Retrocesso nos programas para despoluição dos rios

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O generoso sonho de arquitetos, urbanistas, ambientalistas, humanistas e de todos os que possuem um mínimo de consciência de cidadania projeta um futuro menos degradante para o meio ambiente brasileiro, em especial os rios urbanos.

Penso em recente artigo da arquiteta Maria Cecília Barbieri Gorski, aqui publicado, em que ela enfoca a questão e antevê metas de despoluição do Tietê e do canal do rio Pinheiros, em São Paulo. Ela sonha e indaga: “E se começarmos imediatamente a coletar e tratar todo o esgoto doméstico? E se, em vez de aumentar as pistas das marginais, chegássemos ao ponto de suprimi-las? E se, em vez de despoluídos, os nossos rios voltassem a abrigar regatas, competições de natação, parques? E se o transporte fluvial se apresentar como uma solução intermodal no sistema de transporte coletivo?” E se…

Avanço um pouco mais nesse sonho da arquiteta, que tomo aqui de empréstimo, para ampliar a projeção para outros rios. O Jaguaribe, por exemplo, o principal de João Pessoa, que tem sofrido impactos ambientais de todas as amplitudes e latitudes e que, em alguns trechos, vira depósito de toda sorte de resíduos; o Mandaú, em Alagoas; o Beberibe e o Capiberibe, em Pernambuco; o velho e histórico rio das Velhas, em Minas Gerais; o Paraíba do Sul, que banha São Paulo, Rio e Minas, e que vai recolhendo, por onde passa, carga nunca imaginada de esgotos, sobretudo doméstico; o rio Corrente, na Bahia, cenário em que o mestre Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany esculturava, até começo do século passado, as carrancas dos barcos colocados para transporte de gente e mantimentos ao longo do São Francisco – e que hoje só leva para lá a poluição que ajuda a envenenar as águas do rio da integração nacional; e o Tietê, em São Paulo, que é o espelho ampliado da degradação provocada pela maior metrópole da América Latina.

Para todos esses rios e para aqueles de grande importância no mapa das cidades brasileiras, incluindo o Amazonas, o Negro e os igarapés e todos os demais daquele continente ao Norte, os riscos da tragédia da poluição é a mesma, com um pormenor que envergonha a consciência coletiva: as autoridades do País assistem a esse processo erosivo, gradativo, de morte anunciada, de braços cruzados.

O retorno ao tema dos rios urbanos vem a propósito de um navegador, o Dan Robson, que tem circulado pelo rio Tietê e constatou: as promessas dos governantes para a melhoria da qualidade das águas do rio jamais saíram do papel. Tanto é, que de 2009 para cá, o volume da poluição ali apenas aumentou.

Para os que, diante dessa realidade, passam a não acreditar que salvar os rios brasileiros seja possível, deixo as palavras de um ambientalista que ainda não se rendeu de todo ao pessimismo e segundo o qual, para a tarefa nacional de despoluição desses imensos recursos hídricos, é necessário apenas começar. E começar assim: investir na limpeza de córregos; construir coletores-tronco; tratar as águas antes de lançá-las, com todo o lixo produzido pelo animal humano, nas águas correntes e, depois, tratar de recuperar o tempo perdido. A essa altura, a arquiteta não precisaria mais projetar um sonho. E, então, a expressão e se… ficaria como uma manifestação do passado.

Ponte estaiada na festa de Manaus

Manaus, que dia 24 de outubro próximo comemora 342 anos de fundação, incluiu na festa de aniversário a inauguração da Ponte Rio Negro, construída pelo consórcio Camargo Corrêa-Construbase, conforme projeto estrutural elaborado pelo engenheiro Catão Ribeiro, da Enescil. À frente dos trabalhos esteve o engenheiro Henrique Domingues, da Camargo. A obra deveria ter sido entregue no segundo semestre do ano passado.

Frase da coluna

“O Regime Diferenciado de Contratações (RDC), instrumento destinado a dar agilidade às aquisições de bens e serviços vinculados à Copa de 2014 e à Olimpíada de 2016, pode trazer prejuízos aos cofres públicos, abrindo brechas à corrupção e à má qualidade dos empreendimentos.

De Marcos Túlio de Melo, presidente do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea).

Fonte: Estadão


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