A degradação da Luz

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Nildo Carlos Oliveira

 

Um bairro bom, centro de convergência da história e das artes.  Ponto de apoio e acesso para os que vinham de fora e procuravam hotéis e pensões. E um mostruário da genialidade de Ramos de Azevedo. Mas hoje está lá, cravado em algumas de suas ruas características, um dos maiores problemas sociais de São Paulo e do País: a cracolândia.

 

Raquel Rolnik, em sua coluna na FSP, dá algumas pinceladas na história do bairro. E diz ser necessário lembrar o seguinte: “… o que se chama hoje de cracolândia é produto de políticas municipais e estaduais para o bairro da Luz”.  Eu diria o inverso. O que ali existe é produto da falta de políticas municipais e estaduais. Falta de políticas ou falta de aplicação de políticas públicas de revitalização. A ausência do poder público gerou a degradação.

 

Ao longo do tempo a cidade buscou a modernização seguindo novos vetores de crescimento. Mas fez isso se esquecendo de modernizar os velhos bairros. Como se modernizar significasse apenas construir coisas novas. Na medida em que deixou de canalizar atrativos e investimentos para os bairros antigos, ela acabou condenando-os à decadência. Cabe, então, a pergunta: Quantos outros bairros antigos ela estará deixando entregue à própria sorte?

 

Com a degradação, a Luz, naquelas ruas apagadas, virou exposição de zumbis.  E campo aberto para a delinquência e as respostas, invariavelmente desastradas, das ações policiais. Em linhas gerais, não se cuidou do crescimento harmônico da cidade, até no que ela possui de melhor  para a sua história urbana e humana e fonte de planejamento para projeções futuras. Modernizar seria esquecer o passado.

 

Lastimavelmente, a suposta modernização se dá em bases absolutamente equivocadas. Veja-se o exemplo do Caxingui e de outros bairros. Os prédios crescem e vão sepultando o entorno. A infraestrutura jamais é modernizada, atualizada. Há sobrecarga no sistema elétrico, no sistema de abastecimento de água e do esgotamento sanitário e no sistema viário. O resultado, hoje ou amanhã, será desastroso para a população e para o poder público.

 

A Luz poderia, com sua história e arte, ser um sinalizador para o futuro da cidade. Contudo, é tão-somente, em várias de suas ruas, uma concentração de zumbis.

Fonte: Nildo Carlos Oliveira


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