Valmar Corrêa de Andrade*
OBrasil sempre foi visto como uma nação exótica de terceiro mundo e muito distante das atividades da elite dos países desenvolvidos. Seus principais produtos de exportação se concentravam em café, açúcar, carne bovina e imagens de Carnaval, natureza nativa e pobreza (do Sertão Nordestino às favelas do Rio de Janeiro). E essa exportação sempre foi mais baseada na quantidade, baixos preços, que na qualidade. A fraqueza era também refletida por instituições democráticas ainda não consolidadas, o que em parte explica, aos olhos do mundo desenvolvido, termos mergulhado vinte anos sob o comando dos militares para nos livrarmos de movimentos da esquerda, mundialmente ligados ao comunismo.
Após esse período, vários presidentes escolhidos democraticamente tentaram, com planos miraculosos, nos livrar das dificuldades econômicas que ainda tínhamos até pouco mais de uma década: superinflação, dívida externa alta, alta concentração de renda, entre outros. Durante as últimas duas décadas as gestões dos governos federais investiram nos ajustes que o país precisa para sair da condição de "País do futuro" (dito por Stefan Zweig, 1941) para o "País do presente" (dito por Barack Obama, 2011)!
A visão internacional sobre o Brasil muda depois das mais novas gestões federais, especialmente com fatos sem precedentes em nossa história depois do último governo: as empresas brasileiras saem da condição de meras fabricantes periféricas para empresas internacionais e passam a comprar empresas noutros países, incluindo os desenvolvidos; pagamos a parte da dívida externa mais importante e famosa, com o Grupo de Paris, aquela que "jamais pagaríamos"; tornamo-nos autossuficientes na produção de petróleo, pelo menos em quantidade; aumentamos enormemente o nosso volume e pauta de exportação; fomos protagonistas diretos, porque que não um dos líderes, da nova ordem econômica mundial, com a criação, por exemplo, do G-20; recebemos reconhecimentos, além de selos técnicos como o investment grade, pela confiança de que o País está pronto para sediar os principais eventos esportivos do mundo, a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e a Olimpíada de 2016, mesmo disputando com potências mundiais como os Estados Unidos da América. Mas o mais importante dessas conquistas, que segue uma lista um pouco maior que a citada, foi a de tirar milhões de brasileiros da pobreza e até da miséria extrema. Avançamos também em Educação com, por exemplo, a expansão sem precedentes do Ensino Superior para o interior do Brasil.
E Pernambuco? Como está nesse cenário? Simplesmente figura entre os mais prósperos estados do Brasil em termos de crescimento econômico. Não por acaso, Pernambuco tem uma história marcada por lutas desenvolvimentistas, muitas vezes reprimidas por forças mais conservadoras, seja do Império ou da República. O estado, que já dividiu o posto de mais desenvolvido do Brasil com o Rio de Janeiro, na época a capital do País, teve o sentido de desenvolvimento adormecido por quase um século, mas como uma semente dormente que ainda guarda o gene do progresso e germina ao menor sinal consistente de crescimento, abraçou as novas oportunidades genuinamente promissoras.
Desde os estudos e discussões com técnicos nacionais e internacionais, em iniciativas como a da Embrapa, de produzir vinho e frutas tipo exportação no alto sertão nordestino, no Vale do São Francisco, tendo Petrolina como principal referência, passando pela mão-de-obra que produz confecções para todo o Brasil no agreste central, até os novos desenvolvimentos próximos ao litoral. Ali, Pernambuco já tinha conquistado belezas naturais como Fernando de Noronha e promovido um importante "porto" turístico, o Porto de Galinhas. A natureza deu ao estado outro porto, ainda mais importante, quando colocou no litoral pernambucano uma raridade, o Porto de Suape. A capacidade de receber os maiores navios que chegam ao Brasil só é comparada a do Porto de Santos. Sendo Pernambuco muito mais próximo de portos da Europa e Estados Unidos, além da África, o seu apelo econômico para receber a grande parcela de navios do mercado internacional para o Brasil só não é maior porque o mercado consumidor e exportador mais intenso do país está na região sudeste, onde fica o Porto de Santos.
No entanto, a descoberta real, por parte de empresas nacionais e internacionais, dessas condições do Porto de Suape, já renderam a atração de várias empresas de grande porte e mais de cem empresas de porte médio apenas para esse local. É importante enfatizar que entre as empresas de grande porte temos algumas que atraem outras de sua cadeia de produção, mais empresas e até novos polos, como a refinaria de petróleo Abreu e Lima, o moinho da Bunge e o estaleiro Atlântico Sul. Que podem resultar em desdobramentos extensos como um polo petroquímico na região.
No rastro do desenvolvimento do interior, como o polo de confecções já mencionado e um aumento do poder econômico da população que vive lá, temos empreendimentos particulares importantes na Zona da Mata central, como as fábricas da Sadia e da Kraft Foods, em Vitória de Santo Antão. Vale ressaltar também a instalação da Perdigão em Bom Conselho. O que deve alavancar ainda mais atividades envolvendo agronegócios no interior. Falamos, até agora nas conquistas que já estão em funcionamento, ou quase instaladas, no estado.
No entanto, maior progresso ainda deve vir dos novos projetos que foram destinados ao estado numa parceria entre os governos estadual e federal. Um desses é o polo de hemoderivados a ser implantado na Zona da Mata norte, antes região só de cana-de-açúcar, que receberá fábricas como a estatal Hemobras e internacionais como a poderosa Novartis. Mas o epicentro da bola da vez no estado deve se concentrar nas proximidades da cidade de Salgueiro, devido a mais uma vantagem natural ainda não explorada. Salgueiro foi calculada como o centro geologístico do nordeste do Brasil, equidistante de aproximadamente 560 km dos maiores centros produtores e consumidores da região. Por ali passarão dois importantes empreendimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC): a ferrovia Transnordestina e o Canal da Transposição do Rio São Francisco.
As mudanças nessa região já começaram a ser sentidas com o início das obras, apesar do crescimento do número de hotéis e restaurantes não se encontra facilmente vagas: de Custódia a Parnamirim. Quando prontas e em funcionamento, essas obras vão fazer do porto seco de Sagueiro polarizado com o Porto de Suape, o eixo de circulação de mercadorias mais importantes do Nordeste. Os canais de transposição do São Francisco permitirão uma maior perenidade e controle de águas no sertão, podendo potencializar o desenvolvimento de uma nova agricultura para a região, tão
forte e maior que foi sentido por Petrolina, num futuro mediano de mais vinte anos. A Embrapa junto com outras instituições regionais já estuda o desenvolvimento de culturas não nativas de alto valor agregado para os agronegócios no sertão. Até o segmento industrial está aportando em Pernambuco: a indústria automobilística, com a instalação de uma fábrica da Fiat em Suape.
Apesar de todas essas oportunidades, temos grandes desafios a enfrentar para não deixarmos nenhuma possibilidade de retorno ao subdesenvolvimento. Um deles é a Educação: como qualificar milhões de jovens, e até mesmo de adultos, com as condições que tínhamos? Pelo longo período sem estrutura e sem cultura educacional adequadas, especialmente no interior do Nordeste, e os saltos que a economia do estado está dando, precisamos qualificar milhões de jovens com qualidade e em pouco tempo! Se for para poucos terá o efeito de alguns pingos de chuva caindo na terra seca e quente do sertão: bate e evapora, não resolve.
E as universidades, como estão diante desses desafios? Estão empenhadas em resolvê-los. Antes, todas as universidades do estado estavam concentradas no Recife: duas federais, uma estadual e uma particular/confessional. Hoje, temos universidades do leste ao oeste do estado. E no meio do estado? Essa demanda foi atendida pelas duas universidades federais mais antigas de Pernambuco: a UFRPE e a UFPE, parte já era fornecida pela UPE. Ao menor sinal de necessidade no interior a UFRPE instalou duas novas unidades acadêmicas: uma em Garanhuns e outra em Serra Talhada. A UFPE seguiu os mesmos passos instalando centros acadêmicos em Caruaru e Vitória de Santo Antão. Os Institutos Federais de Educação, liderados por um em Recife e outro em Petrolina, também procuraram atender a demanda com reforço e novas instalações no interior.
Como está a Ufrpe neste cenário? A Universidade Federal Rural de Pernambuco é a mais antiga universidade no estado, tem sua origem completando 100 anos em 2012. Atua no Ensino Médio e Técnico através do Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (Codae), no Ensino Superior e na Pós-graduação com a sede, no Campus Dois Irmãos em Recife, e as duas unidades acadêmicas já mencionadas, a de Garanhuns e a de Serra Talhada. Outra unidade, a mais nova da Ufrpe, também atuando em graduação e pós-graduação, é a Unidade Acadêmica de Educação a Distância e Tecnologia. Todo esse conjunto responde por mais de 20 mil estudantes em formação.
Em apenas uma década, aproximadamente, a Ufrpe aumentou o número de estudantes de aproximadamente sete mil para o patamar atual. A maior concentração de alunos está na capital pernambucana, mas uma parcela considerável já está sendo formada no interior, com uma distribuição geral que vai do Recife a Afrânio (extremo oeste do estado), parte em unidades e parte em polos de Educação a Distância. Os dois fatos novos que mais ajudaram nessa ampliação do número de vagas foram: o Reuni (Programa do Governo Federal de apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das universidades federais) e a Educação a Distância (com 28 polos no interior do estado e do País).
Os cursos de graduação vão da área de agrárias, a vocação original da Universidade, até áreas tecnológicas, passando por várias outras de humanas, sociais aplicadas, biológicas e exatas. Procurando atender também a sociedade pela necessidade de novos profissionais. A alta qualificação do quadro da UFRPE oferece um corpo de professores com 97% de mestre e doutores!Além dos avanços que a Ufrpe já realizou para resolver as questões de formação, pesquisa e extensão na sociedade pernambucana, continua a estudar e realizar planos de vencer os desafios atuais e os que estão por vir na região, contribuindo efetivamente para o desenvolvimento da sociedade, educação, cultura e inovação tecnologia em Pernambuco e noutros estados do Brasil.
*Valmar Corrêa de Andrade é engenheiro, reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Fonte: Estadão