Quem viveu, viu. E quem viu e participou, consegue assegurar um elo privilegiado na corrente da história
Nildo Carlos Oliveira
A importância desse livro — 1964 na visão do ministro do Trabalho de João Goulart — Almino Affonso — o mais recente lançamento da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, não se restringe apenas ao período do golpe militar, nem se atém aos principais personagens que bloquearam o processo democrático e tentaram perpetuar o arbítrio, as torturas e os óbitos.
Tampouco, se restringe ao papel daqueles que articularam a resistência até as diretas-já e a reconquista da legalidade. Ao longo de suas 673 páginas desfilam os fatos dos quais o autor participou, analisou ou testemunhou e os personagens que ele conheceu. Amazonense nascido em Humaitá em 1929, formado em Direito pela Faculdade de Direito da USP, eleito deputado federal em 1959 e nomeado ministro do Trabalho pelo presidente João Goulart em 1963, Almino teve os seus direitos políticos suspensos por dez anos e ficou exilado na Iugoslávia, Uruguai, Chile, Peru e Argentina, ao longo de 12 anos.
Como ministro, e como líder do antigo PTB no Parlamento, Almino reconhece: “Meu livro é um testemunho”. E é na condição de testemunha que ele vem saldar, com essa obra, nas palavras do escritor Fernando Morais, “uma dívida de mais de trinta anos contraída com a memória brasileira”. Entre os personagens do livro estão líderes das mais diversas áreas de atividades, incluindo da engenharia, como é o caso de Hélio de Almeida, Edison Passos (presidente do Clube de Engenharia, Rio de Janeiro) e Rubens Paiva, dentre outros.
O movimento que desaguou em “1964” nasceu muito antes do ano do golpe. As forças contrárias ao modelo de desenvolvimento do País vinham se agrupando e ocupando terreno previamente à campanha do “Petróleo é nosso”. Mesmo antes do retorno de Getúlio Vargas ao poder, em 1950, Carlos Lacerda já provocava, através do jornal Tribuna da Imprensa: “O Sr. Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à Presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar.”
Essa linha de raciocínio estava difundida entre os que se contrapunham à criação da Petrobras e da Eletrobras, justamente as duas maiores empresas que fixariam o patamar do desenvolvimento brasileiro e ensejariam as condições para o fortalecimento da engenharia nacional. Embora jogados às cordas pela carta-testamento de Getúlio Vargas, eles reagiram e se posicionaram contra a candidatura de Juscelino Kubitschek à Presidência da República. Empossado, o ex-governador mineiro seria objeto do Memorial Militar. Depois, teve de enfrentar os revoltosos de Jacareaganga e Aragaçras, que ele anistiou. Foram episódios frustrados por conta da posição forte do general Teixeira Lott em defesa da legalidade.
Mas os golpistas não desistiam. Com a renúncia intempestiva de Jânio Quadros, que provavelmente pretendia voltar ao poder com poderes ilimitados, eles investiram contra o governo de João Goulart, finalmente apeado da Presidência depois do célebre comício da Central do Brasil, num contexto político agravado pelo clima de radicalização criado em torno das propostas das Reformas de Base, que o seu governo — e a população — defendiam.
O livro está dividido em quatro partes: O conflito vem de longe; Sistema parlamentar de governo; João Goulart, presidente da República (capítulo em que o autor pormenoriza o perfil do presidente, a composição do seu governo e o Plano Trienal elaborado pelo economista Celso Furtado); Tragédia grega e Uma revisão da história.
A obra remete os leitores ao perfil de João Goulart, na expectativa do autor de que eles se apercebam do contraste “entre tantos que se apequenaram para erigir o regime militar, e a dignidade com que o presidente se portou, em todos os momentos, deixando-nos lições que a meu ver ficarão”.
Outros livros
Seleção de materiais. A editora da Universidade Federal de São Carlos (Edufscar-SP) está fazendo o lançamento da terceira edição do livro Seleção de materiais, de autoria do engenheiro Maurizio Ferrante, que é professor daquela universidade e especialista na área da Engenharia de Materiais e Metelúrgica. A obra está dividida em oito capítulos e trata das principais atividades da Engenharia de Materiais, abrangendo propriedades, resistência mecânica, fratura, ferramentas de sistematização dos procedimentos de seleção de materiais e outros temas. São, no conjunto, 348 páginas incluindo desenhos, gráficos e amplo índice remissivo.
Direito imobiliário. Com a coordenação dos mestres em Direito José Roberto Neves Amorim e Rubens Carmo Elias Filho, essa obra, resultado do trabalho de vários autores e editada este ano pela Elsevier Editora, esmiúça os aspectos mais importantes do direito imobiliário. Analisa a legislação vigente, a importância da propriedade no Brasil em épocas e fases distintas, pormenoriza as questões do usucapião e fornece um conjunto amplo de informações até sobre a nova legislação florestal e o seu impacto nos espaços urbanos.
Fonte: Revista O Empreiteiro