Profundidade da Baía da Babitonga atrai investimento privado e cria terminal mais eficiente do País, na visão dos usuários
Lúcio Mattos – Joinville (SC)
Pouco depois de completar três anos de operação, o Porto Itapoá foi escolhido em agosto como o melhor do País pelos usuários, recebendo nota 8,9 em uma pesquisa realizada pelo Instituto Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain), que ouviu 169 empresas de 18 setores econômicos. O terminal ficou um ponto à frente do segundo colocado (Pecém, no Ceará) e mais de dois pontos adiante da média nacional (6,8). Especializado exclusivamente no transporte de contêineres, construído e controlado por capital privado, Itapoá tem planos arrojados de expansão, com o objetivo de quadruplicar sua capacidade de movimentação, que devem estar concluídos até meados de 2016.
A história teve início 21 anos atrás, quando o Grupo Battistella anunciou planos de construir um terminal portuário em Santa Catarina. A opção recaiu sobre Itapoá, então um pequeno município cujo maior atrativo aparente era o potencial balneário, encravado entre Curitiba (PR) e Joinville (SC), a maior cidade catarinense. Mas além da logística favorável, a escolha deu-se por um fator natural encoberto pelo mar: a profundidade e condições abrigadas da Baía da Babitonga ofereceriam a vantagem adicional de um calado de 16 m, o que permitiria receber navios maiores que os concorrentes da região. Para efeito de comparação, os terminais de Paranaguá (PR), São Francisco do Sul (SC), Itajaí (SC) e Navegantes (SC) têm calado de 12 m, enquanto Santos (SP), o maior do Brasil, opera com profundidade máxima de 13 m.
O terreno hoje ocupado pelo porto foi adquirido em julho de 1996, mas o longo trâmite burocrático de permissões e licenças ambientais fez com que as obras tivessem início apenas 11 anos depois, em 2007. Inaugurado em junho de 2011, depois de um investimento de R$ 500 milhões, o terminal hoje é controlado pela Portinvest (70%) e pela operadora marítima alemã Hamburg Sud (30%). O pioneiro Grupo Battistella é o maior sócio da operação, controlando 60% da Portinvest, o que equivale a 42% do negócio.
Se Itapoá trazia benefícios claros à operação pela sua localização – o porto está a confortáveis 80 km da capital paranaense e 140 km de Joinville -, o município também foi carregado pela onda de crescimento que o investimento provocou. A população mais que triplicou desde a aquisição do terreno, passando de 5,8 mil em 1996 para quase 17 mil em 2012, dados do último Censo. O PIB (Produto Interno Bruto) municipal avançou 80% desde o início das obras (em 2007), de R$ 108 milhões para R$ 197 milhões, em 2012, último dado disponível pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O Porto Itapoá gerou 700 empregos diretos e 2.000 indiretos para a cidade.
Apesar das vantagens logísticas e naturais, o tratamento ao cliente é apontado pelo presidente do porto, Patricio Junior, como o principal diferencial da operação. A agilidade nos processos documentais e alfandegários em Itapoá ajudam a fazer das transit times (tempo que uma carga leva entre chegar ao porto e ser entregue no destino final) as mais rápidas no País entre as dez rotas operadas pelo terminal.
“Você tem que se fazer viável para que o cliente conte com você”, afirma Junior, “Você precisa ser a solução”. No ano passado o terminal lançou o primeiro aplicativo para celulares entre os portos brasileiros, em que o usuário podia consultar a programação de navios através de um smartphone. Neste ano, o programa foi incrementado, transformado em um portal do cliente, em que é possível ver a localização de um contêiner específico, agendar carga ou transporte, além de outros serviços.
Novo ciclo
Um novo salto está previsto para Itapoá nos próximos dois anos, em parte impulsionado pelo crescimento econômico regional – um estudo da consultoria McKinsey, realizado em 2011, apontou a Região Norte de Santa Catarina como a área urbana brasileira com mais de meio milhão de moradores que mais vai crescer até 2025 -, em parte por um novo ciclo de investimentos que será realizado pelo porto.
Atualmente com capacidade de movimentar 500 mil TEUs (medida do contêiner padrão, de 20 pés) por ano, o terminal será ampliado para transportar quatro vezes mais, 2 milhões de TEUs anuais. Hoje há dois berços disponíveis, em um píer de 630 m de extensão. Após a expansão serão três, ao longo de 1.200 m de cais, que serão capazes de receber três navios de 350 m cada ao mesmo tempo – o equivalente ao comprimento de quase onze campos de futebol alinhados.
O píer também terá sua largura ampliada em quase 50% (de 43 m para 62 m) e uma segunda ponte de acesso será construída. Para acompanhar a ampliação, serão instalados oito novos portêineres Super-postPanamax, os guindastes utilizados para abastecer os maiores navios em operação nos oceanos, os Super-postPanamax, capazes de carregar fileiras de 22 contêineres ou mais, que recebem este nome por serem grandes demais para atravessar o Canal do Panamá, na América Central. Os novos equipamentos vão se juntar aos quatro já existentes, totalizando doze.
A área do pátio em que se armazena a carga será triplicada, dos presentes 156 mil m² para 467 mil m². O investimento total no novo ciclo de expansão gira em torno de R$ 700 milhões e os trabalhos devem levar cerca de um ano e meio para ser concluídos.
Licença e dragagem
Apesar de privado, quando se trata das obras o Porto Itapoá não consegue desviar de alguns problemas crônicos de infraestrutura brasileiros. O complexo aguarda desde fevereiro a licença ambiental a ser concedida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para poder começar a expansão, assunto sobre o qual seu presidente tenta manter o otimismo: “Esperamos que saia até o final do ano, para que possamos começar no início do ano que vem”, afirma Junior.
Outra questão que preocupa é a falta de dragagem na Baía da Babitonga, o qu
e vem limitando uma das maiores vantagens competitivas de Itapoá: a profundidade. Embora os berços suportem navios com calado de até 16 m, na prática as embarcações estão sendo obrigadas a operar abaixo da capacidade total, em razão do canal de acesso, explica o presidente.
“O canal é estreito e tem uma curva de noventa graus, o que impede que os navios entrem e saiam do porto com capacidade máxima, ou de noite”, explica.
Na prática, as maiores embarcações precisam limitar o chamado calado operacional a 11 m e são forçadas a esperar pela combinação de maré favorável e período diurno para fazer as manobras. Para ter ideia do que isso significa, cada dez centímetros adicionais de calado permitem que um navio carregue mil contêineres a mais, de forma que a limitação tem impacto direto no valor dos fretes.
“É como um ônibus, se ele tem que carregar menos gente do que comporta, a passagem fica mais cara”, compara Junior. O problema está sendo negociado com a Secretaria Especial dos Portos, do governo federal, que teria de investir entre “R$ 200 milhões e R$ 300 milhões” na dragagem e retificação do canal, segundo o dirigente do porto, mas ainda não há solução à vista.
Não é a primeira vez que a dependência da esfera pública atrasa o investimento privado em Itapoá. O porto foi inaugurado em junho de 2011, mas a SC-416, estrada que garantiria acesso pavimentado direto ao terminal, só foi entregue pelo governo de Santa Catarina seis meses depois, em dezembro, quando o terminal já tinha recebido mais de cem navios.
São Francisco e Imbituba serão públicos por mais 25 anos
A Secretaria Especial dos Portos prorrogou por mais 25 anos a administração pública de dois complexos portuários de Santa Catarina, já sob responsabilidade do governo do Estado. O anúncio, feito em setembro, estende a gerência estadual sobre o Porto de São Francisco do Sul até 2036, e sobre o Porto de Imbituba até 2037.
“Eu vejo um modelo de sucesso, que está dando certo e pode ser um exemplo para o resto do País”, afirmou César Borges, o ministro-chefe da Secretaria. “A gestão é do Estado, mas a responsabilidade dos investimentos é compartilhada.”
A pesquisa do Instituto Ilos, no entanto, mostra a distância entre o desempenho dos terminais privados e públicos na Região Sul, pelo menos na visão dos usuários. Se o Porto Itapoá lidera na preferência, com nota 8,9, outro complexo particular, o Porto de Navegantes, é o terceiro mais bem avaliado do País, com nota 7,3.
A melhor estrutura portuária do Sul do País sob administração pública no ranking é o gaúcho Porto do Rio Grande, com nota 7,3, em quarto lugar na lista nacional. Os demais concorrentes de Itapoá, todos públicos, aparecem mais abaixo – o Porto de Itajaí é o sexto (nota 7,22), São Francisco do Sul é o oitavo (nota 6,86) e o paranaense Porto de Paranaguá ocupa o 13º lugar (nota 6,33).
Plano de expansão
– Investimento: R$ 700 milhões
– Prazo: 18 meses após o início das obras
– Objetivo: quadruplicar a capacidade de movimentação, dos atuais 500 mil TEUs/ano para 2 milhões de TEUs/ano
Obras:
– Construção do terceiro berço de atracação (hoje são 2)
– Extensão do píer para 1.200 m, com capacidade de receber
3 navios de 350 m ao mesmo tempo (hoje tem 630 m)
– Alargamento do píer de 43 m para 62 m
– Construção de uma segunda ponte de acesso ao píer
– Instalação de 8 novos portêineres Super-postPanamax
(hoje existem 4)
– Aumento da área do pátio de armazenagem para 467 mil m2 (hoje tem 156 mil m2)
Fonte: Porto Itapoá
Movimentação do Porto Itapoá
– Navios e contêineres nos últimos 12 meses
2013
Setembro – 42 / 23.177
Outubro – 55 / 31.614
Novembro – 48 / 25.119
Dezembro – 49 / 25.543
2014
Janeiro – 50 / 23.580
Fevereiro – 43 / 20.214
Março – 46 / 21.022
Abril – 42 / 23.393
Maio – 46 / 25.908
Junho – 45 / 26.846
Julho – 49 / 29.413
Agosto – 42 / 22.813
Fonte: Porto Itapoá
Rotas Marítimas do Porto Itapoá
– América do Sul
Brasil-Argentina-Chile-Peru-Equador
– Golfo do México
Brasil-Colômbia-México-EUA
– América do Norte
Argentina-Brasil-EUA
– Norte da Europa
Argentina-Uruguai-Brasil-Marrocos-França-Bélgica-Holanda-Alemanha-Inglaterra
– Mediterrâneo
Argentina-Uruguai-Brasil-Marrocos-Espanha-França-Itália
– Oriente Médio e Índia
Brasil-Ilhas Canárias-Marrocos-Espanha-Itália-Malta-Arábia Saudita-Emirados Árabes-Índia
– Ásia
Brasil-África do Sul-Cingapura-Malásia-China-Coreia do Sul
– Ásia II
Argentina-Uruguai-Brasil-África do Sul-Cingapura-Malásia-China
– Cabotagem-Brasil
Rio Grande-Itapoá-Santos-Sepetiba-Salvador-Suape-Pecém-São Luís-Manaus
– Cabotagem-Mercosul
Santos-Paranaguá-Itapoá-Imbituba-Rio Grande-Montevidéu-Zárate-Buenos Aires
Fonte: Porto Itapoá
Ranking dos portos
– Segundo pesquisa de avaliação dos usuários
1-Itapoá (SC) – Privado – 8,90
2-Pecém (CE) – Público – 7,90
3-Navegantes (SC) – Privado – 7,44
4-Rio Grande (RS) – Público – 7,30
5-Vitória (ES) – Público – 7,29
6-Itajaí (SC) – Público – 7,22
7-Suape (PE) – Público – 6,89
8-São Francisco do Sul (SC) – Público – 6,86
9-Itaguaí (RJ) – Público – 6,80
10-Rio de Janeiro (RJ) – Público – 6,72
11-Santos (SP) – Público – 6,36
12-Salvador (BA) – Público – 6,33
13-Paranaguá (PR) – Público – 6,33
Fonte: Revista O Empreiteiro