O redesenho da Eletrobrás, em sua nova fase, se reflete na aceleração de obras hidrelétricas, no inventário
para novos empreendimentos energéticos, incluindo outras fontes,
e na retomada de Angra 3
São várias as obras hidrelétricas, das subsidiárias da Eletrobrás, que coincidentemente ganharam maior impulso nessa nova fase da holding. Alguns projetos nesse campo têm tido a participação direta da empresa, que os vêm defendendo em seminários e audiências, simultaneamente ao esforço para a captação de financiamentos destinados à retomada de Angra 3 e à instalação de linhas de transmissão das novas hidrelétricas em construção no Norte do País, em especial no rio Madeira (Rondônia).
É para a Amazônia – região Norte – que vem se voltando a atenção maior do governo, no que diz respeito às possibilidades de novos aproveitamentos hidrelétricos. É compreensível. O grande potencial hidráulico remanescente no Brasil, conforme os estudos desenvolvidos pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e que propiciam o suporte para a projeção de novas hidrelétricas, representa uma geração competitiva e de importância significativa para a garantia do atendimento ao crescimento do mercado brasileiro de energia elétrica.
Embora prossigam com obras hidrelétricas nas demais regiões brasileiras, as empresas de engenharia que operam nessa área, e as demais que trabalham com o fornecimento de máquinas, equipamentos e insumos, vêm acumulando experiência logística para uma atuação eficiente na Amazônia. Nesse sentido, as obras de Jirau e Santo Antônio constituem um exemplo a ser observado. As empresas vêm considerando um fato constatado em todos os estudos na região: o potencial hidrelétrico da Amazônia corresponde a mais de 50% de todo o potencial hidrelétrico inventariado no País.
Dentre as obras de maior relevo que hoje se encontram em andamento na área da Eletrobrás, fora da região Norte, estão seguintes usinas hidrelétricas: Foz do Chapecó, no rio Uruguai, em construção pela Camargo Corrêa; a Hidrelétrica Batalha, no rio São Marcos, entre os municípios de Cristalina (GO) e Paracatu (MG), também sob a responsabilidade da mesma construtora; a hidrelétrica de Simplício, no rio Paraíba do Sul, entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, que terá capacidade instalada de 333,7 MW e que está a cargo do consórcio formado pelas construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez; São Domingos, no rio Verde, Mato Grosso do Sul e a usina Passo São João, no rio Ijuí, no Rio Grande do Sul. Contudo, é para a região Norte que todos os interesses dessa área se voltam. Jirau e Santo Antônio abrem espaço para um novo e amplo mercado da engenharia brasileira, em todos os seus segmentos, com possibilidades de se estender para Belo Monte e para as usinas do Complexo do rio Tapajós.
Jirau, a cargo do consórcio Energia Sustentável do Brasil (Enersus), a 100 km de Porto Velho (Rondônia), terá capacidade para 3.450 MW. Com projeto executivo e detalhado da Themag, gerenciamento e fiscalização da Leme Engenharia e construção a cargo da Camargo Corrêa, a obra está em andamento e a previsão é de que entre em operação até janeiro de 2014 (ver matéria Revista OE 480/outubro último).
A construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, também no rio Madeira, está sob a responsabilidade do Consórcio Construtor Santo Antônio (CCSA). Integram-no o Consórcio Santo Antônio Civil (CSAC), Grupo Industrial do Complexo Rio Madeira (Gicom) e Odebrecht Engenharia e Construção (OEC).
O Consórcio Construtor Santo Antônio informa que ainda no dia 18 deste mês (novembro), realizou a montagem do tubo de sucção da primeira turbina modelo Bulbo. A montagem aconteceu no local que receberáa estrutura da casa de força nº 1, na margem direita do canteiro de obras. Essa etapa ocorreu no prazo previsto para a antecipação do início da geração de energia prevista para dezembro de 2011, um ano antes da dta pactuada com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O tubo de sucção, localizado na saída de água da turbina, é a primeira peça eletromecânica da obra e tem a função de restituir a água para o chamado canal de fuga. A UHE Santo Antônio será, segundo o consórcio construtor, a terceira maior usina hidrelétrica do País em energia assegurada. A potência instalada de 3.150 MW será suficiente para suprir a necessidade de energia de 10 milhões de residências. O reservatório da usina terá 271 km², dos quais 164 serão a própria calha do rio. A área de alagamento corresponderá a 107 km². Chama atenção especial, nessa obra, o fato de que cerca de 14% do contingente de 5.100 trabalhadores são composto de mulheres e 86% do total se compõe de mão-de-obra local.
Entre os acionistas do empreendimento estão as empresas Furnas, Odebrecht, Andrade Gutierrez, Cemig e o Fundo de Investimentos e Participações Amazônia Energia (FIP).
Angra 3
As obras civis de Angra 3 foram licitadas e adjudicadas à Construtora Andrade Gutierrez, pela Eletronuclear, mediante contrato assinado em junho de 1984. De lá até aqui, a empresa vinha pagando à construtora, para manutenção de suas instalações, preservação do canteiro e uso de casas de suas propriedade, o montante, calculado em 2007, de R$ 5,3 milhões. Por conta da manutenção do contrato, a Andrade continua à frente da retomada da obra.
O processo de retomada implicou a reavaliação dos custos para conclusão do empreendimento; obtenção da licença prévia do Ibama e das demais licenças (instalação e operação) e a realização de audiências públicas e demais procedimentos legais, incluindo a licença de construção junto à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
A Eletronuclear informa que Angra 3 necessita, para sua implantação, de investimento adicional de R$ 7,3 bilhões. Com esses recursos, o custo da energia elétrica ali produzida será da ordem de R$ 140,00 MWh, o que torna o mpreendimento competitivo junto às demais opções de geração do Sistema Integrado Nacional (SIN).
Segundo a empresa, Angra 3 tem diversas vantagens alvo de análise nesse começo da retomada das obras. Por exemplo: ela possibilita alta taxa de energia elétrica com confiabilidade: aproximadamente 10 TWh/ano; aumenta a base térmica do sistema elétrico interligado, contribuindo para a diversificação da matriz energética; melhora a confiabilidade do suprimento
para as regiões do Rio de Janeiro e Espírito Santo; não provoca impactos ambientais, decorrentes do alagamento de grandes áreas; consolida uma tecnologia de ponta, com elevado conteúdo estratégico e aumenta a massa crítica de conhecimento no segmento nuclear brasileiro.
O cronograma executivo de Angra 3 prevê 66 meses para sua implantação, abrangendo as obras de construção civil, montagem eletromecânica e comissionamento dos sistemas e a fase de tesrtes preoperacionais. Esse prazo começa com os trabalhos de concretagem da laje do fundo do edifício do reator e se encerra com o final dos testesde operação e potência da planta. Antes do início da concretagem da laje de fundo daquele edifício, está programado um período de sete meses, a ser usado em atividades preliminares, tais como a execução dos serviços preparatórios de engenharia e a instalação da infraestrutura do canteiro.
Fontes energéticas
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mostram que o Brasil não pode prescindir de nenhuma de suas matrizes energéticas. Hoje, o País dispõe de uma capacidade de produção de energia elétrica da ordem de 105,9 mil MW. Curiosamente, as usinas térmicas (acionadas a gás, diesel, óleo, carvão ou biomassa) aparecem logo em seguida, com cerca de 25 mil MW, correspondente a 23,6% daquele total. A produção a diesel é de 3,9 mil MW. A Aneel informa que atualmente se encontram em obra 93 empreendimentos que usam água para gerar energia. Somadas, as futuras usinas acrescentarão ao sistema 11,5 mil MW, quase o equivalente a uma nova Itaipu. Estão em construção 68 usinas termelétricas que vão produzir 6,7 mil MW.
Fonte: Estadão