Setor divide foco entre concessões e TAV

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Obras anunciadas pelo governo começam em 2013
Augusto Diniz

Oedital do Trem de Alta Velocidade (TAV) ligando Rio-São Paulo e as concessões ferroviárias a ser ofertadas no primeiro semestre de 2013, seguindo o Plano Nacional de Logística (PNL) anunciado pelo governo federal, são os temas preferidos hoje da indústria ferroviária. O TAV e as concessões devem movimentar pelo menos R$ 126 bilhões nos próximos anos. Não foi à toa que o assunto dominou a pauta das palestras e das conversas informais no principal evento do setor no País, a Feira Negócios nos Trilhos, realizada em São Paulo, no início de novembro.

Tanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) como a Valec, ambos subordinados ao Ministério dos Transportes, têm trabalhado para atender os estudos de viabilidade em elaboração pela Empresa de Planejamento e Logística (EPL) para execução do PNL. Serão 10 mil km de ferrovias construídos em parceria com empresas do setor privado por meio de concessões. De acordo com o projeto, seis trechos terão seus editais lançados em abril e mais seis em junho de 2013.

“Para realizar isso, é preciso integrar os programas dos órgãos do governo com a recém-criada EPL. A Valec tem um papel fundamental no processo”, explica Vicente Abate, presidente da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer). Enquanto o Dnit se concentra em construções de contorno, transposição de ramais e sinalização em áreas urbanas em todo o País, a Valec tem a concessão do governo para construção e operação das principais linhas férreas no Brasil, como a Norte-Sul e a Oeste-Leste. O Dnit também administra o espólio da Rede Ferroviária Federal (RFFSA).

Levantamento de engenharia

A construtora Andrade Gutierrez realizou, em 2010 e 2011, um detalhado levantamento do possível traçado do TAV brasileiro, entre São Paulo e Rio de Janeiro. O estudo aponta, por exemplo, a previsão de construção de 200 pontes e viadutos no trajeto, representando 160 km desse tipo de obra. A previsão também é de ter 100 túneis, perfazendo 110 km de passagem subterrânea.

Outros dados apresentados pela construtora é de que seriam usados 1 milhão de t de aço na obra. No total, 20 mil trabalhadores se envolveriam nos trabalhos. A linha cruzaria seis bacias hidrográficas.

O grupo de estudos foi integrado pelo engenheiro Marco Antônio Ladeira, que há 10 anos se envolve com o projeto TAV na Andrade Gutierrez. “De acordo com nossos cálculos, o projeto levaria oito anos para ficar pronto”, afirma. No entanto, no edital do governo, a previsão é de cinco anos de obras – embora o levantamento da Andrade Gutierrez tenha sido feito antes de conhecer as normas do atual edital.

De acordo com o engenheiro, é preciso fazer um estudo geológico cuidadoso ao longo do traçado, além de um cadastro de desapropriações e de interferências, como gasodutos, gás urbano, oleodutos e rodovias. “Calculamos que dezenas de concessionárias de serviços diversos estariam envolvidas. É preciso negociar com todo esse pessoal”, explica Marco Antônio.

Ele ainda lembrou da importância de seguir, durante os trabalhos, as normas da engenharia, além de se realizar homologações. “Imagine se acontece um problema. Como a Justiça irá se posicionar se não existir uma determinada norma técnica?”, questiona. “É preciso também saber o que vai se fazer com todo o volume de terra e rocha escavado, que não é pouca coisa”. De acordo com a Andrade Gutierrez, a obra do TAV ligando Rio-São Paulo poderá demandar serviço de escavação maior do que se exigiu para construir a hidrelétrica Itaipu, uma das maiores obras do mundo.

Olho estrangeiro no setor

A Arup, empresa global com 11 mil funcionários espalhados em 36 países, abriu recentemente escritórios em São Paulo e Rio de Janeiro. A empresa de projeto e consultoria tem 25% de suas receitas globais no setor ferroviário.

“Em cinco anos pretendemos ter 200 funcionários trabalhando em nossos escritórios, sendo que 40% focado na área de ferrovias”, afirma Ricardo Pittella, diretor da Arup no Brasil.

Steve Clark, líder dos negócios ferroviários da empresa nas Américas, aposta na larga experiência da organização para atuar fortemente no Brasil. “Temos conhecimento para agregar valor”, menciona.

Entre os principais projetos da Arup no mundo no setor ferroviário, incluem-se o trecho da Inglaterra do Eurotúnel (ligação ferroviária ligando a ilha britânica à França), a ligação expressa de Hong Kong para Guangzhou, o trem de alta velocidade entre São Francisco e Los Angeles (o primeiro do sistema nos Estados Unidos), além de várias estações ferroviárias em rotas de TAV.

Para o trem de alta velocidade no Brasil, Steve Clark sugere desenvolver inicialmente a linha ligando Campinas a São José dos Campos, via São Paulo. No Rio de Janeiro, o engenheiro propõe fazer uma ligação por trem expresso do aeroporto do Galeão à Zona Sul da cidade.

“O TAV brasileiro deveria ser feito por trechos. Primeiro se faria entre cidades populosas próximas com grande potencial de retorno aos investidores. Avaliados os resultados, aí, sim, se proporia a ligação entre Rio e São Paulo por um trem de alta velocidade”, explica.

Fonte: Padrão


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