Joseph Young
As vendas de escavadeiras hidráulicas na China voltaram a se aquecer em março último, ficando apenas 6% abaixo do total comercializado no mesmo mês de 2012, segundo relatório publicado pela JP Morgan, citado pela revista Engineering News Record. O resultado confirma processo de reversão de queda que chegou a 47% em janeiro e fevereiro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Os fabricantes chineses ampliaram ligeiramente suas participações no mercado chinês, com a Sany registrando avanço de 2,3% no primeiro trimestre, impulsionada por novos produtos e ênfase em modelos de menor porte. Aliás, escavadeiras pequenas mostram crescimento no mercado, respondendo por 54% das vendas totais neste período do ano.
A participação das marcas globais na China teve variações diferentes: enquanto Doosan, Komatsu e Hitachi registraram pequena perda, a Caterpillar avançou 0,2% no período. Ao contrário do mercado doméstico, as exportações chinesas de escavadeiras cresceram 68% no primeiro trimestre. A analista Ann Duignan, da JP Morgan, alerta, entretanto, que “o excesso de estoques de máquinas continua pressionando o mercado e esse quadro pode não se alterar ao longo do ano”.
A alta das vendas de escavadeiras coincide com o início da temporada de construção na China, que não se refletiu em outros segmentos de máquinas, como usinas e betoneiras para concreto e guindastes, que permanecem estagnados.
Economia cresceu 7,7% no trimestre
Segundo a revista The Economist, o crescimento de 7,7% do PIB da China no primeiro trimestre deste ano pode ter decepcionado alguns analistas. Há sinais contraditórios no mercado, como a oferta de 1,1 vaga para cada pretendente, a mais alta taxa desde o começo dos registros oficiais, em 2001. O crédito continua abundante, com uma oferta recorde em janeiro, nível que se repetiu em março. Há analistas que debitam esse crescimento abaixo das expectativas à campanha de austeridade iniciada pelo novo presidente, Xi Jinping, e aos efeitos da reintrodução do imposto de 20% sobre ganhos de capital, para coibir a especulação imobiliária.
É também política oficial do governo buscar mais qualidade e eficiência no crescimento, ao invés de maior volume físico, segundo informa o Bureau Nacional de Estatísticas. O investimento respondeu por apenas 30% do crescimento no trimestre, se comparado a cerca de 50% aferidos ao longo de 2012, contra 87% em 2009.
Se associarmos a participação do consumo de mais de 55% na taxa de crescimento de 7,7%, parece se consolidar a importância crescente deste em detrimento do investimento — algo considerado como desejável na economia chinesa, que há décadas avança à custa de investimentos públicos. Em 2011 e 2012, a parte do consumo na taxa de crescimento foi sempre superior à participação do investimento, informou a The Economist.
Esse crescimento do consumo se reflete também no mix da produção da economia chinesa. O setor de serviços contribuiu mais para o PIB do que a indústria pelo terceiro trimestre consecutivo. Esse setor, que ainda é pouco desenvolvido para as proporções da economia chinesa, abrangendo transporte, atacado, varejo, finanças e propriedades, pode terminar o ano como a atividade de maior peso para a economia.
IED coloca Europa em 1º e América do Sul em 3º
Em termos de Investimento Externo Direto (IED), a China continuou em 2012 privilegiando a Europa, vindo em seguida América do Norte, América do Sul, Oceania, África e Ásia. A Ásia foi a segunda colocada em 2011 e ocupa agora o último posto. A Europa recebeu US$ 12,6 bilhões em IED em 2012, 20% acima do ano anterior, variando os alvos entre empresas de alimentos e geradoras de energia, como a EDP, de Portugal.
A revista mostra que a invasão está se ampliando em diversos segmentos. O grupo Dalian Wanda surpreendeu Wall Street ao comprar a cadeia de cinemas AMC. Huawei, a gigante de telecomunicações chinesa, vai instalar a rede 4G para a operadora italiana Wind, ao custo de mais de US$ 1 bilhão. Vale lembrar que nos anos recentes a Sany comprou a alemã Putzsmeister, um dos líderes mundiais de bombas para concreto, a Zoomlion assumiu o controle da italiana Cifa neste mesmo segmento e a Liugong adquiriu uma fábrica de tratores de esteiras na Polônia.
Uma nova tendência destes investimentos diretos no exterior mostra claramente que a prioridade está se transferindo de commodities para serviços, refletindo as mudanças na economia chinesa, que desloca o foco das exportações de manufaturados para o consumo doméstico. Para ganhar a nova classe média em expansão, sem esquecer do mercado global, as empresas chinesas precisam de tecnologia e marcas conhecidas. Outra tendência é a disposição de comprar participações minoritárias, de modo que a operação continue nas mãos das equipes locais.
Mas nem tudo são flores na Europa. As queixas das empresas chinesas vão desde os sistemas legais diversos de país a país, idiomas múltiplos, leis trabalhistas que dão grande poder aos sindicatos e a demora de obter o visto para funcionários não europeus.
A The Economist revela que o destino favorito dos investidores chineses é Luxemburgo, onde formam holdings, com vantagens fiscais, além de rapidez para vistos e uso do inglês na documentação. O Brasil, que fala um único idioma, poderia se inspirar nesse exemplo. Mas é preciso alertar para a carga tributária exorbitante, a logística obsoleta e a regulamentação oficial em contínua mutação. Resumindo, uma concorrência desigual.
Fonte: Revista O Empreiteiro