Foram 28 meses de obras, investimentos estimados em R$ 3 bilhões e cerca de 13 mil homens trabalhando no Projeto Terceira Pelotização da Samarco, cujas obras chegam ao fim na primeira quinzena de abril. A intenção da Samarco, segundo o superintendente do projeto, Gilson Arantes, é que a entrega formal festiva aconteça na segunda quinzena de abril, quando a empresa coloca em funcionamento um dos seus mais expressivos projetos que significará elevar a capacidade de produção em 54%. A exportação passará de 15 milhões de t de minério de ferro para 22,5 milhões/t. O objetivo é consolidar sua posição de segunda maior exportadora de pelotas de minério de ferro no mercado transoceânico mundial.
As obras de expansão da Terceira Pelotização compreenderam a construção de uma nova usina de concentração em Germano, entre os municípios de Mariana e Ouro Preto, MG; um mineroduto de 396 km de extensão, paralelo ao que se encontra em funcionamento de Minas ao Espírito Santo, com capacidade para bombear 7,6 milhões de t de polpa de minério ano; e as obras da terceira usina de pelotização em Ubu, também no Espírito Santo. O projeto foi financiado com 50% de recursos próprios e 50% de empréstimos no mercado financeiro.
Arantes frisa que foram inúmeros os desafios em um projeto que cumpriu o cronograma, não estourou o orçamento e significou um novo paradigma para a construção industrial no País. Com cerca de 34 milhões de homens/horas trabalhadas, a empresa ostenta hoje, depois desses meses de obras, alguns dos melhores índices em segurança de trabalho.
“Nossos números hoje são os melhores na história do País. Demonstram nossa preocupação com o quesito segurança de trabalho, já que contratamos somente aquelas empresas com históricos satisfatórios nessa área”, garante o superintendente do Projeto. A empresa investiu cerca de R$ 60 milhões em saúde e segurança.
Arantes afirma que a Samarco criou um comitê de segurança que se reunia de três em três meses com todos os diretores das empresas. “Nessas reuniões, a questão de segurança e aqueles incidentes dignos de registro eram mostrados, avaliados e discutidos. E eram os próprios diretores das empresas os responsáveis por essas apresentações. Isso significou uma nova forma de se trabalhar, porque além de contar com o comprometimento das empresas prestadoras de serviço, ao se fazer a comunicação de um problema, a experiência era dividida, o que significava um aprendizado”.
Condições adversas
A Samarco, cujo controle acionário é dividido entre a Companhia Vale do Rio Doce e a BHP Billion (50% cada uma), investiu R$ 1,2 bilhão em Minas e R$ 1,8 bilhão no Espírito Santo. O Projeto de Terceira Pelotização foi aprovado pelos acionistas da empresa em outubro de 2005, com a projeção de um registro de faturamento anual da ordem de US$ 1,5 bilhão a partir de 2009, depois de sua implantação. Porém, os percalços não foram somente os de manter sob absoluto controle os riscos inerentes a trabalhos realizados em condições geológicas, geográficas e climaticamente adversas.
Nos quase 400 km de construção do mineroduto, a empresa reuniu-se com nada menos que 1.200 proprietários de terras da chamada faixa de servidão da obra. Também teve que ultrapassar dois grandes rios, o Piranga e o Itapemirim, sempre com a preocupação da preservação ambiental. “Fizemos também obras especiais como a que aconteceu na área de manguezal na cidade de Anchieta, no Espírito Santo. Nesse local, fizemos um furo direcional, e isso significou não ter acesso à superfície, preservando o manguezal”, afirma Arantes.
Segundo o superintendente do projeto, os índices de eficiência ambiental da Samarco são considerados positivos. A empresa realiza uma gestão ambiental abrangente, que vai desde ações diretamente relacionadas com o controle de recursos naturais até projetos de educação ambiental junto a empregados e a comunidades do entorno das unidades industriais. Somente em investimentos em projetos e atividades de controle ambiental, a empresa estima um valor de R$ 150 milhões para a Terceira Pelotização.
Outra medida ambiental executada pela Samarco, no entorno da nova usina de concentração, em Germano, nas proximidades do rio Piracicaba, foi a revegetação do terreno sacrificado pelas intervenções das obras. O plantio de gramíneas sobre os taludes de aterro vai manter a estabilidade do solo e conter o carreamento de sedimentos em direção ao rio. A grama ocupou cerca de um hectare. Adicionalmente, foi executado um sistema de drenagem para escoamento direcionado das águas pluviais.
Esses são apenas alguns exemplos da complexidade do projeto. A compensação esteve no fato de que as construtoras responsáveis pelos serviços, com um amplo histórico de experiências em obras industriais, mantiveram controle absoluto sobre todas as obras.
Mão-de-obra especializada
Uma dessas empresas foi a Construtora Liderança, responsável pelas obras civis complementares na mina de Germano e também pelas obras do forno de pelotização, a cargo da Outokumpu, que subcontratou a construtora. Essas obras incluíram as fundações e as estruturas. Segundo o superintendente de desenvolvimento da empresa, Paulo Sérgio Braga Fernandes, o contrato está em fase final e, para a conclusão, faltam apenas alguns serviços de acabamento. “O nosso maior desafio nesse empreendimento foi cumprir os prazos, mantendo o mesmo padrão de qualidade e de segurança que temos desempenhado durante toda a vida da empresa”, diz.
Fernandes destaca que a atual conjuntura do país e o crescimento da indústria da construção civil, principalmente na área de mineração, resultaram em uma demanda maior de insumos básicos, mão-de-obra especializada e equipamentos. “O grande desafio foi, com esse crescimento, atender os prazos contratados”, afirma.
O fato também é frisado pelo superintendente do projeto na Samarco, Gilson Arantes, que destaca os convênios firmados com as federações das indústrias de Minas Gerais e do Espírito Santo, além da criação de dois processos de qualificação de mão-de-obra, um na cidade de Anchieta e outro em Mariana, sempre com a proposta de contratar mão-de-obra local. “A questão da mão-de-obra é um desafio para o Brasil, cuja infra-estrutura é muito precária e há muito o que se fazer. Se o país continuar crescendo e não tiver a preocupação em especializar e qualificar mão-de-obra, haverá um problema”, afirma. Arantes afirma que depois das obras da Terceira Pelotização, houve um aumento da empregabilidade nas cidades sob influência do projeto.
Paulo Fernandes, d
a Liderança, afirma que não houve problemas na obra que não tenham sido contornados. “Enfrentamos esse boom na construção civil industrial, passamos por problemas de greves que foram contornados. Não houve nenhum momento com problema significativo a ponto de comprometer qualquer prazo”, diz.
As obras civis do forno da Terceira Pelotização compreenderam as estruturas de concreto armado das fundações do forno, do prédio, sete ventiladores, quatro precipitadores, três chaminés, uma torre de resfriamento, bases para suportes de dutos, peneiramento e pipe rack. O conjunto compreendeu os seguintes qualitativos: 30.000 m³ de escavação; 12.000 m³ de concreto; 16.000 m³ de forma; 817.000 kg de aço; 40.000 kg de chumbadores e inserts metálicos e 23.000 m³ de reaterro.
A Liderança optou pelo uso de fôrmas pré-montadas metálicas, escoramentos, cimbramentos e andaimes em estrutura metálica. Essa opção permitiu a obtenção dos índices de produtividade necessários ao atendimento das metas e contribuiu para eliminar o desperdício. “Nós sempre nos preocupamos em racionalizar projetos, pré-moldando e diminuindo o trabalho artesanal, procurando sempre industrializar todo o processo”, diz Fernandes.
Alternativas inteligentes
Outra empresa envolvida no projeto foi a Paranasa Engenharia, responsável pelas obras de fundações e estruturas de concreto das áreas de recebimento de polpa, filtragem, pelotamento, espessadores, roller press, área de mistura, moagem de carvão, transportadores de correia, torres de transferência, serviços auxiliares, envelopes elétricos e sistemas de combate a incêndio.
Segundo o engenheiro Gustavo Baião, da área de planejamento da Paranasa, foram várias as dificuldades, as quais foram vencidos com alternativas inteligentes de engenharia para a execução da obra. “A utilização do steel deck e da fôrma deslizante em paredes de concreto foram algumas dessas alternativas encontradas para podermos dar ‘velocidade’ à obra, com qualidade e segurança”, salienta.
O steel deck foi utilizado, segundo Baião, por vários motivos. Dentre eles por ser uma fôrma para laje que não requer cimbramento/escoramento, e por esse motivo não precisa ser removida depois da concretagem, além de diminuir a quantidade de aço necessário na estrutura de concreto, já que ela tem função estrutural.
Essa alternativa também funciona como plataforma de serviço e proteção aos operários que trabalham nos andares inferiores; sua montagem pode ser realizada independentemente das condições atmosféricas e facilita canalizações para a passagem de fios elétricos e tirantes de sustentação.
Entre os volumes da obra estão 127.854 m³ de escavação; 75.324 m³ de reaterro; 62.162 m³ de fôrma; 2.905.089 kg de armação (CA-25, CA-50, CA-60); 15.505 m² de steel deck; 59.901 m³ de cimbramento; 28.596 m³ de concreto; 87.702 kg de inserts metálicos e 18.826 m de eletroduto para rede de dutos.
A questão da segurança do trabalho, tão cara à Samarco conforme frisado pelo superintendente da Terceira Pelotização, Gilson Arantes, também foi destaque nas obras da Paranasa, que teve mais de 1.000.000 de horas/homens trabalhados sem acidentes SPT (sem perda de tempo) e instituiu o chamado “Caça Perigo”. Segundo Baião, esse programa tinha como objetivo antecipar possíveis causas de acidentes ou incidentes. A empresa também criou naquela obra uma ‘escolinha’, onde seus funcionários tinham a oportunidade de aprender, ou melhorar, sua escrita e leitura.
“Para a Paranasa, não basta fazer obras. Temos que fazer obras antecipando necessidades, viabilizando soluções inteligentes de engenharia que promovam a evolução dos processos construtivos e agreguem valor à Paranasa e aos negócios do cliente”, diz Baião.
Desafios na geologia e topografia
Entre os desafios enfrentados pela Mascarenhas Barbosa Roscoe, que inicialmente começou em consórcio com a Sempre Viva, para depois seguir sozinha, o presidente da empresa, Luiz Fernando Pires destaca as características da obra, que apresentou volumes grandes de concreto e aço e a geologia e topografia do terreno, que apresentaram dificuldades muito grandes.
“Tivemos que empregar uma mão-de-obra superior ao que estimamos. Concluímos a etapa principal da obra em setembro do ano passado, mas enfrentamos, na passagem de 2006 para 2007, um período de muita chuva, o que complicou ainda mais nossos serviços. Tivemos problemas com o solo, já que tinha-se uma previsão para executar a fundação das bases em uma determinada elevação e o solo era mais fraco do que o previsto”, destaca Pires.
Parceira da Samarco desde 1975, neste contrato a Mascarenhas executou serviços de terraplenagem, drenagem industrial, pavimentação e urbanização, fundações e superestruturas de grande porte, aterramento das estruturas de concreto, montagem de lajes steel deck, montagem de estruturas pré-moldadas, execução de bueiro Armco para drenagem, execução de túnel em super Spam Armco e edificação para subestação elétrica.
Pires destaca que os principais volumes da obra foram os 50.934 m³ de concreto; 4.680.110,38 m³ de terraplenagem; 5.716.975,91 kg de aço; 96.40,41 m²; 62.288,46 m³ de cimbramento metálico.
Sempre atentos ao rigor da mineradora quanto ao seu programa de segurança, a Mascarenhas executou os serviços atendendo todas as diretrizes do sistema de gestão do Plano de Segurança, Saúde Ocupacional, Meio Ambiente e Comunidade da Samarco – Programa SSMAC. “Não houve ocorrência de nenhum acidente com perda de tempo durante todo o período de execução deste contrato, totalizando 3.875.329 de homens horas trabalhados sem acidentes classificados”, aponta Pires.
Logística complexa
Já a MIP Engenharia iniciou sua participação em 2006, através de um consórcio com a Milplan, quando foi contratada para realizar serviços de montagem eletromecânica do Projeto Terceira Pelotização, na mina de Germano, em Mariana. O diretor-presidente da empresa, João Bosco Varela Cançado observa que para a realização dos trabalhos, a empresa cuidou de uma logística complexa, pois os pátios para a estocagem dos materiais ficaram locados em áreas distantes do local de montagem.
“Outro desafio foi a difícil topografia da área de montagem dos equipamentos, bastante estreita e com encostas íngremes, o que requisitou planejamento de acesso e manuseio. A obra está com 90% do escopo do trabalho concluído, a planta de britagem já está em teste. Para a próxima etapa a MIP irá concluir o TCLD, o peneiramento e a EB4 (estação de bombeamento)”, afirma Cançado.
Respons&aacu
te;vel também pela montagem industrial das minas de Alegria 8 e 9 e Fazendão, dentro do Terceira Pelotização, a MIP montou os seguintes equipamentos: sistema de transporte do ROM de Fazendão (TCLD), peneira vibratória, britador primário, britador secundário e estação de bombas de EB4.
Comunicação com as comunidades
Durante a construção do mineroduto, a Samarco passou por 25 cidades e sempre, segundo Gilson Arantes, fez investimentos sociais em alguns equipamentos dessas cidades como creches, centros de saúde. Foram investidos R$ 4 milhões na área social.
O superintendente destaca que a comunicação entre comunidade e empresa também foi um ponto forte durante as obras, com a produção de boletins voltados tanto para as comunidades desses municípios, como também para os funcionários. “Estávamos o tempo inteiro buscando uma forma de comunicação: fizemos um teatro para explicar como iria funcionar a obra; cinema com preocupação de levar cultura às comunidades”, observa.
As cidades envolvidas no projeto, os municípios de Mariana e Ouro Preto, em Minas, e Anchieta, no Espírito Santo, aumentaram as arrecadações pelo recolhimento do Imposto Sobre Serviço (ISS), durante o período das obras de construção/montagem das novas instalações e pela repartição das receitas tributárias da União e dos Estados. “Os tributos estaduais, para Minas Gerais e Espírito Santo, foram estimados em R$ 60 milhões e gerados pela aquisição de bens, mercadorias e contratação de fretes e transporte”, diz Arantes.
Fonte: Estadão