Intervenções somam R$ 10 milhões e visam instalar torres de sustentação para estabilizar estrutura; ponte completa 90 anos em 2016
Lúcio Mattos
As obras que estão sendo realizadas são consideradas de emergência, necessárias para que as etapas seguintes de recuperação aconteçam em segurança, sem risco de colapso de alguma parte da estrutura. Estão sendo erguidas quatro torres de sustentação na parte inferior, uma estrutura provisória que será retirada ao fim da restauração.
Os trabalhos começaram em abril e têm prazo de entrega previsto para outubro. No momento, cerca de 100 operários e 40 máquinas estão envolvidos no processo, que emprega até mergulhadores, trabalhando a 30 m de profundidade. O setor de Engenharia do Departamento Estadual de Infraestrutura (Deinfra) avalia que em torno de 50% do trabalho já foi realizado.
Talvez o maior símbolo da capital catarinense, a Hercílio Luz está totalmente interditada ao tráfego de pessoas ou de veículos há mais de 20 anos, desde 1991. A estrutura, a maior ponte pênsil do Brasil, foi tombada pelo Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Município de Florianópolis no ano seguinte.
As obras de restauração de fato ainda não têm prazo para começar. O governo catarinense espera receber em julho uma proposta da empresa norte-americana American Bridge, herdeira das duas companhias que construíram a Hercílio Luz nos anos 20 do século passado, as firmas associadas Byington&Sundstrom.
Em abril, uma equipe da American Bridge visitou a Hercílio Luz para avaliar a situação e pediu um prazo de 90 dias para apresentar uma proposta. Em maio os funcionários da empresa norte-americana retornaram a Florianópolis, para uma nova avaliação. O governo de Santa Catarina tem verbas de R$ 130 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a recuperação.
O plano é utilizar o mesmo projeto encomendado à empresa francesa L’Engerrot, no final dos anos 90, que inclui o reforço das bases das torres principais, dos blocos de ancoragem, reforço das fundações das torres dos viadutos, troca das barras de olhal, recuperação dos elementos estruturais do vão central e torres principais, recuperação da pista de rolamento e a reforma da passarela de pedestres no lado norte, além da construção de outra passarela no lado sul.
A dificuldade da recuperação está na complexidade da obra, por ser uma estrutura antiga e com muitos detalhes técnicos. A American Bridge diz que o detalhamento exige especificar até os tipos de parafusos que serão utilizados e como serão ajustados.
Muitas das barras de olhagem, por exemplo, estão trincadas ou rompidas. Articuladas, essas estruturas são móveis, para que possam oscilar na horizontal e na vertical, para acomodar a ponte aos movimentos provocados pelo vento ou por veículos de pesos diferentes que a atravessam.
Após a restauração, a expectativa do Deinfra é que a Hercílio Luz absorva o equivalente a 12% do tráfego de 178 mil veículos que atravessam do continente à Ilha de Santa Catarina e vice-versa, diariamente, através das pontes Colombo Machado Salles e Pedro Ivo Campos. Recuperada, a Hercílio Luz acomodaria 22 mil veículos/dia.
Construção, interdição e ensaio de recuperação
A ponte Hercílio Luz foi construída entre novembro de 1922 e maio de 1926, quando foi inaugurada para ser a primeira ligação viária entre a Ilha de Santa Catarina e o continente. A primeira interdição pelo seu mau estado de conservação aconteceu em janeiro de 1982, quando a estrutura ainda respondia por mais de 40% do tráfego que ia e vinha de Florianópolis, recebendo quase 30 mil veículos diariamente.
Seis anos depois, a Hercílio Luz foi reaberta à travessia de pedestres, bicicletas, motos e veículos de tração animal, mas em julho de 1991 seria totalmente fechada novamente, com a posterior retirada do piso asfáltico do vão central, para aliviar o peso sobre ela.
Em 1997, a L’Engerrot foi contratada para traçar o projeto de recuperação, a um custo de US$ 5 milhões – o plano foi entregue em 2002, mas só seria anunciado em 2005. A primeira fase da obra, a recuperação dos acessos nas duas cabeceiras, foi orçada a um custo de R$ 26 milhões na época.
Em 2008, o governo catarinense lançou um edital para a segunda fase da recuperação, estimada em R$ 170 milhões, que inicialmente estava prevista para ter sido concluída em 2012 – o consórcio vencedor era liderado pela construtora Espaço Aberto. Em junho do ano passado o governo estadual decidiu rescindir o contrato, alegando que a empresa não cumpria o cronograma de obras. A construtora, por sua vez, dizia ter suspendido os trabalhos porque o Estado não realizava os pagamentos. Em agosto de 2014, o Deinfra anunciou oficialmente a rescisão e o governo começou a negociar com a TDB Produtos e Serviços como empresa substituta – três meses depois, porém, a companhia desistiu do contrato.
Em dezembro do ano passado, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina aceitou um recurso da construtora Espaço Aberto e suspendeu a continuidade das obras (apesar de elas não estarem em andamento), mas a Procuradoria-Geral do Estado reverteu a decisão dias depois, abrindo caminho para a contratação da Construtora Roca.
O governo e a nova empresa passaram janeiro negociando ajustes contratuais e a Roca terminou por também desistir das obras, alegando riscos de novas interdições dos trabalhos pela Justiça e possíveis prejuízos.
Em fevereiro, o Governo do Estado assinou contrato com a Empa S.A. – Serviços de Engenharia, que atualmente trabalha na ponte Hercílio Luz.
Ficha Técnica – Obras Ponte Hercílio Luz
– Inauguração: maio de 1926
– Última interdição: julho de 1991
– Comprimento: 821 m
– Vão-livre: 339 m
– Altura do vão pênsil: 30,8 m
– Altura das torres: 74 m
– Peso: 5.000 t
– Obras de sustentação:
Construtora: Empa
Valor do contrato: R$ 10,3 milhões
Início dos trabalhos: abril de 2015
Término previsto: outubro de 2015
– Trabalhos:
Movimentação/organização das estruturas metálicas das torres 1, 2, 3 e 4
Montagem dos andaimes da torre TA1
Montagem da balsa para apoio do guindaste/ mergulhadores e transporte de materiais
Preparação das estruturas metálicas do módulo III da torre TA1
Forma e armação das bases de apoio a montagem dos tubos dos contraventos
Atividades de mergulho (filmagem)
Ensaio do guindaste sobre a balsa
Desmontagem dos acessos e guarda-corpos da TA1 (contrato anterior)
Montagem de acesso ao píer
Preparação/montagem dos equipamentos de mergulho na balsa
Pintura das boias de sinalização
Instalação dos equipamentos de mergulho na balsa
Concretagem do piso da área de vivência e viga da rampa do cais
Manutenção da Grua Torre 02
Descarregamento de estruturas metálicas
Montagem das balsas para apoio aos mergulhadores e transporte de materiais
Mobilização e preparação do equipamento de mergulho
Teste e qualificação dos soldadores
Desmontagem de estruturas de madeira do contrato anterior
Supressão vegetal do canteiro de obras e praça de montagem
Montagem das boias de sinalização de navegação
Fontes: Deinfra (Departamento Estadual de Infraestrutura) e Governo do Estado de Santa Catarina
Fonte: Redação OE