Nildo Carlos Oliveira
E assim ela vai. Ou vem. Realimenta-se em cada eleição, ganha força nos subterrâneos do poder, interfere nas concorrências, influencia as emendas orçamentárias, vence a barreira da legislação e, às vezes, adquire até ares de seriedade na lábia dos lobistas contumazes. No final, golpeia governos e favorece os personagens que lhe deixam as portas escancaradas para a prática das ilicitudes. Lá no final da fila está a vítima principal: o contribuinte velho de guerra.
Fala-se em preço de corruptos e corruptíveis. Não há preço. Seria imaginar um preço para a vergonha nacional. Estudo da Fiesp avalia, no entanto, que o Brasil perde, por ano, R$ 26,2 bilhões com a corrupção e por causa dela. Seria o equivalente a 1,35% do Produto Interno Bruto (PIB). Em números redondos, o dinheiro que rola para o ralo dessa vergonha brasileira equivaleria ao orçamento previsto para a Educação em 2007: R$ 27,6 bilhões.
Mas não estão embutidos, nesse preço, outros preços – aqueles correspondentes ao desgaste, à deterioração de todos os valores que dão forma, consistência e vitalidade ao homem como cidadão. A corrupção debilita a sociedade e provoca um mal que dificilmente pode ser extraído do tecido social: a desesperança. É uma metástase. Acaso esse mal poderia ser erradicado apenas com as reformas que as elites políticas prevêem – fiscal, tributária, judiciária, política e administrativa? Difícil dizer, pois quando a corrupção atinge a fase da desesperança generalizada, ninguém consegue acreditar em ninguém e nem sequer, ou muito menos, nas instituições. Nesse cenário, como formar as próximas gerações?
Há alguns anos, quando escrevi o livro A Construção no Espelho (Editora Pini), com foco na constituição e crescimento das grandes construtoras dos anos 70 para cá, conversei com um parlamentar, então uma liderança setorial, que colocou as cartas na mesa: “… foi naquele governo, no governo do homem que era capaz de matar o tigre da inflação com um único tiro, que o processo (de corrupção) desandou, ficou sem limites. A corrupção virou tragicamente motivo de deboche. Perdeu-se a vergonha. Havia empresa que se qualificava para fazer uma obra, embolsava 100% e dava 40% ao subempreiteiro”.
Essa falta de vergonha nacional derivou para um documento, a Carta de Belo Horizonte, que salientava: “Só existirão chances de se conseguir conscientizar a sociedade da necessidade de se suprimir privilégios (leia-se favorecimentos) se os governos derem exemplo inquestionável de que aboliram as suas próprias benesses e, sobretudo, se deixarem claro, não apenas por palavras, mas por atos concretos, que cultuam a integridade moral, a probidade administrativa e determinam-se à implantação da Justiça”. O tempo passou. O tempo comeu as palavras.
Em junho de 2007 escrevi o texto aqui reproduzido. Ele foi publicado na edição 454 de O Empreiteiro. Volto a publicá-lo dada a atualidade do tema, que vai se repetindo, monotonamente, ao longo dos anos. E nem sequer se inova.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira