Nenhum meio isolado de transporte será jamais a solução para uma cidade da dimensão de São Paulo. O ideal seria organizar os sistemas existentes, articulando-os, e jamais parar, um minuto sequer, de investir naquele que produz, de imediato, benefícios mais condizentes com as urgências da população.
É um delírio imaginar que a bicicleta venha a ocupar papel de destaque nesse conjunto. Seria uma solução boa demais para caminhos tão péssimos, nos quais o perigo está à espreita em cada esquina, em cada ladeira ou descida, nas ruas e grandes avenidas e nos acessos de pontes e viadutos. Para ela, a cidade teria de ser repensada. Até aqui, no entanto, só tem sido pensada e repensada, para aumentar o fluxo dos veículos particulares motorizados em circulação.
Em uma cidade onde sequer o pedestre tem vez, como se imaginar opções seguras para a bicicleta?
Vejamos o pedestre: quando não é ele que não respeita a faixa, são os veículos que não a respeitam. E jogam o pedestre no meio-fio. Ele não é respeitado sequer em suas andanças pelas calçadas. Por mais que insista em caminhar sobre elas, é alcançado ali por veículos em alta velocidade. E, quando isso não acontece, acaba engolido pelas crateras. Às vezes, simplesmente não consegue transpor os degraus construídos no meio do caminho. Então, decide arriscar-se junto ao meio-fio. E, ali, torna-se a vítima preferencial dos delinquentes travestidos de motoristas.
A cidade não foi organizada sequer para o pedestre, que invariavelmente, ao pisar em falso no asfalto, recebe a reprimenda de motoristas: “Quer morrer?” – Não, ele não quer morrer. Quer apenas andar, se possível, até a venda mais próxima. Mas até para chegar à padaria ele coloca a corda no pescoço. O pedestre paulistano tem toda a cidade, desumanizada e desurbanizada, contra ele. É um cidadão com os dias contados.
Fonte: Nildo Carlos Oliveira