A exclusão digital na era da economia do conhecimento

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Cerca de 97% da população mundial ainda se encontra digitalmente excluída, num contexto onde a tecnologia se torna cada vez mais importante e urgente para o desenvolvimento sustentável. A exclusão digital tira de milhões de brasileiros a oportunidade de romper fronteiras e sonhar com o futuro, já que informação e conhecimento são as moedas de troca mais valorizadas atualmente em todo o mundo. E a exclusão digital também ofusca a democracia, a economia, o desenvolvimento e o bem-estar público, traduzindo-se em questões de natureza global, tais como a indústria das drogas e a crescente violência.

A “Revolução Digital” tem permitido a expansão dramática da economia global, transformando a forma como vivemos e gerando uma enorme riqueza – mas apenas para algumas partes do mundo. Das seis bilhões de pessoas que vivem hoje no planeta, apenas um bilhão tem acesso à Internet. Comentando sobre essa desigualdade, James Wolfensohn, ex-presidente do Banco Mundial, afirmou que o abismo digital é “um dos grandes impedimentos para o desenvolvimento”.

Na América Latina, a exclusão digital aprofundou ainda mais a crônica exclusão social, contribuindo para aumentar os contingentes populacionais marginalizados, sobretudo entre a faixa jovem. Sem acesso à modernidade, milhares de latino-americanos têm se tornado refém do tráfico de drogas e da violência, incapazes de decidir sobre suas próprias vidas e de participar da sociedade como cidadãos críticos. Hoje, quase 40% dos latino-americanos vivem abaixo da linha de pobreza. Educação de qualidade e assistência médica são escassas; o desemprego beira os 30%.

Pesquisas mostram que pessoas que trabalham na “Indústria do Conhecimento” possuem em média 12 anos de estudo na educação formal, enquanto latino-americanos em geral têm apenas seis. Somente 17% da população da América Latina e Caribe acessam a Internet (nos Estados Unidos e Canadá, a média é de 70%).

No Brasil, o primeiro Mapa da Exclusão Digital (publicado em 2002 pela USAID, Sun Microsystems e Fundação Getúlio Vargas) já revelava o tamanho do nosso desafio: só 12% dos brasileiros possuíam computadores e 8% acessavam a Internet em casa.

Estudos recentes mostram que 67% dos 188 milhões de brasileiros nunca se conectaram à Internet e 54% nunca usaram um computador.

Criado em 1995, ano em que a internet chegava ao Brasil, o CDI tornou-se pioneiro no movimento de inclusão digital na América Latina e um dos principais empreendimentos sociais no mundo, com uma abordagem socioeducativa diferenciada e um modelo único de gestão, visando à sustentabilidade do projeto.

Nossa missão é transformar vidas e fortalecer comunidades de baixa renda através da capacitação nas tecnologias da informação e comunicação e de um aprendizado complementar voltado à prática da cidadania e do empreendedorismo.

Somos uma organização não-governamental que utiliza a tecnologia como ferramenta para combater a pobreza e a desigualdade, estimular o empreendedorismo e criar novas gerações de empreendedores sociais. Temos uma rede com 753 espaços de atuação, chamados “CDIs Comunidade”, espalhados por todo o Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru e Uruguai, além dos escritórios de representação nos Estados Unidos e Inglaterra. Essa rede é coordenada e monitorada por 29 escritórios Regionais e Internacionais do CDI.

Estamos presentes em comunidades de baixa renda, penitenciárias, instituições psiquiátricas e de atendimento a portadores de deficiência, aldeias indígenas e ribeirinhas, centros de ressocialização de jovens privados de liberdade, hospitais e empresas, entre outros locais, seja na cidade ou em zonas rurais. A Rede CDI estende-se aos lugares mais remotos da América Latina e do Brasil, como a Amazônia, beneficiando pessoas de diferentes faixas etárias, culturas, raças e etnias.

Em 14 anos, mais de 1 milhão e 250 mil pessoas – entre crianças, jovens em situação de risco social, adultos e idosos – foram impactados pela ação do CDI. Só em 2008, 255 mil pessoas beneficiaram-se com a passagem por algum CDI Comunidade, que ainda acolheu em seus espaços, fora do horário das aulas, 130 mil pessoas de baixa renda para acesso à tecnologia.

De acordo com uma avaliação externa, 87% dos estudantes tiveram suas vidas afetadas positivamente pelo CDI, o que se traduz na volta aos estudos, conquista de um emprego ou abertura de um negócio, entre outras coisas. Muitos ex-alunos repassam seus conhecimentos para amigos e familiares, usam o computador para fins de estudo e desenvolvimento pessoal e profissional e se tornam efetivos elos de uma cadeia de mudanças em suas comunidades.

Pesquisas também mostram que 65% dos beneficiários dos nossos projetos têm entre 10 e 18 anos; 56% são mulheres e 63% não têm fonte de renda, o que reforça a importância de levarmos oportunidades para essas pessoas e integrá-las à sociedade informatizada.

Acreditamos num mundo onde todas as pessoas possam participar ativamente da nova sociedade do conhecimento, na condição de cidadãos autônomos, críticos e empreendedores.

Rodrigo Baggio é fundador e secretário executivo do Comitê para Democratização da Informática (CDI), primeira ONG de combate à exclusão digital na América Latina.


Fonte: Estadão


Fonte: Estadão


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