Com cerca de 70% de execução, Ponte de Guaratuba chega à última estaca de fundação

Com cerca de 70% de execução, Ponte de Guaratuba chega à última estaca de fundação

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“Minha família sempre evitou vir para Guaratuba – PR, principalmente no verão, devido ao fluxo maior e pelo tempo de deslocamento das balsas. Agora, com essa ponte, a travessia que antes durava até 40 minutos será de apenas 2 minutos. Para mim é uma experiência enriquecedora participar de uma obra grandiosa e que eu sei que vai fazer a diferença na vida de muitas pessoas da cidade e no Paraná”, disse Rodrigo do Santos Zuza, engenheiro e auxiliar técnico na obra da Ponte Guaratuba. Zuza é morador do bairro Cabaraquara, na cidade onde está sendo construído o acesso e é um dos 935 colaboradores que está atuando no projeto.

A obra da Ponte Guaratuba é do Departamento de Estradas de Rodagem do Paraná, autarquia da Secretaria de Infraestrutura e Logística (SEIL) e está sendo executada pelo Consórcio Nova Ponte – que conta com as empresas Odebrecht (líder do consórcio), Carioca Engenharia e GELGoetze Lobato Engenharia.

A Ponte de Guaratuba se desenvolve na rodovia PR-412 e conta com uma extensão total de 3,07 km, somando os acessos que vão ligar o município de Matinhos a Guaratuba. Já o comprimento somente da estrutura da ponte é de 1.244 m, com largura útil mínima de 22,60 m, e as fundações são de cerca de 50 m de profundidade, sendo em média 30 m de lâmina d’água e 20 m de solo.

Prevista para ser concluída em abril de 2026, o acesso contará com quatro faixas de tráfego para os veículos, duas em cada sentido e faixas de segurança, e uma estrutura exclusiva de 3 m de largura com guarda-corpo de segurança para pedestres. Atualmente, a ligação entre Matinhos e Guaratuba é feita com ferry boats (balsas), como Zuza mencionou, e que serão desativados com a abertura da ponte.

No mês de agosto a obra alcançou 70% de execução e a revista O Empreiteiro foi convidada com exclusividade pelo Consórcio Nova Ponte para visitar a construção. A equipe de reportagem foi a primeira a passar de carro pelo tabuleiro recém concretado, concluído um dia antes da visita, no dia 06 de agosto.

Luciano Pizzato, diretor do contrato Consórcio Nova Ponte, contou como foi o início e os principais desafios do projeto. “Vencemos a licitação em dezembro de 2022 e, nessa época, o contrato já era regido pela nova legislação de licitações, contando, inclusive, com as novas exigências ambientais, o que, para nós, era um fator importante, pois a obra está em uma área cercada por áreas de Mata Atlântica. Após a assinatura, em 2023, trabalhamos pela LI – Licença de Instalação, a qual recebemos em abril de 2024”, relembrou Pizzatto.

Atualmente, segundo o diretor, dos R$ 386 milhões de investimentos previstos para a obra, R$ 299,5 milhões já foram aplicados. “Um dos nossos desafios no início foi a contratação de mão de obra, pela região ser litorânea e as características dela. O segundo, com certeza, foi o atendimento às exigências para minimizar o impacto ambiental, porque nossa região exige mais cuidados pela fauna marinha além da terrestre. Além de, claro, por ser uma obra sobre o mar, com fundações offshore, que enfrentam características geológicas próprias, onde levamos mais tempo de execução”, revelou.

COMO A OBRA FOI PENSADA

O projeto da estrutura civil da ponte foi planejado pela Outec Engenharia. Em entrevista, o fundador da Outec, engenheiro e professor do Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica na Escola Politécnica (Poli) da USP, Rui Oyamada, contou como a empresa projetista planejou a estrutura.

“Nós fizemos os estudos preliminares antes mesmo do resultado da concorrência da obra. Tendo esse resultado favorável ao consórcio, iniciamos então a análise técnica e econômica, buscando parceiros com soluções. As dificuldades de concepção eram por ser uma obra marítima e as correntes serem muito elevadas, além da lâmina d’água relativamente alta. Com isso, toda a fundação iria sofrer as ações das ondas, então, na implantação e locação tínhamos que ter muito cuidado para conseguir o alinhamento correto das estacas”, salientou o professor.

Com vasto currículo na área de Obras de Arte Especiais, Oyamada destacou o diferencial de Guaratuba. “Já temos várias obras executadas pela Outec com a mesma concepção estrutural, mas, em termos de envergadura de obra, essa realmente é emblemática porque está muito bem localizada na entrada da Baía de Guaratuba, então ela tem um aspecto diferente. Já fizemos projetos mais extensos, mas com soluções mais simples, que foram estruturais somente de vigas e com métodos em que elas são empurradas e não transportadas, como é o caso dessa”.

Segundo Oyamada, a Outec já projetou mais de 20 obras de pontes estaiadas, sendo que, atualmente, estão sendo executadas seis ao mesmo tempo. “Nesse projeto, especificamente, a concepção durou de 6 a 10 meses. E, em seguida, foi desenvolvido o projeto básico. Feito isso, iniciamos o projeto executivo”, contou o professor que destacou: “Essa é realmente uma obra que chama muita atenção da comunidade técnica”.

Uma das principais ferramentas de engenharia utilizadas no projeto da obra foi o BIM – Building Information Modeling desenvolvido pela equipe: Álvaro Cavalcanti, coordenador de engenharia da ponte pela Odebrecht, Clauss Ocké, engenheiro e coordenador comercial pela mesma empresa, e Nelson Tadeu de Oliveira Junior, supervisor da Topografia da Ponte Guaratuba.

“A licitação foi em 2022 e o contrato já veio com as novas diretrizes de licitação o qual já era obrigatório ser em BIM. Então vimos essa dificuldade no período de implantação, porque tínhamos apenas seis meses para desenvolver o projeto executivo. O BIM é uma ferramenta que a gente usa no planejamento, porém ele precisa de um tempo hábil para ser desenvolvido e tivemos que fazê-lo e aprová-lo junto ao DER e implementar nesse prazo”, detalhou Álvaro.

Além disso, segundo a equipe, outra dificuldade é que devido às características da obra, foi preciso desenvolver o projeto com dois projetistas ao mesmo tempo – sendo um para a ponte e outro somente para os acessos – ambos traçados em BIM, considerando o desnivelamento de altura entre a ponte e a rodovia que ela irá ligar, a PR-412.

O INÍCIO: A PONTE, O MEIO AMBIENTE E AS PESSOAS

Com o projeto em mãos, era hora de conseguir o principal: as licenças Ambiental e a de Implantação (LI). Para o gerente operacional da Odebrecht, Paulo da Silva Oliveira, essa fase foi uma das fases mais desafiadoras de todo o processo. “Nós, do Consórcio, é que fizemos todo o estudo ambiental, o que geralmente fica a cargo do cliente, mas, nós é que fizemos o Plano Básico Ambiental, e isso realmente foi um desafio, montar toda essa logística e, ainda assim, conseguimos a ordem de serviço para as obras no dia 30 de abril de 2024 e uma semana depois já cravamos a primeira estaca”, lembrou Paulo, que acrescentou outro fato: “Essa fase ‘pré-obra’, que durou aproximadamente um ano, foi a mais complexa, isso porque, além dessa questão ambiental, por ser uma obra gigantesca, tivemos que dividir o canteiro de obras, então buscamos também uma licença específica para o canteiro”, informou o gerent

Sobre o Plano Básico Ambiental, Diego Mendes, gestor de projetos na MRS Ambiental, consultoria de meio ambiente do consórcio, falou das fases do licenciamento e dos programas implementados. “O licenciamento ambiental inicia na fase de viabilização do empreendimento através da licença prévia e a elaboração do EIA/RIMA que são o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA). Nesse momento do estudo iniciamos a participação das comunidades, fazemos um diagnóstico dessa área que estamos estudando, mensuramos os impactos que esse empreendimento vai trazer, apresentamos as medidas de mitigação através dos programas e, superada essa etapa prévia, a gente elabora o Plano Básico Ambiental, que, no nosso de Guaratuba, inclui 26 programas ambientais e sociais”, explicou Diego.

O gestor contou ainda, que, no início, tiveram diversas reuniões com pescadores e líderes comunitários da região, além de ações de educação ambiental explicando como a obra poderia ser possível alinhada à preservação local. “Mesmo sabendo que esse empreendimento era muito desejado, ainda assim tínhamos que escutar os anseios da comunidade, então criamos um programa de comunicação em que fazemos reuniões mensais com eles, informamos o andamento das obras, tiramos dúvidas, e, além disso, monitoramos o estoque pesqueiro, onde até hoje não houve impacto. Além disso, em breve, iremos oferecer capacitações com base nas solicitações da comunidade nas reuniões, que são cursos para reformas de embarcações, informática básica, culinária caiçara, dentre outras demandadas pela própria população”.

Para Diego, a integração entre comunidade e a equipe responsável pela obra é fundamental para ambos os lados. “Esse é o conceito de sustentabilidade, fazer tudo acontecer em harmonia e com respeito à comunidade e ao ambiente, isso é bom para o empreendimento e para todos. É isso que faz o desenvolvimento acontecer”.

O INÍCIO DAS OBRAS

Passada a fase das licenças, começaram efetivamente as obras da Ponte Guaratuba. Samuel Colucci, gerente de Engenharia da obra pela Carioca Engenharia, uma das empresas que fazem parte do Consórcio Nova Ponte, explicou a sequência da construção.

“Primeiro fizemos as fundações, que aconteceram em maio de 2024. Em seguida, em outubro do mesmo ano, com as fundações prontas, começamos a subir os pilares. Depois, colocamos as vigas pré-moldadas, os guindastes com as travessas e, agora, só faltam duas estacas. Atualmente, estamos avançando com as vigas pré-moldadas para fechar o vão central, que é o trecho estaiado, o mais esperado”, detalha Colucci.

As fundações da Ponte Guaratuba totalizam 63 estacas, sendo 28 de 1,80 m de diâmetro e 32 de 2,20 m, e mais três bases de estaca raiz. Nesse processo cada estaca levou 200 m³ de concreto, isso significa mais de 20 betoneiras por estaca.

“Cada camisa metálica (da estaca) que tem 1,80 ou 2,20 m de diâmetro, encosta na areia e com o martelo vibratório, conforme vai vibrando essa camisa vai entrando no solo mole, e quando ela encontra a rocha, usamos a perfuratriz até chegar a uma cota de cravação. Em seguida, fazemos uma limpeza, descemos a armação e aí é feita a concretagem submersa, de forma que, conforme vai entrando concreto, vai saindo a água ao mesmo tempo”, explicou o engenheiro.

Colucci contou ainda que, no caso da concretagem, utilizam gelo para manter a temperatura correta. “Depois que cravamos as estacas, fizemos uma capa de concreto e nessa concretagem também utilizamos o gelo, porque foi feito no verão, e em um volume muito grande. Com o calor, corremos risco de trincar tudo, então misturamos toneladas de gelo, uma quantidade que varia dependendo da temperatura que a gente precisa naquele momento”.

Sobre as vigas pré-moldadas, são 160 vigas ao todo, sendo 8 vigas por vão. “São colocadas as 8 vigas pré-moldadas, e, depois, lançamos as lajes pré-moldadas como uma casca e é ela que suporta a concretagem. As vigas pesam 80 toneladas e possuem 40 m de comprimento. Elas são lançadas com as treliças”, detalhou.

“Essas vigas de 40 m são protendidas. E no trecho estaiado temos que concretar e montar essas vigas no meio do mar! É aí que usamos o carro de avanço, que é a treliça metálica com a forma de concretagem, e esta vai preenchendo de concreto e é reposicionada a cada 5,5 m”, explicou.

Sobre os desafios no decorrer da obra, o engenheiro contou que os mais emblemáticos foram durante as fundações e, agora, quando ocorrerá a próxima fase dos balanços estaiados. “A próxima será a mais delicada que é executar os balanços sucessivos estaiados. Ao todo, são 12 estais para cada lado, cada um deles com 61 cordoalhas. Ao todo, o volume estimado de concreto utilizado, até o momento, foi de 38.600 m³ e 5.548 toneladas de aço”.

Além da construção da ponte em si, também foi feito o rebaixamento dos acessos – lado Guaratuba – com escavação de 14 metros para se nivelar com a rodovia PR-412. “Nesse trabalho tivemos que utilizar estacas raiz, tirantes, solo grampeado, enfim, tudo para consolidar o encontro. Tudo isso foi estudado em BIM, além do carro de avanço da treliça e concretagem do tabuleiro da ponte”.

FECHANDO O VÃO CENTRAL

Atualmente, a construção da Ponte de Guaratuba está na fase da execução do vão central, um trecho estaiado com 160 m de extensão com apenas dois pilares, onde serão feitos os balanços sucessivos mencionados por Colucci. Somente esse trecho estaiado, a previsão é que seja concluído entre fevereiro e março de 2026, e a entrega total da obra marcada para abril do mesmo ano.

Além da estrutura principal da ponte, estão previstas intervenções nas vias de acesso em ambos os lados para melhorar o trânsito na região, com o alargamento da PR-412 na margem de Guaratuba, e que também receberá muros de contenção. Também será implantado um retorno sobre a ponte para ligação das vias locais e melhorias na conexão da Estrada do Cabaraquara com Matinhos.

“Guaratuba sempre foi um pouco ilhada, com essa ponte já vemos um desenvolvimento econômico e social em evolução na região, como por exemplo a construção de novos imóveis e a valorização imobiliária que cresceu em 30%. A cidade voltou a figurar de fato dentro do Paraná, não somente como uma ilha, mas estimulando o desenvolvimento da região”, concluiu o diretor do contrato, Luciano Pizzato.


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