O Brasil dispõe de regiões favoráveis para a geração de energia
eólica e espera sustentar a expansão
Nádia Fischer
Quase metade do total negociado nos leilões realizados pelo Governo Federal este ano para aquisição de energia provém das usinas movidas pelo vento. Assim como nos dois últimos anos, o preço médio mw de energia eólica foi abaixo do esperado, superando outras fontes energéticas. A energia eólica futura adquirida envolve projetos até 2014. |
O crescimento das eólicas no Brasil está relacionado à queda de preço dos equipamentos e a excelente capacidade do País em gerar esse tipo de energia. Porém, o caminho da expansão ainda é longo.
Década de 50
O uso da força do vento em grande escala se iniciou na Europa, ainda na década de 50, com a fabricação de turbinas eólicas. Há alguns anos, o assunto ganhou mais atenção no Brasil devido à necessidade de diversificação das fontes energéticas. O menor impacto ambiental é uma das principais vantagens da produção de energia eólica, pois o sistema não exige grandes intervenções na área de implantação.
Atualmente, existem mais de 30 mil turbinas eólicas de grande porte em operação no mundo, com capacidade instalada em torno de 13.500 mw. Somente a China responde por um quinto de toda a energia eólica gerada no planeta, fato que coloca o país no topo da lista dos maiores produtores — à frente, inclusive, dos Estados Unidos e da Alemanha, pioneiros nesse campo. Para se ter uma ideia, no ano passado, os chineses inauguraram 16,5 gw em capacidade de geração, praticamente a metade de todo o crescimento mundial.
Já o Brasil possui 57 parques eólicos em operação, que juntos respondem por 1,14 gw (1.140 mw) de capacidade instalada. “Isso corresponde metade do total em toda a América Latina”, afirma o diretor executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Pedro Perreli.
Na Dinamarca, a contribuição da energia eólica é de 12% da energia elétrica total produzida; no norte da Alemanha, a contribuição eólica já passou de 16%; e a União Europeia tem como meta gerar até 2030 10% de toda eletricidade produzida usando as usinas eólicas.
O Nordeste brasileiro detém cerca de 50% do potencial eólico estimado no País, com parques instalados no Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. Apesar da região possuir maior potencial, outros estados como Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul também já contam com usinas eólicas. Ao todo, os parques brasileiros são capazes de atender com energia mais de 6 milhões de habitantes.
No Brasil, a energia eólica é complementar à estação das águas, pois quando chove muito o vento é fraco, porém à época das cheias favorecem as usinas hidrelétricas.
De acordo com a Abeeólica, estima-se que a energia eólica já tenha gerado cerca de 13 mil empregos diretos e indiretos no País. Para a entidade, no entanto, diversos fatores dificultam o desenvolvimento em grande escala desse tipo de energia, como a escassez de mão-de-obra capacitada, disponibilidade de linhas de transmissão para escoar a energia produzida e necessidade de padronização de exigências ambientais nos diferentes estados.
A necessidade de mudanças na logística portuária no Brasil também é considerada prioritária para o desenvolvimento do setor, uma vez que os aerogeradores demandam desembarque e transporte diferenciados, devido à grande dimensão dos equipamentos. “Sem contar que é ainda preciso melhorar as rodovias, já que boa parte dos projetos encontra-se em áreas afastadas, cujas vias de acesso possuem más condições para tráfego de carretas de transporte”, complementa Perreli.
Apesar das limitações, a expectativa é de crescimento contínuo na área. Há em construção no País 28 parques eólicos. Estes projetos devem demandar investimentos da ordem de R$ 16 bilhões.
Expansão brasileira
A condição favorável dos ventos em território brasileiro, sem dúvida, proporciona avanços significativos no setor eólico. Entretanto, vale lembrar que o Brasil soube também aproveitar as oportunidades geradas pela crise global em 2008. O fato é que a desaceleração econômica dos países desenvolvidos reduziu os investimentos em energia eólica lá fora. E o Brasil aproveitou desta situação com a implantação de projetos pagando mais barato pelos equipamentos não vendidos em mercados antes promissores.
Soma-se a isso o aprimoramento tecnológico nesta área. “A fabricação de equipamentos em território nacional também favoreceu a redução do custo final da energia vendida por esse tipo de usina”, explica Perreli, da Abeeólica.
Projetos eólicos em construção
USINA | POTÊNCIA (MW) | ESTADO | MUNICÍPIO |
Novo Horizonte | 30,1 | BA | Brotas de Macaúbas |
Seabra | 30,1 | BA | Brotas de Macaúbas |
Macaúbas | 35,1 | BA | Brotas de Macaúbas |
Alvorada | 8,0 | BA | Caetité |
Rio Verde | 30,0 | BA | Caetité |
Ilhéus | 11,2 | BA | Guanambi |
Igaporã | 30,0 | BA | Igaporã |
Porto Seguro | 6,4 | BA | Igaporã |
Mangue Seco 1 | 26,0 | RN | Guamaré |
Mangue Seco 2 | 26,0 | RN | Guamaré |
Mangue Seco 5 | 26,0 | RN | Guamaré |
Alegria II | 100,8 | RN | Guamaré |
Cabeço Preto | 19,8 | RN | João Câmara |
Cabeço Preto IV | 19,8 | RN | João Câmara |
Morro dos Ventos I | 28,8 | RN | João Câmara |
Morro dos Ventos III | 28,8 | RN | João Câmara |
Morro dos Ventos IV | 28,8 | RN | João Câmara |
Morro dos Ventos VI | 28,8 | RN | João Câmara |
Santa Clara I | 30,0 | RN | Parazinho |
Santa Clara II | 30,0 | RN | Parazinho |
Cerro Chato I | 30,0 | RS | Santana |
Cascata | 6,0 | SC | Água Doce |
Campo Belo | 10,5 | SC | Água Doce |
Amparo | 22,5 | SC | Água Doce |
Aquibatã | 30,0 | SC | Água Doce |
Cruz Alta | 30,0 | SC | Água Doce |
Salto | 30,0 | SC | Água Doce |
Bom Jardim | 30,0 | SC | Bom Jardim da Serra |
Total: 28 parques | 763 | 4 estados | 10 municípios |
Fonte: Abeeólica
Fonte: Estadão