Que tipo de produção é essa na construção pesada?

Compartilhe esse conteúdo

Nesta primeira oportunidade de nos aprofundarmos na questão da produção ou produtividade na construção pesada, ou de obras de infraestruturas, como queiram, é importante darmos um passeio rápido pela Teoria da Produção. Nesse passeio queria convocar a boa vontade do leitor para que pudéssemos criar um ambiente no qual saibamos identificar que tipo de produção é a que temos em nossas obras? Será uma transformação como enseja o ensinamento teórico universal de produção, ou seja, ao misturarmos agregados, areia, cimento, água e aditivos, "transformamos" esses materiais em uma peça de concreto, conformada? Ou, na realidade temos um "fluxo" de atividades numa sequência lógica, que requer um controle de prováveis falhas, que eventualmente venham a interromper o fluxo?
Hoje e há muito tempo nós insistimos em entender a produção em nossas obras como uma "transformação" e não como um "fluxo". Quando pensamos em transformação acabamos intrinsecamente conduzindo nossa mente para a "idealização" (Koskela), só que dentro de obras complexas como são as de infraestruturas, isso pode se transformar num desastre, e o pior, tem se transformado num desastre.
Políticos que nos empurram prazos goela abaixo, projetos que chegam quando até já executamos o que ali está projetado, tribunais de conta num vigília diuturna, órgãos de trânsito coibindo nossos avanços, sub-empreiteiros pouco comprometidos com nossos objetivos, a metereologia, sem surpresas nos incomodando desde Novembro até que as águas de Março fechem o Verão, e aí também, como em qualquer lugar do mundo, o dinheiro do nosso contratante, o governo, que acaba em Setembro e só volta em Abril, só para citar alguns problemas, numa roda viva macabra, que não pode nos encontrar "idealizando", mas sim, tocando tarefas num ritmo ou "fluxo" calculado, com previsões de falhas e as possíveis mitigações para coibi-las, me parece o único caminho para essa correção.
Num primeiro plano desta jornada de produtividade, vou emprestar da Engenharia Mecânica uma ferramenta interessante a meu ver, o FMEA (Failure Mode Effect Analysis) ou se me permitirem Módulo de Análise de Falha e Efeito, que vem sendo largamente utilizada para melhorar a qualidade dos serviços.
Ora, as obras que fazemos o que são? Prestação de Serviços, portanto, lanço o desafio, para o nosso seminário final, lá teremos alguém falando de como evitar falhas, com a prevenção e mitigação baseada no FMEA.
É um desafio, eu sei, mas já que os projetos executivos por muito tempo (uma pena) ainda não chegarão as nossas mãos durante a fase orçamentária e de preparação de nossas propostas para participar das licitações, então, vamos esquecer a transformação e a maneira idealizadora que ela enseja, e vamos sim, nos transformarmos, em "tarefeiros".
Nesta fase ainda sonho com sentar de manhã com a equipe (e eu falo dos encarregados, operários, nossos engenheiros) e listar as tarefas do dia, cobrá-las duas ou três vezes, e ao fim do dia, um "debriefing" ou seja, um lavar de roupas saudáveis, para rechear nosso FMEA, e nos programarmos para outra jornada no dia seguinte.
Assim, retomar as definições imutáveis dos grandes mestres da Produção, seria desnecessário, no nosso setor, como me disse um Professor Mian (apelido) da UFSCar, nós ainda estamos na época Pré-Taylorista. Assim, pode-se concluir, que talvez não precisemos de uma Teoria, precisamos sim, distinguir o que está obsoleto do que é básico, vamos trabalhar no "basicão", mas com uma ordem de tarefas, que vocês vão ter oportunidade de ver aqui introduzidas e posteriormente ensinadas em Seminário, que a Ferramenta LAST PLANNER, sobre a qual falaremos na próxima edição.
Para fechar, segue um gráfico super conhecido de espinha de peixe, que eu aceitei com o melhor apelido, os "6Ms", ou seja, Matéria Prima, Máquinas, Métodos, Medição, Meio Ambiente e Mão de Obra, veja se não tem tudo a ver conosco em nossas obras. Cada um desses Ms, todo dia, bate em nossas mesas com algumas "complexidades"que estouraram nossos prazos e custos. Uma máquina e equipe mobilizadas, e uma frente que não pode ser operada, é uma complexidade, quantas outras ele gera. Faça um exercício. O que fazer com aqueles homens, e máquinas? Você vai encher uma página e meia de problemas advindos dessa primeira falha.
Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário