Haiti

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Reinicio a conversa com os leitores, no site da Revista O Empreiteiro, falando que os escombros do Haiti são os escombros do Estado do Haiti. .

As ruas de Porto Príncipe mantinham a característica do traçado da época da Colônia. Prolongavam-se sinuosas, estreitas, ocupada pela multidão miserável e sem esperança.

O país, explorado até a medula pelos colonizadores e, depois, por administrações locais corruptas e coniventes com o processo de exploração, não tinha como crescer. E, no entanto, seu povo não se dobrou. A violência acaba sendo um traço marginal, num povo que quer trabalhar e se desenvolver como qualquer outro, em qualquer região do mundo.

Acreditamos que a tragédia que se abateu sobre o Haiti e cujos desdobramentos vão permanecer como uma marca na alma desta e das gerações futuras, teria sido menor, se o país contasse com um Estado organizado, capaz de ordenar o crescimento, mínimo que fosse, de sua economia, em seus diversos segmentos – indústria, agricultura, comércio, turismo – cuidando paralelamente da educação, habitação, saúde e infraestrutura.

Se o Haiti contasse com eficiente sistema de transportes, rede de abastecimento de água e saneamento, postos de saúde, iluminação pública, etc., o impacto do terremoto seria, como o foi, extremamente traumático, mas as condições para a remoção de escombros, socorro às vítimas e recolhimento dos corpos e sepultamento, seriam outras. Ao menos, o trabalho que a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, a Minustah, vem realizando, não estaria começando praticamente do zero, na tentativa de organizar o caos que a ausência do Estado provocou.

O nome Haiti traz à lembrança o notável romance Os donos do orvalho, que o escritor Jacques Roumain, daquele país, escreveu sobre os seus patrícios. A obra, publicada no Brasil nos anos 1950, tem uma mensagem que hoje se atualiza:

"Somos sem sorte, é verdade. Somos miseráveis, é verdade. Mas ainda não conhecemos a força que somos. Algum dia, nós nos levantaremos de um lado a outro do país e convocaremos uma assembleia geral dos donos do orvalho, sairemos todos da pobreza e plantaremos uma nova vida".

Fonte: Estadão


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