Os projetos das estruturas da Cosipa, do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de obras metroviárias da Rodovia dos Imigrantes (trecho da Serra do Mar) e da Ponte Internacional “Tancredo Neves” são parte de um legado que o professor Figueiredo Ferraz deixou para o País. *Museu de Arte de São Paulo, visto a partir da avenida Nove de Julho, na fase da construção O engenheiro João Antônio del Nero assumiu, em 1982, a presidência executiva do escritório de projetos de estruturas fundado em 1941 pelo professor José Carlos de Figueiredo Ferraz, matriz da atual empresa Figueiredo Ferraz – Consultoria e Engenharia de Projetos S.A. Com a morte do fundador, em 1994, del Nero e equipe mantiveram e ampliaram o legado, que teve e continua a ter importante significado para o desenvolvimento da engenharia brasileira. A história da engenharia é composta de múltiplas histórias. E a do professor Figueiredo Ferraz, que se confunde com diversas fases da engenharia e da vida política brasileira, começou na década de 1930, quando decidiu abraçar a mesma carreira do pai e do avô, ambos também engenheiros. Desde aquela época, ainda estudante, impressionava-o a ponte sobre o rio do Peixe, em Herval, Santa Catarina (destruída nos anos 1970 pelas inundações), projetada pelo engenheiro Emílio Baumgart. Executada pela Construtora Dourados e Baldassini, ela possuía o maior vão livre em concreto armado do mundo, na época. **Fundador - prof. José Carlos de Figueiredo Ferraz Formado engenheiro em 1940, Figueiredo Ferraz se tornou um dos maiores projetistas de estruturas do País. Ganhou notoriedade na década de 1950 com os projetos de viadutos para a via Anchieta (a segunda pista foi inaugurada naquele ano); os projetos das estruturas e das fundações da Cosipa; das fábricas da Ford na região do ABC, em São Paulo, e da General Motors, em São dos Campos; de trechos do metrô paulistano, cuja construção foi iniciada na administração Faria Lima, e de um dos marcos da arquitetura brasileira moderna: o prédio do Museu de Arte de São Paulo, na avenida Paulista, concebido pela arquiteta Lina Bo Ardi. Ele havia projetado também as torres da Catedral da Sé. Outras obras de sua autoria foram o trecho Belo Horizonte-Volta Redonda, da Ferrovia do Aço e a Ponte Internacional “Tancredo Neves”, ligando o Brasil à Argentina. Ele ficaria internacionalmente conhecido por conta da pista ascendente da Rodovia dos Imigrantes. Até hoje, essa obra é considerada um exemplo de desenvolvimento da engenharia rodoviária brasileira. *João Antônio Del Nero - presidente da Figueiredo Ferraz Mas, o professor não se tornaria apenas projetista e empresário. Levado pelas circunstâncias da época, ele assumiu a prefeitura de São Paulo, em 1971, depois de acumular experiências como secretário municipal de Obras (1957) e de Transportes (1968). Na vida pública, deixou uma marca de integridade e coerência. Em razão de crises econômicas que foram se sucedendo no País e que refletiam na escassez de obras para o escritório, o professor Figueiredo Ferraz resolveu transformar os seus colaboradores, João Antônio del Nero e José Lourenço Braga de Almeida Castanho em sócios. A sociedade foi ampliada, mais tarde, com a participação de Mosze Gitelman e de Aluízio Fontana Margarido. Em 1982, del Nero seria indicado, pelo professor e pelos demais sócios, para assumir a presidência executiva da empresa. Por conta, ainda da falta de obras no Brasil, del Nero e sócios resolveram prospectar serviços de engenharia em outros países. A empresa acabou elaborando projetos para obras no Chile e, mais tarde, em Portugal, projetou trechos do metrô de Lisboa. Em 1994, o escritório receberia um duro golpe em suas atividades: o falecimento do professor Figueiredo Ferraz. O empenho, a partir de então, de del Nero e dos demais integrantes da equipe da empresa, era no sentido de manter o grande legado do professor, com um diferencial: o legado deveria constituir um fator de estímulo para o desenvolvimento da inteligência da engenharia de projetos. O empenho, nesse sentido ficou evidenciado no projeto da 2ª pista da Rodovia dos Imigrantes, obra premiada em eventos internacionais por conta dos cuidados em especial na questão da sustentabilidade ambiental em obra rodoviária. A empresa projetaria também duas pontes estaiadas marcantes no exterior: a segunda ponte sobre o rio Orinoco, na Venezuela, inaugurada em 2006, com 3.156 m de extensão, e que proporcionou ao engenheiro Roberto de Oliveira Alves, da Figueiredo Ferraz, o Prêmio Talento Engenharia Estrutural, e a terceira ponte, também rodoferroviária, atualmente em construção, com 11 km de extensão e 360 m de vão livre, a ser concluída possivelmente em 2013. A empresa, diz del Nero, preserva o pensamento do fundador, segundo o qual, “não há desenvolvimento social sem desenvolvimento econômico e não há desenvolvimento econômico sem a participação da inteligência da engenharia”. Esta é, também, a convicção do continuador. Fonte: Padrão