-de-arte. Paralelamente, as liberações ambientais e desapropriações estão sendo tratadas com os órgãos responsáveis. No final do ano passado, foi concluído, pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) e o governo de Pernambuco, o projeto executivo do trecho Salgueiro-Trindade, orçado em R$ 515 milhões. As obras deverão ser concluídas em um ano e meio, a partir da data em que forem iniciadas. No início de 2007, foram escolhidas as empresas responsáveis pela elaboração dos projetos executivos de outros três trechos da ferrovia. Os contratos foram fechados com a Enefer, que ficou encarregada de elaborar o projeto executivo entre Suape e Salgueiro; e a Concremat, que ficou com os outros dois trechos, entre Eliseu Martins e Trindade, e entre Missão Velha e Pecém. Para elaboração dos projetos, a CFN desembolsará R$ 30 milhões. A concessionária iniciou as obras da Transnordestina com recursos próprios (R$ 550 milhões), enquanto aguardava a liberação do dinheiro previsto pelo Governo Federal, que saiu quase seis meses depois das obras estarem em andamento. Até janeiro deste ano, a CNF tinha conseguido R$ 2,227 bilhões do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) e R$ 30 milhões do BNDES. Entretanto em, 4 de junho, o governo do Estado do Pernambuco e a CFN anunciaram a possibilidade de uma nova engenharia financeira para a execução do projeto. A Citic International Cooperation Co., terceira maior empresa em patrimônio da China, especialista na construção de ferrovias, pode ser uma das financiadoras da Transnordestina, investindo nas obras civis ou fornecendo trilhos, vagões, locomotivas e sistemas. As partes interessadas no acordo assinaram um protocolo de intenções que prevê a criação de um grupo de trabalho para definir, no prazo máximo de 90 dias, o papel de cada um no projeto. A entrada da Citic International Cooperation Co. poderá encurtar o cronograma das obras, cuja conclusão estava prevista, inicialmente, para o final de 2013.
Fonte: Estadão