Transnordestina: Projeto data do império e só tem 5,3% construído

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A ferrovia Transnordestina não deverá ficar pronta em 2010, como previsto inicialmente no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Pelo ritmo atual das obras, o projeto deverá atrasar. Em parte isso se deve à lentidão nos processos de licitação para serviços e fornecimentos. O período de chuvas na região, mais longo e intenso do que ocorre normalmente, também tem gerado impacto na execução dos serviços. Há dificuldades ainda relacionadas ao licenciamento ambiental, segundo informações do governo federal.
De 1,8 mil km de linha nova, prevista no projeto, apenas o trecho de cerca de 100 km, entre os municípios de Salgueiro, em Pernambuco, e Missão Velha, no Ceará, está em obras, nesse momento. Isso representa somente 5,3% do total previsto. Nesse trecho, as obras estão sob a responsabilidade da construtora EIT. Cerca de 80% da terraplanagem estão concluídos. Mas faltam as obras-de-arte (pontes e barragens, diques e muros) e dois túneis. Um deles passará por baixo da rodovia CE-293, perto da localidade de Café da Linha.
Em alguns pontos, foi feita a imprimação, da base sobre o qual serão instalados os trilhos. Foi aberta a picada para a construção do último trecho, entre os km 16 e o marco zero, no município de Salgueiro (PE).
Existe ainda outra frente de obras aberta, cujas intervenções estão paradas. Trata-se de numa extensão de 30 km, que partiu de Salgueiro para o Ceará. As obras já chegaram às proximidades da cidade cearense de Jati. As desapropriações de terra, que vinham atrasando as obras, foram aceleradas nos últimos meses de 2008. Os governos do Ceará, Piauí e Pernambuco fizeram um mutirão para articular o processo, cedendo funcionários dos seus próprios estados. Pernambuco, por exemplo, acionou sua Procuradoria para acelerar as desapropriações a serem feitas pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT).

Projeto da época do império

Pelo escopo do projeto, a ferrovia vai ligar o porto fluvial de Petrolina (PE) à Missão Velha (CE), onde se interligará a malha da CFN. Um segundo trecho projetado ligará o município cearense de Araripe e o Porto de Suape (PE). Essa via já foi apelidada de "ramal do gesso", pois servirá para transportar esse produto.
Os trabalhos de construção da Transnordestina foram iniciados em junho de 2006. Do custo total do empreendimento, avaliado em R$ 4,5 bilhões, apenas o equivalente a R$ 245 milhões está sendo aplicado. No final de 2006, foi concluído, pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT) e pelo governo de Pernambuco o projeto executivo do trecho Salgueiro-Trindade, orçado em R$ 515 milhões. As obras deveriam ser concluídas em um ano e meio. Mas até o momento não foram iniciadas.
Já no início de 2007 foram escolhidas as empresas responsáveis pela elaboração dos projetos executivos de três outros trechos da ferrovia: a Enefer, para o trecho Suape e Salgueiro; e a Concremat, que assumiu outros dois trechos – entre Eliseu Martins e Trindade, e entre Missão Velha e Pecém.
Para elaboração dos projetos, a CFN comprometeu-se a bancar R$ 30 milhões. A concessionária até iniciou as obras com recursos próprios, enquanto aguardava a liberação dos recursos previstos pelo Governo Federal.

Prejuízos financeiros e políticos

Considerada de fundamental importância para o desenvolvimento econômico do Nordeste e como fatos de redução dos custos logísticos na região, a Transnordestina existe enquanto projeto desde a época do Império. Hoje, toda a estrutura de movimentação de produção, tanto agrícola quanto industrial no Nordeste do País está baseada no transporte rodoviário. Além de facilitar a exportação, a nova ferrovia vai melhorar o fluxo de fertilizantes e combustíveis para o interior da região.
O modo ferroviário, em termos de custos operacionais, chega a custar apenas 50% do valor do frete rodoviário. Isso representa um diferencial bastante elevado, principalmente para transporte de commodities. Como a ferrovia vai ter condições de transportar até 30 milhões t, estima-se que ela não apenas vai possibilitar o escoamento da produção da região – soja, milho, biodiesel, frutas, álcool e também produção de minérios – como estimular o crescimento dessas cargas e captar novas mercadorias.
Além das obras, os R$ 4,5 bilhões previstos em investimentos na Transnordestina serão aplicados na compra de novos vagões e locomotivas e na recuperação de trechos da ferrovia existente – serviço que também está atrasado. Em abril de 2008 foi contratada a elaboração do projeto executivo da nova linha (sem financiamento aprovado) entre Nova Russas e Quixeramobim, no Ceará. O objetivo do governo do Estado é que esse percurso passe pela cidade de Santa Quitéria, para viabilizar a mina de urânio em Itataia.

Fonte: Estadão


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