Não é uma injustiça contra as construtoras, empresas de montagem industrial e as que prestam serviços especializados de Engenharia. Todos nesse mercado sabem que uma boa obra começa com projeto executivo competente e recursos assegurados – e projetistas e gerenciadoras experientes o Brasil têm de sobra. O investimento para se desenvolver o projeto custa menos de 5% do valor da obra — mas os contratantes públicos raramente lembram-se que esta etapa precede à construção.
Há décadas que se fala que o investimento mais inteligente para os três níveis de governo é criar um banco de projetos prontos para licitar. O BNDES e a EBP-Estruturadora Brasileira de Projetos tem potencial para mudar esse quadro — mas é preciso que a política não interfira no trabalho das equipes técnicas.
No setor privado, felizmente, incluindo as concessionárias de Transportes, Energia, Saneamento, Petróleo e Gás que assumiram o protagonismo como principais investidores de obras novas nesses setores nos anos recentes, os projetistas e gerenciadoras são sistematicamente requisitados.
Na indústria, já existem empreendimentos que são tocados em regime de open book, onde todos os custos são transparentes e as empresas de engenharia são remuneradas por fee e desempenho.
Nos projetos e obras privadas, o BIM tem se difundido maciçamente — já no formato 4D e 5D, com prazos e custos atrelados à execução.
Os drones se transformaram em ferramenta nos canteiros, executando com alta precisão e rapidez tarefas que exigiam equipes terrestres, frente a obstáculos de toda ordem no terreno, além de eliminar a presença humana em situações de risco.
Dois acidentes trágicos com barragens de rejeitos de mineração em Minas Gerais criaram contingências de riscos que aceleraram a adoção de máquinas operadas remotamente, sem operador a bordo. A AIZ do Paraná desenvolveu uma linha de máquinas de operação remota que se difundiu em diversas regiões.
Com esse recurso tecnológico, diversas barragens de rejeitos já foram descaracterizadas, sem incidentes, e outras estruturas similares estão sendo reforçadas ou desmobilizadas.
Voltando às obras públicas, lembramos do exemplo antigo de Miami nos EUA que segue um calendário plurianual de obras independente do prefeito e secretários que assumem a administração.
Na capital de Florida as obras também seguem seu calendário, o que evita atrasos e paralisações, otimizando o uso do dinheiro público.
No país do improviso, multiplicam-se os programas plurianuais de obras que são lançados, mas raramente cumpridos.
Ainda bem que as obras mais importantes de infraestrutura hoje são executadas por concessionárias privadas, que mantém uma programação de investimentos acordada com o poder concedente, monitora suas receitas e custos com rigor, para sustentar a eficiência operacional dos seus ativos frente ao público usuário, além de poder remunerar os seus acionistas.
O Brasil ainda tem uma série de ativos de infraestrutura com potencial para ser licitado como concessões nesta década.
É claro que há uma infinidade de obras menores e pontuais que os três níveis de governo precisam conservar e executar — essa tarefa prossegue aos trancos e barrancos, pela instabilidade das fontes de recursos para investimento, mudando de rumo a cada quatro anos muitas vezes por conta das eleições, o que pode deixar um rastro de estruturas semiprontas que precisam ser retomadas.
Essa é uma bela bandeira para candidatos sérios encamparem – moralizar as obras públicas e restaurar sua credibilidade.
Concluir obras em curso antes de lançar novas licitações — para que elas possam prestar serviços à população, gerando retorno sobre os recursos investidos. Reduzir os gastos com a máquina administrativa
para poder investir mais… São propostas em discussão faz muitas décadas, que raros governantes levaram a sério. Em 2022,
temos novas eleições. Vamos torcer que Deus continue brasileiro…