Construtores apresentam agenda antimediocridade

Compartilhe esse conteúdo

Dois engenheiros – José Roberto Bernasconi e João Cláudio Robusti – polarizaram as atenções de um público de engenheiros, técnicos e diretores de empresas de engenharia, durante evento da Revista O Empreiteiro (entrega do Prêmio às Empresas de Engenharia do Ano) mostrando alguns números que espelham, dentro e fora do ambiente setorial, as conseqüências do atual quadro da mediocridade do crescimento brasileiro. Bernasconi, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco) e Robusti, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), expressaram opiniões convergentes e complementares, inspiradas pelo documento elaborado pela FGV Projetos, assinado por 34 entidades nacionais e apoiado por mais de 100 entidades regionais, conforme articulação feita por José Carlos de Oliveira Lima, presidente do Comitê de Construção Civil da Fiesp e Paulo Safady Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. Desse documento resultou a proposta antimediocridade encaminhada aos órgãos do atual governo e às mãos do presidente Lula da Silva que, respaldado por 56 milhões de votos, tem a oportunidade de mudar a situação econômica do País em seu segundo mandato. A preocupação dos construtores é de que ele abra a porta do Ano Novo sabendo que tem, diante de si, dentre as propostas que lhe chegam de vários segmentos de atividades, documento montado em cima de experiências duramente acumuladas pela Engenharia brasileira, apontando caminhos para tirar o País da inação que tem provocado o estrangulamento em áreas da infra-estrutura, exemplificado pelo colapso do controle do tráfego aéreo. Brincar com os números é uma coisa séria Bernasconi, que tem difundido o bordão segundo o qual “fora do crescimento, não há salvação”, disse que gosta de fazer previsões com os números. E não se trata de números aleatórios, mas daqueles que estão disponíveis em órgãos afeitos a pesquisas que servem de base para a tomada de posições do governo e de setores da sociedade. O cenário, a partir dos dados colhidos no IBGE, mostra que, se em 1950 o Brasil tinha 52 milhões de habitantes, em 2006 possuía 187.712.357 – soma computada rigorosamente às 18 horas do dia 7 de dezembro de 2006. A expansão demográfica brasileira, portanto, é progressiva. Não repete o evento de alguns países europeus cuja população estacionou no tempo e no espaço. Ao contrário, é uma população que se expande. E se, em 1950, com aquela população, a expectativa de vida era de 43,3 anos, em 2000 tal expectativa de vida chega aos 70,4 anos, registrando-se, ao longo dessa evolução – dos anos 50 ao limiar de 2000 – melhorias em algumas áreas, por conta das obras realizadas na infra-estrutura brasileira até meados dos anos 80. O fato é que a evolução do PIB brasileiro não tem acompanhado a evolução do crescimento populacional e a defasagem se amplia continuamente. Hoje o PIB, estimado em US$ 820 bilhões, considerando uma população de 187 milhões de pessoas, resulta em um PIB per capita da ordem de US$ 4,385. Caso o Brasil insista na obsessão perversa da mediocridade de um crescimento a taxas nanicas (2,5% ou 3%/ao ano), a perspectiva não será nada confortável, diante da avaliação de que, daqui a 16 anos (2022 – Bicentenário da Independência), a população brasileira será de 243 milhões de habitantes. E se analisado o PIB per capita tomando como parâmetro o ano do Bicentenário da Independência, o resultado será constrangedor. Exemplos: se o PIB brasileiro crescer a 2%/ano e atingir o valor de (US$ 4,632), será, em 2022, comparável ao da Venezuela e do Panamá em 2005; se crescer 4%/ano (US$ 6,320), será comparável ao do Chile também em 2005 e se crescer a 9%/ano (US$ 13,400), se equipará ao da Coréia do Sul, no ano passado. Ou seja: ao longo das últimas três décadas perdidas, o Brasil ficou para trás. Agora, para alcançar patamares satisfatórios do crescimento do PIB per capita, terá de correr contra o tempo.

Construção civil decresceu mas começa processo de reação

João Cláudio Robusti enfatizou o descaso a que a engenharia e a construção foram relegadas nos últimos anos. O decréscimo do crescimento foi muito grande nessas áreas, com efeitos avassaladores na cadeia produtiva de modo geral. Disse ele que a importância que se deu à austeridade monetária, no governo FHC e no do Lula da Silva, resultou no sucateamento das atividades daqueles segmentos, o que obrigou as empresas a um processo intenso de adaptações e reinvenção para sobreviverem. Contudo, assegurou ele, o quadro vem mudando. A construção civil poderá registrar um crescimento da ordem de 5,1% este ano. E se tal resultado positivo continuar, a construção civil poderá dar por encerrado o ciclo negativo de 2001 a 2003, quando o produto da construção decresceu 10%. A mudança de cenário vem ocorrendo por conta de estímulos oficiais e ao aumento de financiamentos públicos e privados à construção imobiliária. Por exemplo: cerca de R$ 9,2 bilhões da Caderneta de Poupança devem financiar 120 mil unidades habitacionais este ano. E até outubro último, a habitação de interesse social registrava a aplicação de cerca de R$ 7,1 bilhões, com recursos do FGTS e do Programa de Arrendamento Residencial (PAR). No ano que se inicia, a construção habitacional deverá contar com R$ 10 bilhões da Poupança; R$ 11,2 bilhões do FGTS e R$ 2,7 bilhões para o saneamento.

A proposta dos construtores para mudar a posição brasileira no IDH

Como fazer o Brasil crescer e fazê-lo mudar de posição no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU? Os construtores acham que isso pode acontecer, desde que o governo adote, como ênfase, as obras de infra-estrutura. A saída seria investir, nos próximos quatro anos, R$ 206 bilhões, de forma simultânea e constante, nas áreas e nos valores mínimos, em projetos prioritários: R$ 46,8 bilhões em transportes; R$ 27,2 bilhões em energia: R$ 24 bilhões em saneamento; R$ 40,8 bilhões em habitação de interesse social e RF$ 67,2 bilhões em programas para o mercado imobiliário. Com esses investimentos propostos para os próximos quatro anos, haveria aumento anual médio do PIB Brasil; aumento nos níveis de investimento da economia, representado pela formação bruta de capital fixo em, no mínimo, 1,5%; aumento dos postos formais de trabalho; construção anual de cerca de 400 mil novas unidades de habitação de interesse social; geração de renda representada pelos salários no setor, de aproximadamente R$ 40 bilhões; geraç&at

ilde;o no período de R$ 10,1 bilhões em impostos nas três instâncias de governo e a consolidação do projeto que modificou o mercado imobiliário, a partir da lei 10.931, de agosto de 2004. A proposta mostra a viabilidade das sugestões. A aprovação, dia 13 deste mês, do marco regulatório do Saneamento e as gestões para fortalecer as agências reguladoras, revisar a lei de licitações e criar os meios para agilizar os processos de licença ambiental, sem que isso implique ferir as exigências para que o País cresça aprimorando os mecanismos para cuidar do seu ambiente e de sua sociedade, animam os responsáveis pela elaboração do documento, apresentado pela UNC. A proposta está lançada com o reconhecimento, conforme a pregação de Bernasconi, de que “fora do crescimento não há salvação”.

Fonte: Estadão


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário