Arte e técnica para transpor rios, baías e espaços urbanos

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A necessidade de vencer vãos, rios, braços de mar, vales e outros obstáculos sempre foi um grande desafio para o ser humano no seu incessante desejo de ampliar conhecimentos e conquistar novos horizontes. No passado, o controle de uma ponte podia significar tanto a diferença entre deter ou não o poder sobre uma região ou povo como possibilitar a integração entre aldeias, cidades e países.

Com a evolução tecnológica, os métodos construtivos e os materiais também foram aprimorados. O completo domínio da técnica possibilitou que o homem passasse a executar projetos sofisticados e arrojados. São os casos das pontes estaiadas, amplamente empregadas como solução para os problemas de tráfego viário no dias de hoje.

Recentemente, a cidade de São Paulo inaugurou um exemplo desse tipo de grande estrutura: a ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira, concebida para fazer a ligação entre a Avenida Jornalista Roberto Marinho e a pista sentido Interlagos da Marginal do Rio Pinheiros.

A obra custou cerca de R$ 260 milhões e tem a missão de desafogar o tráfego numa região muito complicada e saturada, que além da antiga Avenida Águas Espraiadas (hoje Roberto Marinho) e das marginais do Rio Pinheiros, também sofre as influências da Ponte do Morumbi e da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, importante eixo econômico-financeiro da capital paulista.

A construção dessa ponte faz parte de uma operação urbana muito ampla que, futuramente, possibilitará a ligação com a Rodovia dos Imigrantes e contribuirá para diminuir a excessiva demanda de outro corredor extremamente sobrecarregado da cidade, que é a Avenida dos Bandeirantes.

Se, de um lado, a ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira tem essas funções fundamentais para a organização urbana, no aspecto de avanço tecnológico ela também não deixa por menos. Tais características técnicas e arquitetônicas vanguardistas têm garantido amplo destaque dentro da comunidade de engenheiros, projetistas e construtores.

Para analisar e promover a troca de informações sobre essa e outras destacadas pontes existentes no mundo, a Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece) realizou, nos dias 6 e 7 de maio, o 1o Simpósio Internacional sobre Pontes e Grandes Estruturas, reunindo especialistas brasileiros e estrangeiros, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Projeto inédito

A ponte estaiada Octávio Frias de Oliveira é a primeira ponte que reúne duas pistas estaiadas, sobrepostas e em curva, conectadas a um único mastro em “x”, que tem 138 m de altura. As duas pernas do “x” são autoportantes que se cruzam para suportar os tabuleiros suspensos.

Dos segmentos inclinados do mastro partem 36 pares de estais totalizando 144 cabos. Essa tecnologia de estais permitiu o emprego da técnica construtiva conhecida como avanço sucessivo, em que cada trecho concretado é sustentado por um par de cabos.

De acordo com o engenheiro Catão Francisco Ribeiro, da Enescil, empresa que respondeu pelos cálculos estruturais da obra, “os tabuleiros estaiados exigiram a solução de cálculos muito avançados, pois cada estai foi definido por uma equação única e extremamente complexa”.

Os tabuleiros estaiados são sobrepostos e têm 290 m de comprimento total, divididos em dois vãos de 150 m e 140 m. Eles foram executados em concretos armado e protendido, com 16 m de largura, dos quais 10,50 m destinam-se ao leito carroçável.

A obra também foi alvo de outros cuidados especiais, sempre tendo como base a necessidade de total sintonia com os demais projetos. Arquitetonicamente, o projeto se caracteriza por formas simples e limpas, visando amenizar o impacto da ponte sobre o meio urbano.

A construção foi pensada ainda a partir da premissa de se ampliar os equipamentos urbanos como, por exemplo, a ocupação dos baixios dos viadutos de acesso, visando evitar sua degradação e favorecer a idéia de se implantar carramanchões, jardins, alamedas, área de lazer e um possível bulevar, para uso da população local.

Sobre o mar grego

Entre os assuntos abordados no evento da Abece, teve grande interesse a exposição feita por Jacques Combault, presidente da International Association Bridge and Structural Engineering (Iabse) e diretor técnico do Finley Engineering Group, sobre a ponte Rion-Antirion, na Grécia considerada a maior ponte estaiada do mundo, inaugurada dias antes dos Jogos Olímpicos de Atenas, de 2004.

A ponte localiza-se na extremidade ocidental do golfo de Corinto, na Grécia, ligando o Peloponeso (no sul da Grécia) à península helênica. A ponte une também duas estradas principais: a interseção da auto-estrada de Patras, Atenas e Tessalonia (que completa a rede européia de auto-estradas) e a linha central ocidental da estrada de Kalamata, Patras e Igoumenitsa.

Ela foi construída sobre uma falha sísmica, transpondo uma área com mais de 60 m de profundidade num local onde só existe leito de rocha firme a grande profundidade. Com uma plataforma suspensa de mais de 2 mil m de extensão, a ponte de Rion–Antirion é apoiada por quatro pilares e os vãos centrais têm 560 m.

Os pilares são feitos de concreto armado e erguem-se a 160 m acima do nível do mar. Por causa da elevada atividade sísmica na região, a ponte demandou o reforço do leito do mar por meio de 200 tubulações ocas de aço (para cada pilar), cobertas com cascalho.

Com uma plataforma de 27,2 m de largura, contém duas faixas de tráfego, mais uma faixa de segurança e uma passagem para pedestre em ambos os sentidos. A ponte é dotada também de dois viadutos de aproximação, um com 392 m, no lado de Rion, e o outro com 239 m, no lado de Antirion.

Elo entre dois estados

A ponte estaiada sobre o Rio Paranaíba, que constitui uma importante ligação entre os estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, na BR 497, foi o tema abordado pelo engenheiro Bernardo Golebiowski, professor universitário e diretor técnico da Noronha Engenharia.

Aberta ao tráfego em outubro de 2003, com investimentos de quase R$ 130 milhões, ela tem vão central de 350 m e dois adjacentes de mais de 150 m. O trecho suspenso por estais tem 660 m de extensão e 16 m de largura. Com essas dimensões, essa ponte vem sendo considerada a maior do tipo estaiada da América do Sul.

Duas torres, com cerca de 95 m de altura e em formato de “A”, exercem as funções de ancoragem para os 140 estais de sustentação. Neste caso, também se adotou o sistema de balanço sucessivo, como método construtivo.

Ligação rodoferroviária

Situada a 25 km de Ciudad Guayana, no Estado de Bolívar, na Venezuela, a Segunda Ponte sobre o Rio Orinoco foi inaugurada em setembro de 2006. O tema foi apresentado, no simpósio da Abece, pelo engenheiro Roberto Alves, gerente t&eacu

te;cnico de estruturas da Figueiredo Ferraz.

Essa ponte, considerada a maior obra de engenharia viária na América do Sul, faz parte do Sistema Viário Ponte Mista sobre o Rio Orinoco, composto ainda por 166 km de rodovias, que incluem trevos rodoviários, cruzamentos ferroviários e viadutos de grande e pequeno porte.

Apresenta extensão total de 3.120 m, com dois vãos principais estaiados, de 300 m sobre os canais Norte e Sul. A sustentação é feita por 38 pilares, com seção retangular e altura máxima de 41,00 m, e quatro torres em forma de “H”, para ancoragem dos estais, com altura total de 120 m. As fundações profundas utilizam estacas escavadas, com diâmetro 200 cm e 250 cm.

O tabuleiro, concebido em estrutura celular contínua em aço A 588, o A 588, tem largura constante de 24,70 m por 5,50 m de altura, comportando uma via férrea central com 5,00 m de largura, duas pistas rodoviárias com 8,00 m e duas passagens de pedestres com 1,05 m cada.

A seção transversal segue o conceito de viga mista – estrutura metálica trabalhando em conjunto com a laje de concreto do tabuleiro. Apresenta um núcleo central celular composto por chapas enrijecidas em todo o seu perímetro e com um vigamento transversal superior estendendo-se do caixão em balanços laterais que se apóiam em duas mãos francesas que incidem no banzo inferior do caixão.

Outras palestras

O 1o Simpósio sobre Pontes e Grandes Estruturas, da Abece, apresentou ainda as seguintes palestras: Viaduto estaiado sobre a Via Dutra, com o engenheiro Rui Nobhiro Oyamada, da Outec Engenharia; Evolução das Pontes Estaiadas, com o engenheiro Minoru Onishi, da Protende – Sistemas e Métodos; e A Ponte Rio-Niterói – Três décadas de história, com o engenheiro Benjamin Ernani Diaz, da Noronha Engenharia.

Fonte: Estadão


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