Cabiúnas-Vitória amplia entrega do gás de Campos

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Quando entrou em operação no dia 1° de fevereiro deste ano, 15 dias antes do previsto, o trecho do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene) entre Cabiúnas, no Rio de Janeiro, e Vitória, no Espírito Santo, transportou cerca de 5,5 milhões de m3/dia de gás natural, gerando o equivalente a 600MW de energia – em um mês, esse número passaria para 1.000MW. Até o fim de 2008, a produção da bacia do Espírito Santo deve atingir 7,5 milhões de m3/dia. A expectativa é chegar a 18,7 milhões de m3/dia em 2010, volume que corresponde a 62% do gás boliviano que abastece o mercado nacional (30 milhões de m3/dia).

O Gasoduto Cabiúnas-Vitória permitirá, ainda, uma oferta maior de gás natural para atendimento ao mercado não-térmico (indústrias, automóveis, residências etc.) do Espírito Santo. O consumo do estado, que era de 1,2 milhão de m3/dia (outubro/2007), pode chegar a cerca de 2,2 milhões de m3/dia.

Dois novos pontos de entrega de gás natural no estado já estão em funcionamento e outros dois – em Cachoeiro do Itapemirim e Viana – serão entregues no primeiro trimestre deste ano. O quinto ponto a ser construído em Anchieta será finalizado em 2009. No Rio de Janeiro, um ponto de entrega iniciará operação no primeiro trimestre deste ano em Campos de Goytacazes.

No total, o Cabiúnas-Vitória possui 303 k de extensão de dutos e 28 polegadas de diâmetro nominal, denominado “linha tronco”, além de um ramal com cerca de 10 km de extensão, interligando a linha tronco com a cidade de Anchieta, no litoral capixaba.
A capacidade máxima de transporte de gás da linha tronco é de 20 milhões de m3/dia de gás, com a implantação de duas estações de compressão. Tudo isso permitirá o envio do gás natural produzido na Bacia do Espírito Santo para atender a Região Sudeste. O gás atenderá as usinas térmicas Mário Lago (TermoMacaé), Governador Leonel Brizola (TermoRio), em Duque de Caxias, e Barbosa Lima Sobrinho (Eletrobolt), em Seropédica, todas no Estado do Rio de Janeiro.

O Cabiúnas-Vitória é o segundo trecho do Gasene a ser concluído – o primeiro, Cacimbas-Vitória, de 127 km de extensão, entrou em operação em novembro de 2007. O custo total do projeto foi de US$ 500 milhões, e sua construção levou 18 meses, realizada pela estatal chinesa Sinopec Group, uma das maiores companhias petrolíferas do mundo – está no ranking das grandes empresas globais na revista Fortune.

O gasoduto Cabiúnas-Vitória gerou 15 mil empregos diretos e indiretos na região, e percorreu os municípios fluminenses de Macaé, Carapebus, Quissamã, Campos dos Goytacazes, São Francisco do Itabapoana, e os municípios capixabas de Presidente Kennedy, Itapemirim, Piúma, Anchieta, Guarapari, Vila Velha, Viana, Cariacica e Serra.

Pedras no meio do caminho

De todos os obstáculos enfrentados durante a obra do Gasoduto Cabiúnas-Vitória, o gerente de Implementação de Empreendimentos para Dutos Terrestres da Petrobras, Celso Araripe d’Oliveira, destaca que os mais complicados foram aqueles que atravessam os trechos com rios e venceram o relevo montanhoso. Ao todo, foram quatro travessias de rios, 20 km de serra entre Guarapari e Cariacica, 563 detonações de rocha, além de muitas negociações com proprietários de terra que estavam no trajeto do projeto.

Onde a travessia dos dutos foi feita sob leitos de rios – rio Paraíba do Sul (Trecho A) e Itapemirim, Itabapoana e Ururaí (todos no Trecho B) – o trabalho foi mais complicado, levando de três a quatro meses para ser concluído. “O processo todo incluía desde a preparação do terreno, montagem da máquina de furo direcional, soldagem dos tubos, inspeção radiográfica, teste hidrostático, fazer o furo por debaixo do leito do rio (de 42 polegadas) e passar o tubo de margem a margem”, conta Araripe.

A perfuratriz foi importada pelos chineses da Sinopec, pesa cerca de 80 t e chega ao local de trabalho desmontada, numa operação realizada por vários caminhões.

Na região de serra, segundo Araripe, os maiores obstáculos eram as subidas íngremes e a quantidade de rochas no meio do caminho. “Foi uma região muito complicada para se trabalhar”, diz. A partir de 15 graus de inclinação do terreno, era preciso posicionar um guincho no alto do morro para puxar e dar estabilidade a toda a estrutura. E quando encontravam rocha, era preciso detonar: foram 16.820 m3 de pedras retiradas com explosivos das valas.

Preparação dos tubos

Em algumas áreas, como brejos, a densidade do terreno obrigou os técnicos a fazer uma preparação dos tubos para garantir seu afundamento. Nesses casos, foram feitas armações de concreto em volta dos tubos. “A espessura do concreto varia de acordo com a densidade do terreno, com a espessura do próprio tubo e sua largura”, explica Araripe.

Apenas as pontas dos tubos não recebem essa capa de concreto para permitir, depois, a soldagem de um tubo a outro. Num terreno plano, uma coluna de tubos soldados pode chegar a 1.500m de comprimento, enquanto num relevo montanhoso não se montam colunas com mais mil metros, para não dificultar o trabalho de transposição dos dutos para as valas, que possuem entre 1m e 1,5m de profundidade.

Uma vez posicionados em definitivo, as colunas de tubos recebem um revestimento nas partes que foram soldadas, são interligadas e então é feita a recomposição do terreno e drenagem.

Os tubos utilizados no o trecho Cabiúnas-Vitória foram produzidos pela Confab, e cada um tem 12 m de comprimento. A Transportadora Gasene, responsável pelo gerenciamento do projeto, foi a responsável pela aquisição de cerca de 25 mil tubos API 5L X70 (PSI), revestidos de polietileno extrudado e tripla camada de resistência contra corrosão e umidade.

Segundo o gerente de Dutos da Petrobras, a vida útil deste tipo de equipamento é de 25 anos. “Mas isso depende muito do tipo de produto que é transportado ali. Nesse caso, em que lidamos com gás seco, é provável que essa vida útil seja até o dobro”, avalia.

Logística

Araripe explica que outro ponto importante da implementação deste trecho do Gasene foi a logística empregada. As obras do Gasoduto Cabiúnas-Vitória foram divididas em três frentes de trabalho: Cabiúnas-Campos (Trecho A, com 78 km de extensão), Campos-Piúma (Trecho B, com 126 km), e Piúma-Serra, (Trecho C, com 99 km).

Para ele, o trunfo maior foi determinar os trechos de obra mais complicados e colocar, desde o início do processo, mais equipes trabalhando nesses locais.
Também o acompanhamento diário de produção, o acompanhamento, pela Petrobras, do desenvolvimento da obra a partir de relatórios semanais e mensais e a análise integrada de projetos foram fundamentai

s para garantir a entrega da obra antes mesmo do prazo previsto.

“Nós não esperávamos concluir o Trecho A para começar o B. Colocavamos todos os trechos em operação simultaneamente. Se verificávamos que alguma empresa estava com os trabalhos atrasados, íamos logo lá para saber os motivos. Previmos, inclusive, que se alguma empresa contratada terminasse antes do prazo, assumiria outro trecho que estivesse mais atrasado. E começamos a negociar as desapropriações de terras um ano e meio antes da implementação das faixas”, explica Celso Araripe.

Ele lembra que a armazenagem dos tubos também foi estratégica. A empresa Technion foi contratada para gerenciar o processo e terrenos em Guarapari e Campos foram alugados e preparados para receber o material.

Último trecho já em construção

O terceiro, último e maior trecho do Gasoduto Sudeste-Nordeste é o Cacimbas (ES)-Catu (BA), com 995 km. O contrato de engenharia, suprimento, construção e montagem do gasoduto foi assinado em dezembro de 2007 também com a estatal chinesa Sinopec, responsável pela execução do trecho Cabiúnas-Vitória. A autorização de serviço foi dada no início de março e o prazo para entrega está previsto para daqui a 25 meses.

Tanto a Licença de Instalação, concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), quanto a Autorização de Construção (AC), emitida pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foram obtidas no ano passado.

Para a execução do projeto, a Sinopec sub-contratou as seguintes empresas:

Galvão Engenharia, responsável pelo Trecho 1A, de 103 km;
Companhia Nacional de Dutos (Conduto), para o Trecho 2A, de 157 km;
Bueno Engenharia, para o Trecho 2B, de 172 km;
Consórcio Mendes Júnior/Azeredo Travassos, para o Trecho 3A, de 178 km;
Companhia Nacional de Dutos (Conduto), para o Trecho 3B,de 177km;
Megadrill South América, para execução de furos direcionais nos rios São Mateus,Mucuri, Jucuruçu Norte e Jucuruçu Sul, Cachoeira e Paraguaçu (HDD2)

A própria Sinopec ficou encarregada da execução dos furos direcionais nos rios Itaúnas e Alcobaça (HDD1) e do Trecho 1B, de 163 km.

O trecho Cacimbas-Catu permitirá o transporte de até 20 milhões de m3 de gás natural por dia para o Nordeste. Este volume adicional, que será produzido na Bacia do Espírito Santo, representa quase o dobro do que a região consome atualmente.

O volume de gás natural que poderá ser transportado a partir deste trecho, adicionado ao GNL (gás natural liquefeito) recebido no terminal de regaseificação de Pecém (CE) – com capacidade de até 7 milhões de m³/ dia, vai permitir a geração de 1.597 megawatts de energia no Nordeste, a partir de 2010. Atualmente, a produção de energia elétrica a gás natural na região é de apenas 221 megawatts.

Financiamento do BNDES

Para viabilizar o projeto, foram assinados com o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) os contratos de financiamento para a construção deste terceiro trecho do gasoduto, no valor equivalente a R$ 4,51 bilhões. Parte desses recursos será proveniente do repasse de um financiamento obtido pelo BNDES do China Development Bank (CDB), instituição financeira chinesa, no valor de US$ 750 milhões.

O Cacimbas-Catu vai ligar a Estação de Cacimbas, em Linhares (ES), à Estação de Catu, na Bahia. As obras foram divididas em seis trechos. A Sinopec será a responsável direta pela construção do trecho entre São Mateus (ES) e Prado (BA). Os outros trechos são: Linhares-São Mateus, de responsabilidade da Galvão Engenharia; Prado-Itapebi, pela Conduto; Itapebi-Itajuípe, pela Bueno Engenharia; Itajuípe-Valença, sob os cuidados do consórcio formado pela Mendes Junior e Azevedo Travassos; e Valença-Catu, também sob a responsabilidade da Conduto.

As obras desse trecho vão atravessar 51 municípios e vão gerar seis mil empregos diretos e cerca de 17 mil indiretos. Segundo Celso Araripe, há cerca de duas mil fichas de desapropriação e aviso de interferência (pontos onde os dutos cortam rodovias e estradas de ferro).

Os tubos, comprados também da Confab, são de 28 polegadas e serão armazenados pela empresa EIT – responsável, também, pela preparação dos terrenos em São Mateus, Eunápolis, Teixeira de Freitas, Camacan, Laje e Barra do Rocha. Já foram entregues 880 km de tubos e o restante já está fabricado.

Mais uma vez, a logística da obra será fundamental para garantir o bom andamento do projeto. Araripe explica que as seis frentes de trabalho são independentes e trabalham com o mesmo horizonte de prazo: 25 meses.

O trecho mais difícil será entre Itajuípe e Valença, nos 60 km de serra. Ao mesmo tempo, é também neste trecho onde a frente de obras encontrará faixa já existente para ser aproveitada, em função da existência ali do Oleoduto Recôncavo Sul da Bahia. “De qualquer forma, é preciso ter muita atenção nessa parte, para não prejudicar a operação do oleoduto”, alerta Araripe.

O gerente da Petrobras ainda se preocupa com a travessia de oito rios, onde será necessário o uso da perfuratriz de furo direcional. A operação foi dividida em dois pacotes: o primeiro, com dois furos, que deverão ser realizados pela Sinopec nos rios Itaúnas e Alcobaça. O segundo pacote, com seis furos, ficará a cargo da empresa subcontratada Megadrill, que fará o trabalho nos rios Mucuri, Jucuruçu do Norte e do Sul, Paraguaçu, São Mateus e Cachoeira. “Este último, de acordo com as análises do terreno, passa por cima de rocha pura, deve levar de quatro a cinco meses para atravessar os dutos”, avalia Celso Araripe.

Fonte: Estadão


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