Grupo chileno CMPC investirá R$ 25 bilhões para implantar em Barra do Ribeiro (RS) uma fábrica de celulose de última geração, com capacidade anual de 2,5 milhões de toneladas, e um terminal portuário para escoamento da produção. Baseada no conceito BAT (Best Available Technology) – que adota as soluções técnicas mais avançadas para maximizar eficiência e minimizar impactos ambientais –, a unidade promete equipamentos de ponta, alta eficiência energética e sistemas rigorosos de controle ambiental. As obras devem se iniciar no próximo ano, com conclusão prevista para 2029.
O foco na menor pegada ambiental norteia o empreendimento, que não por acaso foi batizado de Projeto Natureza CMPC. Em geral, uma fábrica de celulose, mesmo operando com tecnologias modernas, envolve riscos ambientais que precisam ser controlados. O processo industrial demanda grande volume de água e gera efluentes que, se não tratados adequadamente, podem alterar a qualidade dos rios e afetar ecossistemas aquáticos. Há também emissões atmosféricas de compostos como dióxido de enxofre e material particulado, além do risco de odores característicos do processo de polpação. Outro ponto sensível é a pressão sobre áreas florestais para o abastecimento de matéria-prima, que exige manejo responsável para evitar perda de biodiversidade e degradação do solo.
“A unidade de Barra do Ribeiro utilizará os mais altos padrões tecnológicos e adotará rigorosos mecanismos de controle ambiental, assim como já acontece na planta de Guaíba”, promete o diretor-geral de celulose da CMPC no Brasil, Antonio Lacerda. “Para isso, estamos trabalhando alicerçados pelo modelo BAT (Best Available Technology), em que buscamos os melhores equipamentos e inovações existentes no mundo para a composição dessa linha produtiva. Isso assegura que a operação estará próxima dos mais exigentes standards do setor industrial no Brasil e no mundo”, completa.
Ainda segundo o executivo, a CMPC é uma das indústrias de celulose com menor índice de uso de água por tonelada produzida. “Além disso, nosso sistema de tratamento terciário garante que a água devolvida seja mais limpa do que a captada. Para completar, a água também é um meio de transporte, pois 97% da nossa produção é escoada por hidrovia para o porto público de Rio Grande, onde é exportada para o mundo”, revela. Sob a perspectiva energética, “a CMPC deve ampliar o seu grau de autossuficiência com a execução da nova unidade, pois o modelo de produção de celulose que adotamos aproveita resíduos do próprio processo para gerar energia limpa”, completa.
O Projeto Natureza compreende a instalação de um parque industrial composto por uma planta com capacidade anual de 2,5 milhões de toneladas de celulose branqueada de eucalipto – matéria-prima para a fabricação de diferentes tipos de papéis, embalagens e produtos higiênicos, além de estar presente em itens como alimentos, medicamentos e cosméticos.
Desde o lançamento, em abril de 2024, o projeto já obteve a aprovação dos termos de referência para a elaboração do estudo de impacto ambiental e instalou o comitê de governança, responsável pelo monitoramento da nova unidade em Barra do Ribeiro. Atualmente, o projeto está na fase de obtenção das licenças necessárias, com início das obras previsto para 2026 e conclusão estimada para 2029.
Para a construção e operação da nova unidade da CMPC, a estimativa é gerar 12 mil empregos nas obras e 1,5 mil postos de trabalho permanentes, com foco na valorização da mão de obra local. Nesse sentido, está previsto um programa de capacitação para habilitar profissionais da região, garantindo que moradores próximos ao empreendimento possam integrar o projeto. “A CMPC possui histórico consolidado na formação de profissionais, como ocorreu na ampliação da unidade Guaíba em 2013, e mantém programas fixos de qualificação com forte reconhecimento no setor”, diz Lacerda. Entre as iniciativas estão o Curso Técnico de Manutenção de Máquinas Industriais, iniciado em 2025 e voltado exclusivamente para PCDs, e o Curso Técnico em Celulose e Papel, promovido em parceria com o Senai-RS.

INVESTIMENTO EM NOVO PORTO
Para o projeto, a empresa planeja a instalação de um novo terminal de uso privado no Porto de Rio Grande. De acordo com o diretor-geral, a proposta é que esse terminal seja coberto e ofereça um ganho de performance no embarque de celulose para exportação, uma vez que se fala de um considerável aumento de produção com a nova unidade. No Brasil, a CMPC produz 2,3 milhões de toneladas da matéria-prima por ano. Com a nova fábrica, a empresa vai mais do que dobrar a produção, o que impactará a movimentação de cargas no Rio Grande do Sul. “No protocolo de intenções assinado em 2024, a CMPC e o Estado preveem melhorias na infraestrutura logística local, como a modernização de rodovias e o incremento em operação portuária”, salienta Lacerda. A empresa também fará obras de dragagem e de ampliação da capacidade de armazenagem nos portos de Rio Grande e Pelotas.
De acordo com o executivo, estão planejadas obras de pavimentação asfáltica, melhorias em trevos de municípios e construção de novos acessos rodoviários para o Porto de Pelotas e para a Fazenda Barba Negra, de propriedade da empresa. “As melhorias facilitarão o fluxo de caminhões e reduzirão o percurso em áreas urbanas”, acredita o diretor-geral.
Com uma unidade industrial localizada em Guaíba (RS), a CMPC historicamente utiliza a hidrovia da Lagoa dos Patos para o transporte de cargas. Com um porto próprio em sua planta industrial, a empresa leva a celulose da região metropolitana de Porto Alegre até o Porto de Rio Grande. “A mesma barcaça se desloca para Pelotas, recebe madeira de eucalipto, que é plantada e colhida na região sul do Estado, e retorna até a unidade produtiva. Essa logística circular evita a realização de 100 mil viagens de caminhão por ano”, salienta Lacerda, lembrando que, em 2024, a organização foi responsável por mais de 40% da movimentação total por hidrovias no Rio Grande do Sul.
Segundo maior produtor mundial de celulose, o grupo chileno CMPC completou 105 anos de atuação e mantém mais de 17 mil colaboradores distribuídos por 46 unidades industriais em oito países da América Latina. No Brasil, está presente desde 2009, com a operação de celulose em Guaíba – já classificada como a maior indústria do Rio Grande do Sul pelo índice VPG (Valor Ponderado de Grandeza) – e emprega 6,6 mil profissionais em atividades industriais, florestais e portuárias. Em 2022, a companhia ampliou sua presença no País ao assumir três unidades industriais da Iguaçu Celulose e Papel, incorporando ao portfólio nacional sua terceira linha de negócios – embalagens sustentáveis (biopackaging), que se somam à produção de celulose e aos papéis tissue da marca Softys.





