A Olimpíada de Londres vai marcar uma nova fase dos jogos olímpicos,
com projetos que precisam corresponder a novos conceitos de uso social das instalações, apesar da dificuldade dos organizadores em atender ao orçamento inicialmente previsto
O custo do estádio olímpico londrino, o dobro do estádio olímpico chinês, já foi reajustado mais de uma vez. Outros elementos, que viraram palavra de ordem em qualquer projeto atual, como obra sustentável, estão presentes no projeto. Mas, em tempos de crise econômica global, muitos se perguntam: "A que preço?"
O novo estádio olímpico da cidade – que já sediou jogos em 1908 e 1948 – localiza-se numa área à leste da cidade chamada Lower Lea Valley, em Stratford. Trata-se de uma antiga área industrial, a qual os jogos terão o papel de incorporar ao espaço urbano da cidade. A arena terá capacidade de receber até 80 mil pessoas durante os jogos, contando as cerimônias de abertura e encerramento (realizadas entre os dias 27 de julho e 12 de agosto de 2012), além das provas de atletismo e a Paraolimpíada, que ocorrerá em seguida.
Mas a característica principal do estádio, projetado pela Hok Sports Architects,, e de outras instalações, será o uso de estruturas temporárias, que possam ser desmontadas posteriormente ou transferidas para outros locais, evitando o famoso efeito "elefante branco" no período pós-jogos.
No caso do estádio olímpico, o projeto previu camadas – como numa musculatura humano – composta de cobertura sintética sobre estrutura metálica, que compõe uma ala anexa a ser removida após os Jogos, reduzindo a capacidade do estádio para 25 mil visitantes. O teto provisório do novo estádio ficará preso por cabos, vestindo a estrutura metálica temporária. Esse invólucro será a base de uma espécie de tecido impermeável, porém inflamável, que tem exigido estudos sobre o posicionamento da pira olímpica, que pela primeira vez pode ficar do lado de fora do estádio.
O objetivo é evitar o que aconteceu com o estádio Olímpico de Beijing,na China, que está ocioso. Por isso, lanchonetes e lojas serão montadas à volta do estádio e não debaixo das arquibancadas, como geralmente ocorre. A partir dessa abordagem, a ideia é que o estádio não seja usado exclusivamente para competições olímpicas. Para o arquiteto Rod Sheard, que também trabalhou no projeto australiano de Sydney´2000, o objetivo é que o estádio inglês atenda às expectativas do evento e depois permaneça como herança às futuras gerações, com um espaço de competição em alto nível, sem uma grande estrutura que fique ociosa, uma vez que a cidade de Londres já conta com o estádio de Wembley.
Mas o que foi pensado como legado pode tornar-se um problema, pois já surgem dúvidas sobre a futura destinação da arena, uma vez que os principais clubes de futebol rejeitaram-na por causa do seu tamanho acanhado e da exigência de manter a pista de atletismo em torno do campo, afastando a torcida dos jogadores numa partida de futebol. A redução da capacidade também não atende aos times da divisão principal do futebol inglês.
No projeto de candidatura, Londres comprometeu-se com o Comitê Olímpico Internacional (COI) a manter a pista de atletismo, como um legado para a cidade após os jogos, atraindo clubes de rúgbi ou times de futebol de divisões inferiores. A questão preocupa as autoridades locais: "Tenho reais preocupações que permanecerão até que alguém assuma o legado e apareça com o dinheiro", disse Dee Doocey, presidente da comissão de esportes e turismo da Câmara Municipal Londrina. A resposta da Agência de Desenvolvimento de Londres , responsável pelas instalações olímpicas, foi evasiva. "Depois de um detalhado trabalho sobre os usos posteriores para o estádio principal, estamos agora examinando um uso misto, com atletismo no centro, combinado ao uso educacional e comunitário. Este trabalho está em andamento e nenhuma decisão final foi tomada".
Os problemas não param por aí. Reajuste e incorporação de novos custos, levando inclusive os organizadores a desistirem da construção de alguns projetos; reação de diversas comunidades atingidas; a concentração de investimentos em algumas regiões da cidade; além de problemas com o logo – que precisou ser modificado – demonstram que os organizadores de uma cidade-sede olímpica precisam estar mais atentos à voz e aos interesses dos cidadãos. Um aviso que os planejadores e os três níveis de governo deveriam atentar para a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro – para não repetir o fiasco do Panamericano enquanto legado à população.
Fonte: Estadão