Rumo a 44 milhões T em 2008

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O setor de siderurgia manteve, em 2006, pelo quinto período consecutivo forte crescimento da produção para atendimento da demanda no mercado mundial de aço. A boa fase foi iniciada em 2001, após quase 30 anos de instabilidade, excesso de capacidade de produção, subsídios que distorciam a competição e barreiras comerciais que limitavam o comércio.

A reversão, ocorrida a partir de 2002, deve-se ao forte crescimento da demanda, recuperação dos preços e, sobretudo, ao crescimento da economia chinesa. A partir daí, o setor abriu-se para uma fase de fusões e aquisições.

Neste novo cenário global, a siderurgia brasileira manteve-se bem-posicionada, favorecida pela tecnologia, acesso às matérias-primas básicas e à cadeia de suprimentos, além do Real desvalorizado até o ano passado, o que alavancou as exportações. Segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), a capacidade de produção da indústria siderúrgica deverá saltar de 37 milhões t para 44 milhões t em 2008. Dados apontam para uma queda de 2,2% na produção de aço bruto em 2006, em relação a 2005 (no total de 30,9 milhões t). Porém, no que se refere a laminados, a produção de 23,6 milhões t foi recorde, com aumento de 4,6% em relação a 2005.

O consumo aparente cresceu 10,9%, atingindo 18,6 milhões t. A recuperação da demanda interna começou a ser percebida no segundo semestre do ano passado, registrando aumento de 9,9% no segmento de aços planos – que abastece os setores automotivo, máquinas industriais, utilidades domésticas e comerciais.

Em aços longos, o crescimento foi de 12,4%, refletindo o melhor desempenho da construção habitacional, enquanto as vendas de acabados e semi-acabados tiveram acréscimo de 10% em 2006, chegando a 17,7 milhões t em produtos siderúrgicos. As receitas do setor atingiram a marca de US$ 6,4 bilhões, segundo maior nível histórico, mantendo a siderurgia como uma das principais contribuintes para o saldo da balança comercial do País.

Para Rinaldo Campos Soares, presidente da Usiminas e Cosipa e presidente do Instituto Brasileiro de Siderurgia, o desafio para o Brasil será sua inserção nesse novo cenário global, marcado pela forte presença chinesa e alterações na distribuição geográfica da produção – com forte redução da participação dos países industriais desenvolvidos – dentre outros fatores. “No Brasil, país emergente, o ciclo de crescimento esperado para os próximos anos será certamente intensivo em aço, exigindo da siderurgia grande atenção para o suprimento adequado das cadeias produtivas internas”, enfatiza.

INVESTIDORES ESTRANGEIROS FOCAM O MERCADO EXTERNO

Por enquanto, os principais projetos anunciados estão mais voltados para os mercados externos (produção de semi-acabados – placas, blocos, tarugos), do que propriamente para o suprimento das cadeias internas de produção. “Para estas, serão necessárias investimentos em laminação que demandam pelo menos dois anos para o início efetivo de operação de novas plantas.

E estes só se realizarão diante de sinalizações concretas do crescimento econômico interno”, destaca Rinaldo Soares . Um destes projetos é a usina siderúrgica em construção da Thyssen Krupp, no litoral fluminense do Rio de Janeiro, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), considerada por muitos como a principal obra em execução atualmente no País.

Trata-se de um investimento de US$ 3 bilhões, liderado pela Thyssen com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Toda a produção será destinada às fábricas do grupo localizadas nos Estados Unidos e Europa.

Outro projeto de vulto é a usina siderúrgica Ceará Steel, no Ceará, com investimentos estimados em US$ 750 milhões.

O empreendimento é liderado por um pool multinacional de empresas, a Dongkuk, produtora coreana de chapas de aço, a italiana Danieli e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), fornecedora do minério e do transporte. Toda a produção será exportada para a Ásia, Estados Unidos e Europa, através de contratos de médio e longo prazo, dos quais 50% destinados a própria Dongkuk.

Lançada em 2005 com prazo para entrar em operação em 2009, só deverá estar pronta em 2010, assim que sejam solucionados alguns obstáculos para sua viabilização.(M.R.S) Depois de tudo acertado entre as empresas e o governo do Ceará, surgiu uma disputa em torno do custo do gás, subsidiado pela Petrobras.

O conflito gira em torno do fornecimento do insumo e tomou proporções em dezembro, quando a estatal manifestou a intenção de cobrar pelo gás natural US$ 5.80 BTU (Unidade Térmica Britânica) e não US$ 3.20, como firmado com o governo do Ceará em 1996, época em que o gás era cotado a cerca de US$ 3.

Segundo Ivã Bezerra, presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Ceará, as negociações avançaram com valor fechado em US$ 5 por milhão de BTU, “mas falta definir o índice de reajuste”. A criação de um pólo siderúrgico no Maranhão é o sonho que reúne o governo do estado, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e envolve a companhia chinesa Baosteel, a sul-coreana Posco e a alemã Thyssen-Krupp, com vistas à produção 22,5 milhões t de aço por ano, além de duas usinas para produção de ferro-gusa. Previsto para a Ilha de São Luís, próximo ao Porto de Itaqui, o empreendimento enfrenta a forte oposição dos ambientalistas, que temem o impacto que venha a ser causado pela emissão de 35,6 milhões t/ano de dióxido de carbono (CO²), principal responsável pelo efeito-estufa.

PONTAPÉ INICIAL NA INTERNACIONALIZAÇÃO

A soma global dos investimentos aplicados e previstos pela Usiminas, dentro do seu Plano de Desenvolvimento – Visão 2015, chega ao valor de US$ 8,4 bilhões.

O objetivo é a expansão da capacidade de produção de aço líquido da companhia em 5 milhões t/ano. Até 2015, o sistema Usiminas terá saltado dos seus atuais 9,5 milhões t/ano para 14,7 milhões t/ano. A idéia é consolidar a posição da empresa no mercado interno, com maior inserção no mercado internacional, além de definir uma estratégia de crescimento para cada uma das usinas, de acordo com as características de cada uma. Em Ipatinga, a produção se volta para as chapas grossas, laminados a frio e galvanizados para o setor automotivo.

Já em Cubatão, a produção é de laminados a quente e galvanizados para os setores de construção civil e linha branca. Na usina de Ipatinga, serão investidos US$ 4,3 bilhões em uma primeira etapa de projetos (implantação da Aciaria 3, da Coqueria 3, além de um programa de atualização tecnológica), e em um plano de expansão de 2,2 milhões t/ano de aço. Deste total, destaca-se ainda a produção de laminados para ainda mais valor ao mix: serão mais de 500 mil t de chapas grossas, 600 mil t de laminados a quente e 320 mil t de aço HDG, destinado principalmente ao mercado automotivo.

A previsão é que a usina de Ipatinga comece a operar neste novo patamar a partir de 2011. As vantagens em realizar esta expansão são as sinergias obtidas com as operações atuais, o menor risco operacional para o start-up e menores prazos para implantação.

Além disso, a Cosipa, a outra unidade do Sistema Usiminas, em Cubatão, SP, vai receber US$ 1,4 bilhão em investimentos, a fim de ampliar o foco da empresa para segmentos consumidores de aços mais nobres. Até 2010, a usina ganhará um novo laminador, de última geração, com capacidade de processar até 4 milhões t/ano. O equipamento permitirá ao Sistema Usiminas ampliar a oferta de produtos de qualidade, inclusive laminados de maiores e menores espessuras.

Outros projetos previstos são a modernização da máquina de lingotamento contínuo e os programas de atualização tecnológica. Ao mesmo tempo, o Sistema Usiminas aprovou também uma segunda expansão de 3 milhões de t de placas/ano, com investimentos de US$ 2,7 bilhões. Os prazos e locais ainda serão definidos, embora a usina de Cubatão seja a primeira opção para sediar o projeto. O cronograma prevê o início da operação por volta de 2014. Essa expansão está diretamente ligada à estratégia de internacionalização do grupo, mediante a busca de oportunidades de laminação no exterior.

GERDAU COLHE RESULTADOS DA EXPANSÃO PELO EXTERIOR

A internacionalização do Grupo Gerdau contribuiu fortemente para os bons resultados que a empresa alcançou no primeiro trimestre do ano, na casa dos R$ 7,5 bilhões, superando em 13,5% os R$ 6,6 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior. A estratégia da Gerdau foi a aquisição de siderúrgicas pequenas em diversas partes do mundo. “Os números refletem nossa estratégia de crescer e posicionar o Grupo Gerdau como um dos mais rentáveis da siderurgia mundial”, destaca o diretor presidente, André Gerdau Johannpeter.

A empresa entrou no México em março deste ano, com a aquisição da Sidertul e coligadas, com capacidade para produzir 350 mil t/ano de aço. Essa capacidade será elevada para 500 mil t. As vendas físicas totais cresceram 11,1%, chegando a 4,1 milhões t de produtos siderúrgicos. A produção consolidada de aço (placas, blocos e tarugos) e de laminados (produtos finais, como vergalhões, barras e perfis) acompanhou o aumento das vendas e alcançou 4 milhões t (+7,7%) e 3,4 milhões t (+11,7%), respectivamente. No Brasil, as vendas físicas para o mercado interno evoluíram 1,5%, chegando a 995 mil t, o que resultou em um redirecionamento de parte das exportações, as quais foram de 596 mil t. O grupo Gerdau investiu US$ 381,9 milhões em atualização e expansão de suas plantas industriais no primeiro trimestre, sendo 71% dos recursos destinados às operações no Brasil, principalmente à expansão da Gerdau Açominas.

A usina, localizada em Ouro Branco (MG), terá sua capacidade de produção ampliada em 50%, passando de 3 milhões t para 4,5 milhões t no segundo semestre deste ano. As unidades dos Estados Unidos e Canadá receberam US$ 54 milhões, as da Argentina, Chile, Colômbia, Peru e Uruguai, US$ 23,2 milhões, e as da Espanha, US$ 35 milhões.

VM INVESTE R$ 1 BI VISANDO SETOR DA CONSTRUÇÃO

A Votorantim Metais anunciou em maio a construção de sua segunda usina siderúrgica no Brasil, com capacidade para produzir 1 milhão t de aços longos por ano. O empreendimento será dividido em duas etapas, de 500 mil t anuais cada, com investimento de R$ 850 milhões na primeira fase, que deve começar a operar em 2009. A construção da nova unidade está alinhada à estratégia de crescimento do negócio Aço da empresa, com uma planta já em operação em Barra Mansa (RJ) e a recente aquisição de 52% das ações da segunda maior siderúrgica da Colômbia, a Acerías Paz del Río. A nova planta utilizará a reciclagem de aço como principal fonte de matéria-prima e permitirá à VM atingir o volume de 1,7 milhão t anuais de aço. Dentre os produtos fabricados pela Votorantim Metais estão vergalhões, arames recozidos, telas eletrosoldadas, cantoneiras, perfis, fio-máquina e bobinas a quente.

O município de Resende foi escolhido por oferecer as melhores condições técnicas além da localização estratégica, próxima aos principais mercados consumidores brasileiros e com infra-estrutura rodoviária e ferroviária.

CSN DEVE INVESTIR US$ 6 BI EM NOVA USINA EM ITAGUAÍ

Cansada de esperar pelo capital chinês da Baoosteel, a CSN admite construir sozinha a usina de Itaguaí (RJ), o que permitirá à empresa triplicar a atual produção de aço de 4,5 milhões t/ano. A usina terá capacidade de 4,5 milhões t de placas com investimentos de US$ 3,1 bilhões e deve entrar em operação em setembro de 2009.

O anúncio foi feito por Enéas Garcia Diniz, diretor da área de Produção. Uma segunda usina, com capacidade para outros 4,5 milhões t, deverá ser instalada em Minas Gerais, com capacidade para produtos de maior valor agregado. O plano de expansão da empresa prevê também novas unidades em Portugal, onde já controla uma siderúrgica, e nos Estados Unidos, onde controla uma laminadora. (M.R.S)

Fonte: Estadão


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