Lições que o Brasil deve assimilar com a África do Sul

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Além dos estádios para o evento mundial, serão construídos 52 campos de futebol no país, visando atender a crianças que praticam o esporte nas ruas

Greves de trabalhadores e atrasos nas obras. Há pouco mais de três meses da realização da copa, o principal estádio de abertura da copa, o Soccer City, ainda está correndo com as obras de acabamento. Estas dificuldades não impedirão a conclusão a tempo das instalações para a realização da Copa do Mundo na África do Sul.

Este não será o principal desafio a ser superado por esse país, que, depois de uma guerra civil contra o separatismo racial, luta para inserir-se no mundo globalizado. São as notícias sobre a violência na região que estão tirando o sono dos organizadores, a ponto de levar Joseph Blatter, presidente da FIFA (Federação Internacional de Futebol), a desconfiar de um complô. "Onze milhões de turistas visitam anualmente a África do Sul", defendeu Blatter. "Parece-me que há uma espécie de movimento anti-África, que não está correto", acrescentou. O medo da criminalidade afastou principalmente os torcedores da Alemanha e Reino Unido. "Prevíamos 400 mil a 500 mil visitantes, mas serão menos. Quantos? Não sei", explicou Jérôme Valcke, secretário-geral da FIFA.

A inflação dos preços nas viagens e alojamentos seria outro fator de desmotivação do público, sem falar na falta de tradição da população local em comprar ingressos antecipados.

Todos esses elementos servem de alerta para os organizadores da Copa do Mundo do Brasil. A simples realização da Copa do Mundo não é garantia de sucesso. A copa sul-africana, que exigiu a ampliação dos três aeroportos internacionais existentes além da construção de mais outro aeroporto, levanta o debate sobre o volume de investimento realizado, nem sempre aplicado em obras prioritárias posteriormente para o habitante local.

Legado

Desperdício e ociosidade são conceitos dos quais a Fifa quer se afastar. Até essa década, a entidade manteve-se afastada de questões políticas, sociais, e econômicas dos países-sede. No entanto, a Copa de 2010 procura conciliar o espetáculo do futebol, em que os estádios são os principais palcos, com um novo modelo de inserção junto à população do país sul-africano. Com isso, terminada a Copa, ficam legados como melhorias no transporte e centros de lazer e atendimento social.

Um deles é centro Football for Hope, Khayelitsha, na região metropolitana da Cidade do Cabo, o primeiro de 20 que deverão ser construídos no país, como foco em ações de saúde e educação – a disseminação da AIDS é considerada um dos maiores desafios à saúde dos jovens na região.

O centro foi construído em uma área conhecida pelos altos índices de violência e criminalidade, devendo oferecer serviços de saúde pública e educação informal, escritórios, áreas comuns para encontros comunitários e um gramado de futebol. A gestão fica a cargo de uma organização sul-africana sem fins lucrativos que usa o futebol para educar os jovens sobre o HIV e a AIDS.

Em paralelo, a Fifa lançou o Projeto Legado, que promoverá a construção de 52 campos de futebol – um para cada subdivisão territorial do país – contando com apoio do Fundo de Distribuição da Loteria Nacional.

Estádios buscam identificação
com a cultura local

A necessidade de construir novos estádios fez emergir uma arquitetura cheia de referências culturais, políticas e históricas da África do Sul. Até então, os estádios existentes criados na época do regime do Apartheid, tinham uma feição exclusivista voltados para o rugbi, esporte mais praticado pelos brancos. Por isso, os novos estádios, especialmente o Soccer City – inspirado no tradicional vaso artesanal africano – e o Estádio de Nelspruit – com pilastras em forma de girafa e a arquibancada listrada em preto e branco lembrando os desenhos das zebras – destacam-se como símbolos de reafirmação cultural e de identidade do povo sul-africano.

Soccer City – Sede da abertura do evento, o estádio foi totalmente reconstruído aproveitando-se algumas estruturas de um antigo estádio onde Nelson Mandela fez seu primeiro discurso após ser libertado da prisão, em 1990. Situa-se na entrada do Soweto caracterizado por desenho inspirado no calabash, o tradicional vaso artesanal africano.

Palácio dos Esportes Royal Bafokeng – O estádio leva o nome do povo bafokeng, que vive na região. Em 1999, os bafokeng conquistaram direitos sobre 20% da platina obtida nas minas locais, tornando-se co-proprietários. Com capacidade para 44.530 espectadores, fica a 25 minutos de carro de Sun City e a 30 minutos de Pilansberg.

Estádio Green Point – Considerado um dos projetos mais bonitos, pela localização às margens do oceano, e tendo como pano de fundo as montanhas da cidade. Será palco de uma das semifinais. Com capacidade para 66.005 pessoas, foi construído parcialmente em um terreno antes utilizado como campo de golfe.

Estádio Moses Mabhida – Inspirado na bandeira nacional da África do Sul, com arco que representa a união do povo em torno do esporte. Com capacidade para 69.957 espectadores sentados, foi projetada como arena multiuso e um anfiteatro completo, com teleférico que leva até uma plataforma de observação 100 m acima do gramado. Terá outras instalações esportivas, além de restaurantes, lojas, áreas para crianças e uma passarela de pedestres que ligará o complexo à praia.

Estádio Ellis Park – A maior novidade para o evento foi a construção de mais um setor na arquibancada norte, com aumento de quase 9% no número de assentos.

Estádio Free State – O Free State já foi palco de importantes jogos de futebol e rúgbi e teve a capacidade ampliada de 38 mil para 45.058 espectadores durante as reformas.

Estádio Nelson Mandela Bay Localizado às margens do Lago North End, o Estádio Nelson Mandela Bay foi o primeiro a ficar pronto para a Copa e irá sediar a disputa pelo terceiro lugar, além de uma partida válida pelas quartas-de-final, e outros seis jogos. Entre os atrativos, estão o desenho da cobertura e a vista espetacular para o Lago North End.

Estádio Mbombela – Mbombela é uma palavra do idioma suázi, uma das 11 línguas oficiais da África do Sul, e significa literalmente "muita gente reunida em um pequeno espaço". Com capacidade para 43.589 pessoas, o complexo está localizado em Nelspruit, capital da província de Mpumalanga, a 7 km do centro da cidade e a 12 km do aeroporto. Com pilastras que lembram o desenho da girafa, e arquibancada em preto e branco, como as cores da zebra, apresenta várias referências aos recursos naturais da província, que possui o famoso parque de nacional de Kruger.

Estádio Peter Mokaba – Seu desenho foi inspirado no Baobá, a árvore símbolo da região, com quatro "troncos" gigantes em cada canto do estádio sustentando a cobertura e acomodando rampas de circulação vertical e núcleos de serviços. Possui capacidade para 45.264 pessoas.

Estádio Loftus Versfeld – Um dos mais antigos da África do Sul, tendo sido utilizado para sediar grandes eventos esportivos desde 1903. Com capacidade atual para 49.365 pessoas, situa-se bem no coração de Tshwane/Pretória. Já recebeu várias competições importantes, como o Mundial de rúgbi em 1995 e a Copa das Nações Africanas em 1996.

Fonte: Estadão


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