Énecessário que essa verdade, cristalina, seja amplamente disseminada, até fixar-se, como uma marca, na consciência coletiva: a população, nos centros urbanos, no campo, nas mais diferentes atividades, sendo esta ou as próximas gerações, é a maior vítima de toda e qualquer corrupção praticada sob as mais diferentes artimanhas.
O dinheiro público, objeto da sanha dos que optam pelo caminho do enriquecimento ilícito a qualquer custo jamais deve ser desviado de sua destinação específica: servir ao público via contrapartida do oferecimento de serviços de qualidade ou mediante a execução de obras de infraestrutura que vão proporcionar garantia ao crescimento do País. Qualquer desvio, mínimo que seja, dos recursos do erário, é crime de lesa-cidadão ou lesa-nação.
O livro Dois Brasis, recentemente publicado pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), na oportunidade em que a entidade completava 50 anos de funcionamento, traz vários exemplos da importância da infraestrutura em muitos locais e nas mais diferentes regiões brasileiras. Ele registra que, aonde a infraestrutura chega, com estradas, ferrovias, saneamento, habitação, a vida se ilumina e a esperança renasce. Bastaria a citação desses exemplos para mostrarmos o quanto a inversão desses valores, provocada pela corrupção, se traduz em desespero e falta de perspectiva na vida de milhões de brasileiros, seja nas metrópoles, seja no menor dos municípios ou nos povoados mais remotos desse continente chamado Brasil.
As empresas de construção e engenharia constituem um patrimônio nacional, que começou a adquirir feição própria, conforme nos lembrou, uma vez, o professor Milton Vargas, um dos fundadores da Themag, depois da implantação da Companhia Siderúrgica Nacional. A CSN foi um divisor de águas na história da engenharia brasileira, que durante todo o tempo, em especial dos anos 1940 para cá, resistiu às adversidades impostas pelos ciclos econômicos surreais dos diversos governos que tivemos.
As empresas, contudo, sobreviveram à inflação galopante, ao advento das moedas novas, aos intermináveis atrasos de pagamento. Apesar disso tudo, consolidaram tecnologias, assimilaram as grandes inovações nas mais diversas áreas de atividades. Conquistaram a arte de construir grandes hidrelétricas, fizeram Brasília, abriram novas rodovias, algumas de padrão internacional; ergueram refinarias de petróleo e avançaram mar adentro para a exploração do petróleo na camada pré-sal.
Se analisarmos todos esses aspectos, vamos verificar que é absolutamente inaceitável que empresas detentoras dos níveis mais altos da engenharia, aqui e no exterior, tenham de se sujeitar à condição de uma máquina política administrativa viciada, que não conseguiu renovar seus usos e costumes desde o Império. Muitos dirão que até em países europeus e asiáticos, e mesmo nos Estados Unidos, ocorrem as mesmas coisas. Mas há uma diferença: em muitos desses países lá de fora, o agente público identificado e responsabilizado por delitos dessa natureza é penalizado, não apenas com a demissão, mas com a cadeia. E o mesmo acontece com os agentes privados coniventes com os atos de ilicitudes.
A propósito do tema, queremos registrar o pensamento do jurista Ives Gandra Martins, exposto em entrevista à revista O Empreiteiro: "…sempre encontram-se caminhos novos para contornar barreiras criadas para bloquear a corrupção. Nem por isso, deve-se desistir. Quando da Constituinte de 1988, propus transformar o Tribunal de Contas da União, num Tribunal Judiciário com poder de executar suas decisões, sendo, pois, um autêntico poder responsabilizador". Quem sabe devamos refletir sobre essa ideia de um dos mais importantes juristas do País, e defendê-la no conjunto de outros meios, na luta geral da sociedade contra as causas e os efeitos da corrupção endêmica.
A edição presente de O Empreiteiro, uma edição densa, com 482 páginas, a maior parte reportagens e opiniões sobre os mais diversos problemas nacionais brasileiros no âmbito da infraestrutura, traz o Ranking da Engenharia Brasileira e mostra, mais uma vez, o potencial de nossa engenharia, em todos os seus segmentos. É um documento elaborado sob a responsabilidade de uma revista que, neste ano, completa cinco décadas de atividades. A engenharia brasileira, em sua evolução, faz por merecer toda e qualquer esforço editorial, em favor de sua história.
Fonte: Estadão