Quem são Comporte e CRRC chinesa  que vão construir a linha intercidades SP-Campinas

Compartilhe esse conteúdo

O Consórcio C2 Mobilidade sobre Trilhos, único a apresentar proposta, venceu o leilão promovido pelo governo paulista para administrar o Trem Intercidades (TIC) São Paulo-Campinas – Eixo Norte, que vai ligar os 101 km entre a capital e a cidade do interior por trem. A oferta de desconto do consórcio na contraprestação foi de 0,01% – o edital previa que o vencedor seria o que oferecesse o maior desconto sobre o valor máximo de contraprestação, de R$ 8,06 bilhões, ou sobre o aporte, de R$ 8,9 bilhões.

O investimento total no projeto, que inclui também a operação do Trem Intermetropolitano (TIM) – uma nova linha a ser construída para atender passageiros em Jundiaí, Louveira, Vinhedo e Valinhos até Campinas – e a realização de obras de melhorias na Linha 7-Rubi, será de R$ 14,2 bilhões e o prazo de concessão é de 30 anos. Atualmente a Linha 7 está sob a gestão da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM), que liga a estação Barra Funda a Jundiaí, e passará para as mãos do consórcio.

Nas viagens com paradas, a linha será formada pela atual Linha 7 da CPTM e uma extensão até Campinas, a ser construída e que deverá está operando em 2029. A outra linha, prevista para 2031, será uma viagem expressa de São Paulo a Campinas, com parada apenas em Jundiaí, e duração estimada de 1h04. A tarifa será de, no máximo, R$ 64.

No edital da linha expressa está previsto que a empresa vencedora implante trens de média velocidade, que atinge até 140 km/h, tornando-se o mais rápido transporte sobre trilhos do País atualmente. Segundo estudos do governo, deverão ser transportadas quase 550 mil pessoas por dia no primeiro ano de operação completa do projeto.

Comporte opera o metrô de BH

O grupo vencedor é liderado pela brasileira Comporte Participações e pela chinesa CRRC e foi o único credenciado no leilão. Na área do transporte sobre trilhos, a Comporte atua em dois projetos: a operação do Metrô de Belo Horizonte, iniciada no ano passado, e na operação do VLT na Baixada Santista, que liga São Vicente a Santos.

Fundado em 2002, a Comporte Participações é uma holding formada em sua maioria por empresas de transporte rodoviário e urbano de passageiros, cargas e turismo. O grupo é controlado pelos fundadores da companhia aérea Gol, que tem Nenê Constantino e filhos como principais acionistas.

O grupo tem atuação em 9 Estados, incluindo o Distrito Federal. Atende a mais de 700 cidades com 7.200 ônibus (com urbanos, suburbanos, fretamento e rodoviários) e possui 16 mil funcionários. No ano passado, o grupo registrou receita líquida de R$ 2,9 bilhões, um crescimento de 18% em relação ao ano anterior.

Apesar dos resultados positivos, o grupo enfrenta problemas com sua companhia aérea. No final de janeiro, a Gol, que tem cerca de 30% do mercado doméstico brasileiro de aviação, entrou com pedido de recuperação judicial na Justiça dos EUA, por conta de uma dívida que soma quase R$ 41 bilhões. A empresa conseguiu aval da corte de Nova York para um tipo de empréstimo que dá preferência de pagamento aos credores que liberam os recursos.

CRRC é tido como maior empresa mundial de equipamentos ferroviários

Sediada em Pequim, a CRRC Corporation Limited tem 46 subsidiárias e mais de 170 mil funcionários. É o maior fornecedor mundial de equipamentos ferroviários. Seus principais negócios abrangem P&D, projeto, fabricação, reparo, venda, locação e serviços técnicos de material rodante (trens urbanos), máquinas de engenharia, equipamentos eletrônicos e elétricos e importação e exportação de materiais relacionados, bem como serviços de consultoria, investimento e gestão de ativos. Atualmente, os produtos são exportados para mais de 100 países.

O faturamento anual da companhia atinge US$ 37,8 bilhões, figurando entre as 300 maiores companhias do mundo, segundo a revista Fortune. Com investimento de cerca de US$ 1,6 bilhão para pesquisa e desenvolvimento, ocupa o 96º  lugar das empresas globais que investem em inovação.

A CRRC tem origem na Xugezhuang Machinery Works que, em 1881, fabricou a primeira locomotiva a vapor na China chamada de ‘Foguete da China’. Ao longo dos anos, a empresa foi se especializando no transporte sobre trilhos. Em 1967, fabricou o primeiro trem para metrô. Vinte anos mais tarde, já como Corporação Nacional da Indústria de Locomotivas e Material Rodante da China, tinha 35 fábricas e quatro institutos de pesquisa.

No ano 2000, o grupo se dividiu em duas empresas, CNR e CSR. Em 2006, a CSR colocava no mercado seu primeiro trem de alta velocidade, que atingia 200 km/h. Quatro anos mais tarde, a velocidade das novas máquinas já era de 380 km/h. Em 2015, a CNR e a CSR fundiram-se novamente para formar a CRRC Corporation Limited e foram listadas nas bolsas de valores de Xangai e Hong Kong.

Atualmente, o grupo tem presença em diversos países de todos os continentes, entre eles, Nova Zelândia, Portugal, Indonésia, Nigéria, México, Chile e Austrália. Neste país, em 2016, a CRRC formou um consórcio para operar o metrô de alta capacidade em Melbourne e, dois anos mais tarde, passou a fornecer trens de dois andares em Sydney. Recentemente, a empresa apresentou o primeiro metrô autônomo de média velocidade (120 km/h), que se tornou o mais rápido do país. Equipado com equipamentos de detecção de obstáculos e inspeção de descarrilamento, a segurança operacional é, segundo a empresa, o item mais robusto do projeto.

No Chile, a empresa tem participado da renovação da frota de trens do país. Já no México, a CRRC colocou em marcha, no final de 2023, o projeto de renovação da Linha 1 do Metrô da Cidade do México. Com mais de meio século, essa linha está sendo atualizada para se tornar mais segura e confortável.

Mais recentemente, em janeiro, a empresa anunciou o início da operação do primeiro trem leve sobre trilhos fabricado pela CRRC para a capital mexicana. Esse tem velocidade de operação de 80 km/h e capacidade para 876 passageiros em uma formação de quatro vagões. No Brasil, a empresa já forneceu trens para a Supervia e o metrô do Rio de Janeiro.


Compartilhe esse conteúdo

Deixe um comentário