Quando se imagina, acompanhando as atividades da Petrobras, que ela permanecerá em evidência a partir dos efeitos destacados em determinada data-marco, novos acontecimentos e novas descobertas empurram a empresa para outras ocorrências que lhe dão ainda maior visibilidade, tanto aqui quanto no exterior.
No ano 2000, por exemplo, ela obteve o recorde mundial na produção em águas profundas (1.877m); em 2006, depois de um trabalho de décadas, conquistou a auto-suficiência, com o início da operação produtiva da plataforma P-50 no Campo de Albacora Leste, em Campos. E logo em seguida, ela começaria a construir o conjunto das obras do Campo de Mexilhão, na Baía de Santos.
Tudo caminhava assim, na suposição de que daí em diante a empresa se limitaria ao cumprimento da rotina, quando veio o anúncio da descoberta do Campo de Tupi. O presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, chegou a dizer que, com a nova descoberta, o Brasil deveria subir do 24° lugar no ranking de maiores reservas do mundo para 8° ou 9° colocação. Isso, porque o Campo de Tupi significaria acréscimo de 5 a 8 bilhões de barris de petróleo à produção atual, que é de 14,4 bilhões.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra
A partir da notável descoberta, a Agência Internacional de Energia (AIE) e outros órgãos e especialistas arrefeceram um pouco os ânimos, considerando que, embora aquela seja mesmo a maior descoberta já feita no País, há que se pensar em termos reais: não será nada fácil explorar aquele pólo. Primeiro, porque ele se encontra a 2 mil m de profundidade e, segundo, porque, até alcançá-lo, será necessário romper uma camada compacta de sedimentos e sal da ordem de 6 mil m. Por isso, por mais que a Petrobras detenha tecnologia sofisticada para atuar em águas profundas, há segredos, no fundo do mar, que devem ser levados em conta. Alguns técnicos, no entanto, ponderam que a perfuração dessa camada de pré-sal não deverá ser tão problemática quanto se imagina. Colocada a questão sob esse prisma, o Brasil estará, sim, no seleto grupo dos maiores países produtores de petróleo do mundo.
Contudo, enquanto, a partir do Campo de Tupi, a empresa desenvolve as obras tendo em conta outra data-marco, as frentes de trabalho prosseguem de Norte a Sul, ampliando refinarias, construindo dutos e gasodutos, nas selvas e sob rios caudalosos. No Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) e em outras áreas científicas são desenvolvidas pesquisas tecnológicas voltadas para a exploração dos novos campos descobertos. Tudo, entretanto, conflui para o mesmo objetivo: o plano estratégico 2020.
O plano estratégico
O plano estratégico é abrangente – afinal tem em vista o horizonte até 2020 – mas leva em conta possibilidades reais. A empresa quer aumentar a produção e as reservas de petróleo e gás, mantendo o reconhecimento pela excelência na atuação em E&P.
Ela quer expandir a atuação integrada em refino, comercialização, logística e distribuição; desenvolver e liderar o mercado brasileiro de gás natural e atuar, de forma integrada, nos mercados de gás e energia elétrica, com vistas para o conjunto dos países da América do Sul. E pretende ampliar a participação no segmento petroquímico, atuando, de modo global, na comercialização e logística de biocombustíveis. Nesse caso, quer liderar a produção nacional de biodiesel, aumentando a produção no negócio de etanol.
Levando em conta os segmentos de atuação, a Petrobras atualizou o plano de investimentos par ao período 2008-2012. Ele prevê investimentos, nesse período, de US$112,4 bilhões, destinando US$ 65,1 bilhões para E&P; US$ 11,6 bilhões para exploração e US$ 53,5 bilhões para a produção. No geral, é prevista uma média anual de investimentos, no período, da ordem de US$ 22,5 bilhões.
As revisões ficavam por conta da incorporação de novos projetos nas atividades da empresa. Os novos projetos incluem, por exemplo, exploração; recuperação de campos com alto grau de exploração; obras de suporte e infra-estrutura; o Plangás; refino, transporte e comercialização e as novas unidades do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). O Comperj, com estimativas de investimentos da ordem de US$ 8,4 bilhões, marca a retomada da Petrobras no segmento petroquímico e deverá transformar o perfil sócio-econômico da região em que ele vai operar.
Previsto para entrar em funcionamento em 2012, o empreendimento poderá gerar uma economia para o País calculada em cerca de US$ 2 bilhões/ano em divisas, uma vez que, com ele em operação, haverá aumento da capacidade nacional de refino de petróleo pesado com a conseqüente redução da importação de derivados, como nafta, e de produtos petroquímicos. A terraplenagem da área do Comperj começou este mês (março), depois da concessão da licença ambiental.
Pormenorizando um pouco mais outros de seus empreendimentos, a empresa informa que pretende ampliar a produção na Bacia de Campo (Roncador, Marlim Sul, Papa Terra, Maromba, Jubarte Fase II, Cachalote, Baleia Franca e Baleia Anã); desenvolver a produção na Baía de Santos, que inclui Mexilhão, Uruguá-Tambaú e Pirapitanga; Bacia do Espírito Santo (Golfinho e Peroá-Cangoá); desenvolver a produção também nos Estados Unidos (Cascade, Chinook e Cottonwood) e na Argentina, Nigéria, Angola, Venezuela, Colômbia e Turquia. Somente para esses projetos, a previsão é de que ela disponibilizará US$65 bilhões.
No segmento de gás e energia, a empresa reúne, como projetos principais, os gasodutos Gasene, malhas nordeste e sudeste, trecho sul do Gasbol, Urucu-Coari-Manaus e Gasduc III; gás natural liquefeito (GNL); as térmicas de Cubatão, Três Lagoas, Canoas e Termoaçu; usinas eólicas e os projetos de gás e energia na Argentina e em outros países. Para esses projetos, ela destina investimentos de US$6,7 bilhões. Os investimentos no segmento de biocombustíveis somam US$1,5 bilhão.
No fundo, conforme registra a direção da Petrobras, a expectativa, considerando as bases do plano estratégico, é a de que até o ano 2020 ela se torne uma das cinco maiores empresas integradas de energia do mundo. As obras atualmente em curso, em todas aquelas áreas (algumas das quais são enfocadas nessa edição de O Empreiteiro), tem em vista aquele objetivo.
Fonte: Estadão