No mundo dos negócios as empresas não têm muita alternativa: ou crescem e se consolidam ou desaparecem do cenário, dando lugar a competidores mais capacitados. Mas há ainda aquelas que vão além do mero crescimento, traçando uma trajetória diferenciada, investindo em qualificação técnica, responsabilidade socioambiental, na experiência dos seus colaboradores e na transferência do conhecimento para as novas gerações de empregados. Esse foi o caminho escolhido pela Carioca Christiani- Nielsen. A empresa, com administração familiar, foi fundada em 1947, com o objetivo inicial de realizar pequenas obras de calçamento e de galerias pluviais, em ruas do subúrbio do Rio de Janeiro. Seus horizontes, no entanto, foram se ampliando, até se tornar uma das mais sólidas empresas de engenharia do Brasil, responsável pela geração de cerca de 12 mil empregos diretos, e um faturamento projetado, para 2008, em US$ 550.000 milhões, o que traduz um crescimento de 83,33% sobre o ano anterior, quando faturou US$ 300.000 milhões.
Essa trajetória é comprovada pela participação em empreendimentos de grande importância na história da engenharia brasileira, em segmentos tão diversificados como a construção do Estádio do Maracanã, da Ponte Rio- Niterói, da Linha Vermelha, do Sambódromo do Rio de Janeiro, de vários trechos do metrô carioca, e da Barragem do Funil, no Rio de Janeiro, considerada a maior estrutura de concreto armado em “arco-abóbada” para barramento hidrelétrico do País. Fora dos limites do Rio de Janeiro, a construtora executou o alargamento da calha do Rio Tietê, a construção da Rodovia Castello Branco, o poliduto ligando a Refinaria de Paulínea a Brasília, além de dezenas de Centros Educacionais Unificados (CEUs), em São Paulo. Na Bahia, foi responsável pelas obras do Elevador Lacerda, um dos principais cartões postais de Salvador, do Parque Industrial e do Terminal Portuário do Grupo M Dias Branco, entre outras.
Mais recentemente, garantiu contratos de empreendimentos que retratam um novo tempo na história da infra-estrutura do País, como o terminal portuário da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), em Santa Cruz (RJ); o Gasoduto Urucu-Coari-Manaus (AM), com 197 km de extensão; a modernização do Aeroporto Santos Dumont (RJ); a Duplicação da BR-101 (RJ), e a construção do Expresso Tiradentes, em São Paulo.
Por essa trajetória, que se confunde com a história da Engenharia no Brasil, a revista O Empreiteiro elegeu a Carioca Christiani-Nielsen como a Empresa de Engenharia do Ano, homenageando, através dela, a todos os profissionais que, com sua dedicação,capacidade técnica e criatividade fazem da Engenharia brasileira uma mas melhores do mundo
Três grandes saltos de crescimento
Coube à segunda geração de administradores da Carioca Christiani-Nielsen a responsabilidade pelo seu primeiro grande salto de crescimento. Em 1960, seu fundador, João Carlos Backheuser, adoentado, transferiu o comando da construtora para seu fi lho, o atual acionista majoritário, Ricardo Backheuser, então com menos de 30 anos. “Nessa época, toda a empresa cabia numa pequena sala”, lembra Roberto Moscou, então recém-admitido como estagiário, e que hoje ocupa o cargo de diretor Geral da empresa. Ele conta que foi Ricardo Backheuser que, jovem e audacioso, começou a dar nova dinâmica à empresa, forçando-a a dar os seus primeiros saltos.
“Com Ricardo, na década de 70, a empresa começou-se a buscar contratos de maior porte, fora dos limites do município do Rio de Janeiro. Em 1974 veio a nossa primeira grande obra, tanto em envergadura quanto em complexidade. O contrato, com o governo do Estado do Rio de Janeiro, previa a urbanização de uma área de 5 milhões de m2, para a implantação do Distrito Industrial de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Isso obrigou a Carioca a comprar equipamentos novos, de maior capacidade, e a contratar pessoal especializado. Mesmo para os dias de hoje, quando nos encontramos 100 vezes maiores que naquele momento, aquela poderia ser considerada uma grande obra. Dá para se ter uma idéia, portanto, do que esse contrato signifi cou a 38 anos atrás”, compara Moscou.
A partir daí, a construtora descreve uma trajetória de ascensão, intercalando períodos de crescimento acentuado com outros de consolidação, para então, partir para novo ciclo de expansão. “É interessante observar que cada um desses degraus teve sempre uma ou duas obras ícones. Aliás, essa sempre foi uma marca da nossa trajetória.Nunca fomos uma construtora de varejão. Ao contrário, sempre estivemos focados em três ou quatro grandes obras. Hoje temos 33 contratos em carteira. Mas quem puxa nosso carro chefe são umas quatro obras de peso. A Carioca sempre procurou selecionar contratos e clientes”, conta Luiz Fernando dos Santos Reis, diretor da construtora.
Moscou acrescenta que, como a maioria das empresas do setor, a Carioca aprendeu a sobreviver na gangorra da economia brasileira, onde períodos de desenvolvimento são intercalados por outros de letargia. “Mas eu acredito que é das dificuldades que surgem as grandes oportunidades. Até o ano 2000, nosso setor sobreviveu exclusivamente de obras do governo. A Carioca, como todas as outras, tinha suas atividades 99% voltada para clientes públicos, nas três instâncias de governo – municipal, estadual e federal. Gradativamente esse percentual foi mudando. Hoje, nada menos que 70% dos nossos negócios são com empresas privadas. Isso porque tratamos a Petrobras como um ente privado, já que ela age como uma empresa privada”, descreve Moscou.
Moscou classifica essa mudança de foco como o segundo grande salto da empresa. “Houve um momento em que o governo percebeu que não tinha capacidade de investimento em infra-estrutura na medida em que o País exigia para crescer, e decidiu transferir o que era possível para a iniciativa privada, através das concessões e privatizações. Todo o setor de siderurgia, por exemplo, foi privatizado. Esse momento coincidiu com a mudança da imagem do Brasil no exterior, que se tornou mais atrativo para os investidores estrangeiros. A carioca, sensível a esse momento, buscou se equipar e se modernizar para acompanhar essas mudanças. Tanto que hoje participamos do mercado de concessões principalmente nos setores rodoviário e de saneamento”, analisa o executivo.
De fato, O Grupo Carioca foi um dos pioneiros em concessões para a operação de rodovias e de saneamento básico (água e esgoto), operando, sob o regime de concessão, duas das mais importantes rodovias do País e cinco concessões plenas de água e esgoto, atendendo cerca de 1,7 milhões de habitantes.
Atuou na execução de tomadas d’água, elevatórias, estações de tratamento, adutoras e sistemas de abastecimento e distribuição de água em vários estados. Neste setor, participou, na última década, de importantes projetos integrados de saneamento e urbanização n
as cidades de Duque de Caxias, Belford Roxo e São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. E construiu os emissários submarinos de Maceió (AL), Guarujá (SP) e Barra da Tijuca, na capital do Rio de Janeiro.
“A partir de 2004, atentos ao fato de que a economia mundial estava mais estabilizada e que havia um grande volume de dinheiro circulando no mundo, A Carioca se mobilizou rapidamente para atuar de forma mais competitiva no mercado privado. Nós nos reestruturamos profundamente, focando este setor. Eu diria que esse foi o momento do terceiro grande salto da empresa, já que implicou numa mudança de postura da nossa equipe. Trabalhar para a iniciativa privada exige outro tipo de qualificação, outro tempo de resposta aos desafios. Essas empresas privadas, em sua maioria multinacionais, incorporaram, muito mais cedo que os governos, conceitos como responsabilidade socioambiental, saúde e segurança dos operários qualidade dos serviços e efi ciência de gestão. E nós tivemos que navegar nesse mar”.
Eles também não são emperradas pela burocracia. São muito mais ágeis. E nós tivemos que nos adaptar, para navegar nesse mar”, afirma Moscou.
Santos Reis completa que, além dessa capacidade de se adaptar às mudanças, outro fator primordial para o crescimento da Carioca: “ Nesse momento em que a tecnologia e os equipamentos mais modernos se tornaram acessíveis a um número maior de empresas, a qualidade da engenharia e a excelência da gestão passaram a ser os grandes diferenciais
Crescimento sustentável
Participar do mercado de exportação dos serviços de engenharia não está nos planos da Carioca Christiani-Nielsen. “Hoje nossa participação é zero e tão cedo não queremos mudar isso. Sabemos que muitas empresas brasileiras de engenharia vêm se destacando nesse cenário, mas sabemos também que há mais histórias de insucessos do que se divulga. Preferimos crescer de forma sustentável, para ficarmos do tamanho confortável, que nos permita manter uma equipe altamente qualificada, sem grandes riscos, mas sobrevivendo aos picos e vales da economia mundial. Esse é o nosso projeto”, assegura Roberto Moscou.
Quando fala do portfólio da Carioca Engenharia, o diretor geral da Carioca, faz questão de citar o do Terminal de Gás Natural Liquefeito da Petrobras e o Terminal Portuário para a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), para o TyssenKrupp, ambos em fase final das obras. “Trata-se de projetos absolutamente diferenciados, que exigiram soluções muito criativas. Tivemos até que fabricar equipamentos especiais para esses trabalhos, que tinham prazos muito apertados, além das grandes dificuldades técnicas, como localização em região de manguezal, com solo difícil etc. Eu afirmo que raras seriam as empresas brasileiras com capacitação para fazer aquelas obras na velocidade eu nós fizemos”, orgulha-se. “Para a execução desses projetos foram usados, entre muitos equipamentos especiais, duas cábreas de 100 t, que nenhuma outra construtora possui aqui no Brasil. Ambas foram projetadas e construídas por nós. Foi fundamental, ainda a expertise herdada da Christiani-Nielsen, adquirida pela Carioca em 1988, que era a empresa, no Brasil, com maior experiência na construção de portos”, conta Moscou.
Fonte: Estadão