Acre e Rondônia apostam na pavimentação da BR-364 e nas usinas do rio Madeira

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Com investimentos em rodovias e na geração de energia, crescem as oportunidades para as indústrias locais

Gabriele Jimenez

Quando o governo do Acre anunciou, no fim de 2011, que a BR-364, no trecho que liga a capital Rio Branco à segunda maior cidade acreana, Cruzeiro do Sul, ficaria aberta o ano todo pela primeira vez na história, muitos se perguntaram se isso seria mesmo possível. Em seus 43 anos, a estrada jamais havia sido capaz de suportar o período chuvoso do inverno amazônico, entre outubro e maio. No geral, ficava interditada de seis a oito meses, e essa situação se refletia no aumento alarmante dos preços de produtos básicos em Cruzeiro do Sul. Tem sido difícil manter em boas condições os 672 km que ligam as duas cidades. Até aqui o Departamento de Estradas de Rodagem do Acre (Deracre) vem conseguindo mantê-la trafegável.

Nos últimos quatro anos, R$ 1,1 bilhão foram destinados a melhorias daquela estrada, em especial a pavimentação. Apesar dos esforços, os trabalhos não foram concluídos antes da chegada do último ciclo das chuvas, e ainda há 100 km que precisam ser terminados, incluindo-se aí um trecho de 33 km entre as cidades de Feijó e Manoel Urbano. Ali precisam ser feitos camadas de base e sub-base e revestimento. Nesse trecho, o tráfego de caminhões cujo peso exceda 7 t está proibidos. A BR-364 precisa de melhorias também na altura do município de Tarauacá.

No trecho da BR-364 que vai da divisa de Rondônia à cidade de Rio Branco, o governo admite a existência de buracos nos trechos mais antigos. Por isso, há previsão de melhorias ainda este ano pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Anualmente, o governo do estado gasta R$ 25 milhões com obras de “tapa-buraco”.
Para o Estado, esse tipo de projeto tem uma importância econômica direta, já que 40% da população estão na zona rural, em municípios nos arredores da rodovia, segundo Marcus Alexandre, diretor do Deracre. “A recuperação da rodovia influencia não só no escoamento da produção de borracha e castanhas, mas também na população local, que tem o custo de vida reduzido de 40 a 60% graças à melhoria da logística”, explica.

A BR-364 também deve receber investimentos em território rondoniense. Segundo o DNIT, um Crema (Programa de Conservação, Restauração e Manutenção de Rodovias) mais robusto do que o previsto para o Acre está em fase de elaboração. A maior urgência está na travessia de balsa sobre o Rio Madeira, no distrito de Abunã, muitas vezes inviabilizada no período de baixo nível das águas. O projeto para a construção de uma ponte, discutida há vários anos, está sendo refeito e espera-se que o processo licitatório ocorra ainda no primeiro semestre deste ano. A obra deve levar pelo menos 18 meses para ficar pronta.

Em condições de tráfego muito melhores do que a BR-364, a Interoceânica Sul, também conhecida como Estrada do Pacífico, foi inaugurada em meados de 2011. Ela liga o Acre ao Peru, cortando a Amazônia e a Cordilheira dos Andes. Ao possibilitar a ligação rodoviária entre o Porto de Santos e os portos peruanos, o governo esperava criar uma rota alternativa para que os produtos nacionais chegassem à Ásia. Mas, o fluxo de transporte de cargas na estrada, ainda é tímido. “Temos que resolver questões alfandegárias e divulgar as vantagens logísticas para as transportadoras”, explica Antonio Castillo, conselheiro econômico comercial da Embaixada do Peru no Brasil.

No estudo Norte Competitivo, de 2010, a consultoria MacroLogística, colocou em dúvida o potencial da Interoceânica como canal para escoamento de produção. Encomendado pelas indústrias da Amazônia Legal, o cálculo afirma que a nova rodovia só traz vantagens financeiras para cargas saídas do Acre e Rondônia, mas não para produtos vindos de estados da região Centro-Oeste, por exemplo. Em contrapartida, o mesmo levantamento traz um dado animador no que diz respeito à BR-364: as melhorias na rodovia trazem uma diminuição de custo no transporte de cargas de até R$ 150 milhões/ano.
 

 

 

Acre: investimentos previstos – 2012 a 2015

Área

 

%

 

valor

 

Pavimentação e Saneamento Integrado

 

40,47%

 

R$ 1.191.837.274,50

 

Habitação Popular

 

29,34%

 

R$ 864.149.574,72

 

Infraestrutura de Transporte e Energia

 

29,94%

 

R$ 881.640.187,00

 

Outras Obras Públicas

 

0,25%

 

R$ 7.444.444,00

 

Total

 

R$ 2.945.071.480,20

 

Fonte: Secretaria de Estado de Planejamento do Acre

 

Rondônia: investimentos previstos – 2012

Área

 

Valor

 

Transporte

 

R$ 209.069.008,00

 

Habitação

 

R$ 28.562,880,00

 

Urbanismo

 

R$ 10.427.688,00

 

Saneamento

 

R$ 1.553.000,00

 

Energia Elétrica

 

R$ 1.440.000,00

 

 

Fonte: Lei Orçamentária Anual – LOA 2012, Governo de Rondônia

 

ENERGIA DO MADEIRA

As hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio são outras duas importantes obras de infraestrutura essenciais ao desenvolvimento da região Norte. Juntas, têm potencial de geração de energia de 6.900 MW, três vezes o consumo anual de Rondônia. Elas estão orçadas em torno de R$ 30 bilhões. No entanto, para que essa energia abasteça milhões de residências e empresas em todo o País, será preciso primeiro que ela passe por linhas de transmissão para chegar à subestação de Porto Velho, de onde será enviada à Araraquara, no interior paulista.

No início do ano, o consórcio Energia Sustentável do Brasil (GDF Suez Energy South America Participações – 50.1%, Eletrosul – 20%, Chesf – 20% e Camargo Corrêa – 9,9%), responsável por Jirau, que tem cerca de 70% das obras concluídas, anunciou que a Toshiba, encarregada de suas linhas, tinha começado o lançamento dos cabos condutores que percorrerão os 94 km de distância que separam o canteiro de obras da subestação, na capital de Rondônia. Para tal, serão necessários 3.400 km de cabos e a instalação de 578 torres. A previsão para o término dos trabalhos é julho, e a geração de energia deve começar em outubro.

O consórcio Santo Antônio Energia, que comanda a construção da usina homônima (Furnas – 39%, Amazônia Energia – 20%, Odebrecht – 18,6%, Andrade Gutierrez – 12,4% e Cemig – 10%), precisou de 94 torres, distribuídas por 14 km, para sua linha alcançar a subestação de Porto Velho. A hidrelétrica tinha previsão para começar a operar parcialmente no fim do ano passado, mas problemas nas turbinas têm atrasado o início das atividades – os contratos com o governo federal entram em vigor em dezembro deste ano.

De Porto Velho a Araraquara, a energia gerada pelas duas hidrelétricas percorrerá 2.400 km em duas linhas, no chamado “Linhão do Madeira”. Sustentado por 4.800 torres, ele atravessará mais de 80 municípios. Em fevereiro, o Ibama concedeu a licença ambiental para o segundo circuito da linha de transmissão, que ficará pronto em 2013. Já a primeira deve estar concluída no final deste ano, dez meses depois do previsto.

Para Gilberto Baptista, superintendente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia, os benefícios trazidos pelas hidrelétricas vão além do aumento da oferta de energia à região. “A demanda na porta de casa acelerou a renovação de nosso parque industrial, pois os fornecedores tiveram que se capacitar para atender às obras das usinas. Assim, se tornaram aptos a fornecer também para outros estados”.

Esse cenário, no entanto, só deve se concretizar se os investimentos nas estradas locais continuarem sendo feitos. “Estamos perto da matéria-prima, mas longe do mercado consumidor. Se não tivermos condições logísticas favoráveis, como estradas em bom estado, jamais teremos competitividade”, afirma Baptista.

 

Fonte: Padrão


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