Tudo estava escrito. E, se não havia conhecimento palpável para as constatações, havia a percepção, que é fruto da intuição e da sabedoria obtida com a experiência diária.
O mercado e os demais interessados poderiam, com facilidade, acessar os documentos do TCU, de outros órgãos do governo, a imprensa especializada, sobretudo esta revista, ou os jornais. Ao longo dos anos as notícias são de que proliferam obras superfaturadas. O preço explícito no edital, jamais seria o mesmo quando do início da obra. Ele muda mais do que as cores de um camaleão. Quando a obra chega à metade, o preço já corresponde ao dobro ou ao triplo daquele originalmente contratado. E, quando a obra acaba – se acaba – lá á vêmos famigerados aditivos. O sobrepreço enraizou-se na cultura das concorrências.
Uma mera consulta aos arquivos é suficiente para mostrar que o preço das obras da transposição do rio São Francisco, da ordem de R$ 3 ou R$ 4 bilhões há alguns anos, pulou para R$ 8,2 bilhões. O TCU apurou sobrepreço de R$ 876 milhões nas licitações e sobrepreço adicional de R$ 238 milhões em aditivos.
Se analisadas outras obras, dentre elas as da Petrobras, a coisa se complica. Tem-se aí o caso do gasoduto Urucu-Manaus. Obviamente se trata de uma obra complexa, com transposições de rios, vales, montanhas. Mas, se pulou de R$ 2,4 bilhõespara R$ 4,4 bilhões, algo inusitado aconteceu. Talvez uma revolta da natureza. E os fatos até hoje não foram suficientemente explicados.
Da mesma forma, subiramos preços de outras obras, algumas consideradas ícones recentes da estatal. A refinaria Abreu e Lima, que em 2005 custava US$ 2,3 bilhões, já estaria na casa dos US$ 23,1. Em outras obras de refinaria, dutos e gasodutos e aquisição de equipamentos, tais como plataformas e sondas,as coisas poderão ir longe. E muito dinheiro do BNDES rolou gramado afora, nas arenas esportivas construídas para inglês ver.
Um dia, essa sangria desatada dos recursos públicos poderia dar no que está dando. O rombo vai custar muito caro à Nação, em especial aos trabalhadores. São sempre eles – nós – que pagamos a conta.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira