Augusto Diniz (O Empreiteiro) e
Andrew Wright (ENR-Engineering News Record)
– Cuiabá (MT)
As belezas do Pantanal Mato-Grossense são o principal apelo para a construção da Arena Pantanal em Cuiabá (MT), com vistas à Copa do Mundo de 2014. Afinal, a cerca de 100 km da cidade, já é possível ver os primeiros jacarés, um sem-número de pássaros e a exuberância desse ecossistema.
Porém, para erguer o estádio, foi preciso atender as condições climáticas específicas da região. A incidência constante do sol e as altas temperaturas fizeram com que o projeto contemplasse uma arena mais arejada e que o campo fosse posicionado protegido da insolação mais forte. Quem explica o projeto é João Paulo Curvo Borges, engenheiro-geral de obra da Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo) de Mato Grosso.
*Projeto da Arena Pantanal para o Mundial
A fachada da Arena terá uma estrutura de metal e lona tensionada em todo o seu perímetro, para proteger os fundos das arquibancadas do calor e da incidência de sol diretamente no concreto. “A medida criará uma área de ventilação entre a fachada e a arquibancada”, expõe João Paulo.
A questão do calor é muito relevante na obra – é comum a temperatura bater 40°C na cidade. Para evitar o aquecimento das arquibancadas na sua face voltada aos assentos do público, elemento reflexivo foi adicionado ao concreto usado nessas partes do estádio. A cobertura sofreu o mesmo procedimento. A posição do campo também procura protegê-lo da incidência do sol ao longo do dia.
A arena, com cerca de 50% dos trabalhos já realizados pelo consórcio construtor Santa Bárbara/Mendes Jr., receberá quatro partidas da primeira fase do Mundial e a Fifa já determinou que os jogos no local serão obrigatoriamente à noite devido ao calor.
Vãos maiores entre as arquibancadas facilitarão ainda mais a ventilação. A arena está sendo construída no modelo inglês de estádio, com quatro módulos idênticos de arquibancada, feitos de elementos pré-moldados. As estruturas delas foram posicionadas, o que já deu aspecto de estádio de futebol à obra. Tais elementos pré-moldados estão sendo fabricados, em sua maioria, no próprio canteiro de obras, como viga jacaré (para arquibancada), degrau de arquibancada, pilares e lajes alveolares.
Arquibancadas removíveis
Serão 43 mil lugares na arena, dos quais 17 mil lugares, localizados nos lados sul e norte, poderão ser removidos – a remoção vai depender do contrato de concessão que será proposto à iniciativa privada após a Copa do Mundo. As partes removíveis da arquibancada foram feitas de estrutura metálica aparafusada justamente para que pudessem ser retiradas.
A composição do estádio conta ainda com camarotes e lounges com 2.082 lugares. Na arquibancada oeste se localiza a área de imprensa, com 768 lugares para equipes usando mesas e 654 lugares em cadeiras. O estádio terá ainda 128 lugares disponíveis para portadores de necessidades especiais e obesos. A inclinação da arquibancada superior é de 30° e a inferior, de 19°.
Uma grua Liebherr opera na colocação dos elementos pré-moldados dos degraus da arquibancada no lado oeste. Outra grua deverá ser posicionada para montagem dos elementos da arquibancada no lado leste da arena. No sul e no norte, a colocação da arquibancada está sendo feita por guindastes de média capacidade. Um guindaste de 16 t deverá chegar em setembro para montagem da cobertura do estádio.
A cobertura será metálica com lona tensionada, a 44 m de altura, protegendo todos os espectadores. A cobertura das arquibancadas leste e oeste terá 64 m de largura e 110 m de comprimento. Já a cobertura sul e norte medirá 64 m de largura e 70 m de comprimento.
Na cobertura, serão colocados painéis fotovoltaicos de 1,5 MW para geração de energia solar à arena – o excedente deverá ser transmitido para a rede pública. O estádio, em funcionamento, consumirá de 6 MW a 8 MW por duas horas.
Será equipado com 16 elevadores e 80 boxes para instalação de bares, restaurantes e lojas. No total, são 60 sanitários nos 4 módulos de arquibancada. Os acessos principais às arquibancadas serão por escadas, em pontos estratégicos da arena, feitas in loco – os acessos de escada funcionam como parte de suporte da estrutura pré-moldada.
Uma esplanada no entorno do estádio está sendo erguida, para facilitar o acesso do público. A área também será usada para lazer e entretenimento. No projeto de paisagismo do entorno, serão usadas plantas do rico ecossistema de Mato Grosso, o que inclui vegetação do cerrado, da Floresta Amazônica e, é claro, do Pantanal.
O estádio terá 2.400 vagas de estacionamento e mais 360 vagas debaixo da arquibancada.
Concessão
A Arena Pantanal fica no local onde antes existia o antigo estádio José Fragelli, que foi totalmente demolido.
O lugar onde está a Arena Pantanal é composto de um complexo esportivo, integrado por um ginásio poliesportivo (construído há quatro anos e que servirá como centro de imprensa durante a Copa), piscina olímpica e ginásio para esporte de lutas – estes dois últimos serão reformados e estão incluídos no orçamento da obra. O complexo ocupa área total de 34 ha.
Como o estádio foi bancado pelo governo do estado, com custo de R$ 355 milhões, após a Copa será definido o modelo de concessão. “A estratégia do governo foi erguer o estádio, mostrar que ele é viável e, assim, transferi-lo para a iniciativa privada”, explica João Paulo. De acordo com o executivo, isso foi feito porque o apelo de Cuiabá na gestão de um estádio é muito menor do que em outras cidades-sede que servirão o Mundial.
A construção foi concebida de maneira funcional, para que atividades diversas possam ser realizadas no espaço, quando
for concessionado. Os quatro módulos de arquibancadas foram montados de forma independente. “Isso possibilita maior interesse do setor privado ao empreendimento, para fazer o que achar necessário, como hotel, escola, escritórios, eventos etc.”, ressalta.
Atualmente, 650 operários trabalham na obra. No pico, previsto para outubro, novembro e dezembro, serão 1.200 pessoas. A obra está programada para ser entregue em julho de 2013.
A construção do estádio segue as regras para certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design). Ainda na fase de projeto, a arena já havia atendido 38 pontos da certificação. Na fase de construção, outros 12 pontos já haviam sido alcançados.
Quando o projeto foi licitado, exigiu-se que já atendesse elevados índices de sustentabilidade — uma novidade, já que em outros estádios para a Copa isso foi feito depois do projeto terminado. “O BNDES seguiu o modelo da Arena Pantanal para fazer os requisitos de sustentabilidade de outras arenas, para obtenção de empréstimo”, explica João Paulo.
Ficha técnica
Obra: Arena Pantanal
Proprietário: Governo do Estado do Mato Grosso
Local: Cuiabá (MT)
Capacidade: 43 mil lugares
Término previsto: julho/2013
Custo: R$ 355 milhões
Projeto: GCP Arquitetos
Consórcio construtor: Santa Bárbara/Mendes Júnior
Gestão da obra: Concremat
Cobertura: SKM (concepção)
Fonte: Padrão