A expansão da economia, a ousadia de seu presidente, Ricardo Ribeiro Pessôa e a capacidade técnica e operacional projetaram a UTC para a liderança no segmento da montagem industrial e para novos caminhos na infraestrutura, com a aquisição da Constran
A história desta empresa de 35 anos de atividades, que ainda em meados dos anos 1990 empregava cerca de 900 pessoas e, hoje, emprega 7,5 mil, tem um antes e um depois. O passado, como em todas as histórias, explica o presente e, em alguns aspectos, tem um pouco de saga, sobretudo, quando passou a ser escrita por um empresário baiano que, segundo os amigos mais chegados, só dorme o suficiente para que durante todo o tempo disponível e necessário aos seus negócios, jamais deixe de estar desperto.
O antes remonta àquele período da história brasileira de 1974. Foi neste ano que a UTC foi criada pelo Grupo Ultra. O cenário da época era adverso na política e favorável, com algumas ressalvas, na economia.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) triplicara o preço mundial do produto; o Brasil importava 80% do petróleo que consumia; o acordo nuclear Brasil-Alemanha alimentava o sonho da construção de Angra I e Angra II, com o governo se empenhando em obter empréstimo de US$ 28 bilhões para esse fim; era iniciada a construção de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo, projetada para uma potência instalada de 12,6 milhões de quilowatts; fora fundada a Cobra, a empresa estatal destinada a produzir os primeiros micro-computadores nacionais; as empresas de mecânica pesada triplicavam a capacidade produtiva e o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND) infundia triunfalismo nos prognósticos econômicos.
Contudo, já naquele ano, a inflação chegava ao patamar de 34,6% e, dois anos mais tarde, a retórica do II PND dava lugar à realidade: vieram as crises internacionais do petróleo e, internamente, os sucessivos planos econômicos que marcariam a década de 1980 no País.
Nesse cenário, a UTC acabou adquirida pela baiana OAS em 1992. Ricardo Pessôa, que trabalhava na construtora havia 16 anos, estava na direção da montadora, quando a OAS decidiu desfazer-se do negócio e ofereceu o controle da empresa a ele e a outros diretores. Ricardo não hesitou. A partir daquele momento começou a escrever, com muita ousadia, a nova fase da UTC. Atualmente ele detém 56,52% da empresa e, os outros dois sócios – Francisco Assis de Oliveira Rocha e João de Teive e Angollo – 21,75% cada um.
A companhia cresceu. Em matéria, nessa revista, em outubro de 2003 (OE 415), quando ela foi eleita pelo O Empreiteiro, pela primeira vez, a Montadora Industrial do Ano, Ricardo Pessôa disse ao jornalista Nildo Carlos Oliveira que “Nada acontece por acaso. O nosso crescimento tem sido, ao longo dos anos, uma questão de trabalho e de investimento em formação de pessoal. Se hoje a atuação da empresa abrange toda a cadeia de valor, estando ela capacitada para projetos EPC (Engineering, Procurement, Construction), é porque sabiamente soube tirar partido das grandes possibilidades das inovações tecnológicas nesse campo e aperfeiçoou conceitos e métodos de trabalho que lhe permitem enfrentar o mercado de igual para igual.”
Já na fase em que se encontrava sob nova direção, a empresa construiu plataformas marítimas e desembarcou no ano de 2003 reconhecida como um dos principais players brasileiros no segmento da construção industrial. Seus empreendimentos abrangiam obras nas áreas da petroquímica, energia, incluindo hidrelétricas e termelétricas, siderurgia e aquela que lhe fornecia maior identidade no mercado, até então: petróleo e gás.
Mas o trabalho de gestão de uma empresa desse tipo requer, além da ousadia, de uma cultura empresarial ciclicamente renovada, de um leque muito amplo de conhecimento técnico e operacional, de uma enorme sensibilidade aguçada para solucionar questões logísticas, de outras qualidades peculiares: uma massa crítica e uma acuidade para o gerenciamento de projeto, desde as suas nuanças de prospecção, até os mínimos detalhamentos na empresa ou nos canteiros. “Sem a compreensão dessas pontas do processo torna-se evidentemente muito difícil comandar, gerenciar, fazer”, disse Ricardo Pessôa.
A empresa, as obras, as operações
A UTC mantém dois canteiros offshore, um em Niterói e, outro, em Macaé, no Estado do Rio. Na base de Niterói, em área de 112.000 m², constrói simultaneamente módulos e todos os demais componentes de plataformas marítimas. Preparado, em sua origem, para operar como base de engenharia e apoio aos serviços de hook-up das primeiras plataformas fixas da Bacia de Campos, esse canteiro permite o desenvolvimento de serviços de fabricação de módulos e componentes offshore e de skids, reformas de plataformas e complementação de plataformas semi-submersíveis.
A base de operações em Macaé, que possui uma área de 21.000 m², atende às necessidades de empresas petroleiras nas unidades on e offshore. Ali, são desenvolvidos trabalhos de manutenção e construção mecânica/elétrica, incluindo a elaboração de projetos básicos e respectivos detalhamentos; suprimento, montagem, automação, pré-operação e partida.
Uma das obras-marco da UTC, nos anos recentes, foi a conversão da P-47 para o Sistema de Armazenamento e Descarregamento Flutuante da Petrobras. Ela foi projetada para processar até 150 mil barris/dia de petróleo e armazenar 1,65 milhões de barris. Dentre outras obras desse tipo, a empresa destaca também a P-56, para a qual acaba de entregar dois módulos de geração de energia elétrica. Essa plataforma vai funcionar no campo de Merlim Sul e terá capacidade para produzir 150 mil barris/dia de petróleo.
Ainda recentemente a empresa assinou contrato no valor de R$ 350 milhões com a BR Distribuidora para a construção de 14 módulos para a P-58, que funcionará no Parque das Baleias, parte capixaba da Bacia de Campos e que terá capacidade para produzir 180 mil barris/dia de petróleo. Além disso, a empresa vem trabalhando, segundo contrato na modalidade EPC, para a conversão de outra plataforma semi-submersível que vai operar no Campo de Albacora.
A empresa costuma assegurar que, dentre outras obras que fazem parte de sua história, estão a construção e montagem da central de utilidades do Centro Integrado de Processamento de Dados da Petrobras (Cenpes); o projeto e construção das usinas de co-geração de energia nos shoppings de São Paulo e da Bahia, e outros trabalhos no segmento de plantas industriais, montagem de altos fornos, turbogeradores, etc.
Na área industrial, uma das obras mais recentes, que acaba de ser colocada em funcionamento, é o alto forno do complexo siderúrgico da ThyssenKrupp da CSA, no Distrito Industrial de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, reconhecido como o maior empreendimento privado desse se
gmento nos últimos dez anos.
Fechando o ano
Em um balanço geral desta história da UTC, Ricardo Pessôa reconhece que ela e outras empresas da área da engenharia industrial do País, contribuíram muito para assegurar a política da Petrobras no que diz respeito à autossuficiência de petróleo. “Nós reconhecemos que demos essa contribuição e, agora, estamos engajados em outro propósito: o trabalho em favor da exploração do pré-sal”.
Ao enfatizar os resultados obtidos pela empresa ao longo de 2010, ele diz que a UTC está fechando o ano positivamente. O faturamento é da ordem de R$ 1,6 bilhão e a previsão é de que será mantido um índice de crescimento no patamar de 10% em 2011. Esse índice considera a perspectiva de que o Brasil prosseguirá crescendo a uma taxa de 5% ao ano, dando ênfase aos trabalhos voltados para os segmentos de plantas industriais, mineração, energia, petróleo e gás.
Esse crescimento implicará necessariamente o emprego de investimentos na área da infraestrutura – rodovias, portos, aeroportos, energia, transporte de massa, etc. Daí, a aquisição da Constran, outra operação ousada da UTC. A aquisição de uma das maiores empresas de construção pesada do país abre outro capítulo – o que vem a seguir – na história da engenharia brasileira. Por esses e outros méritos, ela é escolhida, pela segunda vez, a Empresa de Montagem Industrial do Ano.
Conteiner alojamento para sondagem em Mossoró(RN)
O conjunto de serviços realizados nas atividades de exploração de Petróleo exigem grandes esforços, dedicação e horas de trabalho de equipes multidisciplinares. Desde o primeiro momento em que começa o planejamento da perfuração até transformar o poço perfurado em uma unidade produtiva o processo é longo e exige detalhamento técnico full time.
Para solucionar as demandas que essa prospecção exige, e visando uma contínua melhoria das condições de trabalho para o pessoal de campo dos contratos, o Departamento de Equipamentos da UTC Engenharia S/A desenvolveu o chamado “Container Alojamento para Trabalhos em Sondagem” a ser utilizado pela UTC Óleo e Gás, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, quando nas operações de Perfuração, Canhoneio/Completação e Teste de longa duração (TLD) dos poços. A empresa sabe que soluções como essa, além de conforto para os funcionários, resultam em aumento da produtividade e melhoria da eficiência nos trabalhos de prospecção de petróleo.
O Container UTC é composto de: Beliches com Gavetões e local para Armazenamento, Tenda externa (Gazebo) com 03 paredes removíveis, Frigobar, Mesa desmontável com 04 lugares, Fogão 02 bocas com botijão, Câmaras para filmagem de operação com servidor e placas de vídeo, Monitor/Tv de 26″ para melhor visualização das informações recebidas, Mesas de Trabalho em “L”, Cadeiras com rodas, Banheiro completo, com instalação hidráulica, vaso, pia, box para chuveiro, ar condicionado de 12.000,00 BTU´s, entre outros.
UTC recoloca a Constran entre os grandes da Engenharia
A simplicidade da idéia exposta na canção – “quem sabe faz a hora” – explica a aquisição da Constran pela UTC. No momento certo, o encaixe da peça certa. Agora, ela pode atuar com uma marca nacional no mercado das grandes obras civis da Engenharia
|*Nildo Carlos Oliveira
Por que uma empresa notabilizada na engenharia de montagem industrial, com um notável portfólio de obras das mais importantes, que inclui as maiores plataformas construídas e operadas pela Petrobras, de repente adquire uma empresa de construção pesada, que há cerca de três décadas figurava dentre as maiores na área da infraestrutura?
Dois empresários – Ricardo Ribeiro Pessôa, presidente da UTC Engenharia e João Eduardo Cerdeira de Santana, que assume a direção da Constran – mostram como um objetivo comum os aproximou. Ambos descobriram que o objeto de uma estratégia de mercado não precisaria ser buscado longe do território paulista. Ele estava ali, ao lado deles, preservando uma tradição de obras nos segmentos rodoviário, ferroviário, metroviário, portuário e de usinas hidrelétrica. Bastava movimentar uma peça disposta no tabuleiro das empresas de engenharia para concluir o lance e demonstrar que, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Ricardo Pessoa, baiano de Salvador, paulista desde 1992, que, segundo os seus amigos, não consegue descansar, senão trabalhando, diz que o modelo de negócios na engenharia, ao longo de décadas, tem mudado de acordo com as oscilações do mercado. Ocorre que a legislação brasileira segmentou muito a construção pesada e a construção industrial. Criou-se a idéia – artificial – de que quem projeta não pode construir e de que, quem constrói, não pode projetar.
Nessa linha de raciocínio, a empresa que se dedica a fazer construção civil, não pode dedicar-se a fazer montagem eletromecânica, da mesma forma como não poderia construir barragem. Uma segmentação que não ocorre em outros países, onde as empresas prestadoras de serviços de engenharia sempre estiveram e estão capacitadas para atividades afins.
Mas o tempo passou. A partir da década de 1990 constatou-se que o mercado da construção pesada é um só, independentemente das leis com as quais se procurou colocá-lo na camisa de força da segmentação.
O presidente da UTC, empresa muito direcionada no segmento de petróleo e na área industrial, observou, analisando o mercado daqueles anos até aqui, que precisaria de uma peça-chave na empresa para fazer frente às oportunidades ensejadas pelos grandes investimentos na infraestrutura. O encaixe dessa peça na sua organização forneceria à UTC os meios e a capacitação para atuar, com uma marca nacional, no mercado como um todo.
Foi assim que, no segundo semestre do ano passado, ele decidiu atuar também na área de infraestrutura. Os ventos estavam e estão favoráveis. O Brasil, conforme têm acentuado ao longo do tempo seus maiores pensadores, desde Euclides da Cunha, Gilberto Freyre e Celso Furtado, está definitivamente condenado ao crescimento. Sem crescer, ele não se constrói.
A decisão tomada por Ricardo Pessôa ganhou força na junção de interesses e de amizade com João Santana, um advogado e executivo com quem vem trabalhando há cerca de 20 anos. Ambos são unânimes no pensamento segundo o qual crescer é operar com objetos palpáveis: construir portos, metrôs, barragens, ferrovias, rodovias. Qual a empresa testada e provada, na prática, que poderia ser adquirida para concluir aquele movimento, talvez o xeque-mate?
“Nós tínhamos algumas opções”, fala Ricardo Pessôa. “Eu e o João consideramos que deveríamos conversar com o Olacyr de Moraes”. Olacyr, presidente do Grupo Itamarati, empreendedor que movimentou e fez deslanchar o mercado da soja no Brasil, era dono da Constran e fora também um dos maiores empreiteiros do País.
Pelo que Ricardo Pessôa sabia, a construtora não vinha sendo priorizada no conjunto do grupo. Apesar disso, a Constran mantinha o perfil da empresa de engenharia de que ele e João Santana precisavam: ela possui um currículo de realizações; construiu algumas das mais importantes obras de engenharia da infraestrutura brasileira; detém uma equipe técnica muito forte e se projeta, do passado para o presente, com todo o peso de sua tradição.
“Conversamos, portanto, com o Olacyr. Estabelecemos negociações e adquirimos o controle da Constran. João, que além de advogado, é um executivo atual e homem de gestão – não é à toa que tem um currículo que o credencia como tal – recebeu o convite para dirigir a empresa e vai torná-la mais forte do que era no passado”.
As negociações para a compra da Constran – Ricardo Pessôa preferiu não apresentar os números das negociações – evoluíram de fevereiro a abril do ano passado, quando a aquisição se concretizou.
“Este ano – 2010 – é o ano de arrumação. Estamos nos acomodando aqui, no Centro Empresarial de São Paulo, e, em 2011, já estaremos ocupando o espaço que a Constran teve e que continuará tendo no mercado da engenharia como uma das pioneiras na realização de obras como o metrô, a Imigrantes, a Castello Branco e portos, o principal deles, o de Sepetiba.”
O novo rosto da Constran
João Santana, o homem que, com Ricardo Pessôa, começa a modelar o novo rosto da Constran sem, no entanto, alterar-lhe as características de origem, lembra que a construtora está comemorando 53 anos de atividades. Fundada em São Paulo, durante muitos anos, sobretudo na década de 1970, ela esteve colocada entre as maiores empresas no Ranking da Engenharia Brasileira, elaborado pela revista O Empreiteiro.
“Esses dados, essa lembrança, que estão documentados, não só sinalizam a grandeza da empresa, do ponto de vista de seu acervo, de sua capacidade técnica, mas demonstram fundamentalmente, do ponto de vista dos seus recursos humanos, a qualidade da engenharia desenvolvida por sua equipe técnica, sobretudo pelos engenheiros responsáveis pelas obras que a distinguem ao longo do tempo”, diz João Santana.
Ele recorda que a Constran foi a primeira empresa de engenharia a iniciar uma obra de metrô no Brasil. Diz que o prefeito Faria Lima e Olacyr de Moraes estiveram juntos no ato que deu a partida para as obras do metrô paulistano, no pátio de manobras do Jabaquara.
“Ela foi também pioneira em ferrovias. Construiu 900 km da Ferronorte e, sucessivamente, inúmeras outras obras de porte. Jamais será possível dissociar-lhe o nome das obras que ajudaram na construção do País: o porto de Sepetiba, as rodovias já mencionadas, a participação na construção do Aeroporto Internacional de Guarulhos; a usina hidrelétrica de Xingó e a maior ponte rodoferroviária já construída no Brasil – aquela de Santa Fé do Sul, que liga Mato Grosso à região Noroeste do Estado de São Paulo.”
O executivo diz que o controle da Constran pela UTC confere à empresa, em um primeiro momento, uma perspectiva organizacional muito forte, resultante da identidade que a empresa de montagem industrial conquistou no mercado. Além disse, dá à Constran a tranquilidade estrutural necessária para que ela se recomponha e volte a participar do mercado, da forma como merece, pelo seu tamanho e tradição.
Ele acha que os investimentos do País em infraestrutura continuarão a ser muito significativos nos próximos 10 ou 20 anos. O Brasil terá de ampliar, modernizar, manter e garantir a sua infraestrutura, caso continue com a sua inevitável opção preferencial pelo desenvolvimento. “E nós estamos nos preparando para as obras nessa área. Aqui e em qualquer outra região brasileira”.
A Constran, o braço direito da UTC, pretende viver uma nova época, na era moderna da Engenharia.
Assumir obra complexa e defasada no cronograma
A construção dos dois altos-fornos do complexo siderúrgico da Tyssenkrupp CSA, que já seria uma grande responsabilidade tecnológica, teve um desafio extra para a UTC Engenharia – o de assumir uma obra iniciada por outra empresa e que já estava com atraso na execução
Considerado o maior empreendimento privado da siderurgia nacional, da última década, o complexo da Tyssenkrupp CSA Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), localizado no Distrito Industrial de Santa Cruz, às margens da baía de Sepetiba (RJ), chama a atenção pela dimensão das instalações e capacidades e pela adoção de tecnologias de última geração. A montagem dos dois altos-fornos, considerados o coração do complexo, foi um desafio à parte.
A montadora assumiu o contrato em 1o de setembro de 2008, quando as obras já haviam sido iniciadas por outra empresa, com cerca de 20% de avanço físico, mas, com um grande atraso em relação ao cronograma oficial. Ela valeu-se da sua expertise em obras de manutenção e montagem industrial nas áreas de petróleo, gás, energia, siderurgia e em outras atividades do gênero. Ela foi responsável, por exemplo, pela montagem de altos-fornos para a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) e Gerdau Açominas.
Para se ter uma idéia, cada alto-forno da TKCSA tem capacidade para produzir 7.500 t/dia de ferro gusa e as suas dimensões atingem, por exemplo, 95 m de altura, o que equivale a um prédio de 30 andares.
Essa foi a primeira vez, no Brasil, que foram construídos, simultaneamente, dois altos-fornos em uma siderúrgica o que, por si só, já exigiu uma logística complexa, tanto de movimentação de máquinas e equipamentos, quanto de mobilização de mão de obra.
“Assumir uma obra já iniciada é uma situação bastante incomum. Nos empreendimentos em que a UTC é contratada, elaboramos todo o nosso planejamento de execução pautado em mão de obra e fornecedores já habituados com a nossa sistemática de trabalho. Nesse caso, isso não foi possível. Foi a primeira vez que assumimos uma obra no meio da sua execução, e descobrimos que isso é muito mais difícil que trabalhar no canteiro desde o início”, admitiu o engenheiro Carlos Galvão, gerente do contrato, da UTC, em entrevista concedida para a revista O Empreiteiro, na ocasião.
Ele explicou também que, entre setembro e outubro de 2008, a empresa dedicou-se à elaboração de um diagnóstico do status da obra, que incluiu a identificação dos motivos do atraso do cronograma, para que o start up dos trabalhos fosse dado, efetivamente, em novembro.
“A fase de diagnóstico nos levou a identificar a necessidade de uma mudança radical no planejamento e na estratégia de execução da obra. Chegamos à conclusão de que, como fora definido, dificilmente seria concluído no prazo. A obra não avançava, efetivamente.
Para começar, a mão de obra direta que encontramos não era qualificada de forma adequada. Mas, não podíamos substituir, de imediato, os três mil homens que lá estavam trabalhando, porque não havia tempo hábil para isso.
Assim, tivemos que aproveitar boa parte dessa a mão de obra, oferecendo cursos de qualificação, para, gradativamente, ir inserindo nossos profissionais já qualificados. Entramos, logo de cara, com cerca de 500 profissionais dos nossos quadros e fomos, aos poucos, treinando e motivando os demais.
O resultado dessa iniciativa foi bom, não só para nós como para esses operários. Hoje, avaliamos que tenhamos aproveitado cerca de um mil homens dos que encontramos no início das obras. E todos possuem hoje outro patamar de qualificação profissional”, constatou Galvão, naquela entrevista.
Grandes dimensões
A usina siderúrgica ocupa um terreno, de 9 km2 de área total, que oferece condições logísticas ideais para esse tipo de instalação. Está próxima, estrategicamente, a um ramal ferroviário que vem sendo utilizado para o transporte de minério de ferro de minas do interior do Brasil para os portos de exportação na região costeira.
A instalação tem um porto marítimo próprio que pode receber até 4 milhões de t/ano de carvão e escoar, diretamente para a Europa e para a América do Norte, 5 milhões t/ano de placas de aço. A concepção da usina baseia-se no que há de mais moderno em tecnologia, sem se esquecer da aplicação de padrões rígidos de controle ambiental. Além de uma termelétrica, com capacidade instalada de geração de 490 MW, funcionam também no complexo uma aciaria, uma coqueria e os dois altos-fornos.
A aciaria, onde o ferro-gusa é convertido em aço, possui dois conversores de 330 t, instalações de metalurgia secundária para produção de aço de alta qualidade. A coqueria tem capacidade de processamento de 2 milhões de t de coque, um material sólido composto de carbono com pequeno percentual de hidrogênio, compostos orgânicos complexos e materiais inorgânicos, usados como combustível na carboquímica, na produção eletrotérmica, etc.
Planejamento e gestão
A chegada da UTC no empreendimento exigiu completa reformulação dos procedimentos e ampliação dos níveis de exigência dos serviços e fornecimento. Esse processo gerou uma verdadeira engenharia de planejamento que demandou novos esforços, pois, enquanto dava andamento à montagem da estrutura do Alto-Forno 1, já iniciada, iniciou a montagem de dois blocos do Alto-Forno 2.
Para executar as montagens, a empresa utilizou ferramentas de última geração tecnológica, como os softwares AutoCad, Solid Works, Sat e Microsoft Project. Essa tecnologia gerou uma metodologia capaz de avaliar quando e onde o processo podia sofrer aperfeiçoamentos e adequações, que possibilitarão aceleração das etapas da obra que estavam mais atrasadas.
Hoje, depois de concluídos os trabalhos, Carlos Galvão destaca que foi a necessária muita habilidade para trabalhar com mais de 4 mil colaboradores nos alto-fornos e outros 2.800 na coqueria, incluindo os subcontratados. Por conta do ineditismo da obra, ele avalia: “Este case da UTC deve entrar para a história da engenharia brasileira como um desafio atípico e um sucesso comprovado”.
Materiais e equipamentos
– Guindastes: Locar e IV Guindastes
– Caminhões munck: Irigaray e Izamar
-Andaimes e plataformas Elevatórias: Mills
– Torres de iluminação: Trimak
– Contêiners: NHJ e Eurobrás
Serviços
– Soldagem: Jostape
– Limpeza química e teste hidrostático: Sermap
– Tratamento térmico: Engemet e Heat Up
-Corte e demolição de concreto: EkipeC
– Calibração de instrumentos: SGSd
Características do projeto
– Cada um dos altos-fornos possui capacidade de produção de 7.500 t/dia de ferro gusa
– 54 mil m2 de área reservada para a construção do alto-forno, equivalente a seis campos de futebol oficiais.
– 3.800 trabalhadores envolvidos
– 40.000 documentos cadastrados no sistema (desenhos, especificações, procedimentos manuais, etc.
– 6.000 refeições diárias
– 6.000 kVA de potência elétrica instalada para as atividades de montagem, dos dois alto-fornos, o suficiente para iluminar uma cidade de 10 mil habitantes
– 1.1 mil m de cabos elétricos utilizados em 82 mil ligações e 11 mil testes elétricos
– 2.500 equipamentos em atividade
– 20 toneladas de consumíveis de solda/mês
– 13.000 peças de consumíveis abrasivos/mês
– 38.000 t de montagem eletromecânica
– 11.000 t de material refratário
– Guindastes configurados com lanças de até 130 metros
– 1.000 t de carga máxima de guindaste
– 280 t foi a estrutura içada mais pesada, relativa ao painel da estrutura inferior do alto-forno, equivalente ao peso de 350 carros populares
– 325 km lineares de andaimes montados, quase a distância entre Aracaju (SE) e Salvador (BA)