Em 2011, o Brasil bateu o recorde de crescimento na produção de minério de ferro. O País produziu perto de 467 milhões t do produto, o que representa um volume 25% maior do que foi registrado em 2010.
Os bons resultados também podem ser observados em outros minerais. A produção de ouro aumentou 13% e atingiu 66 t. Para este ano, a expectativa é que atinja 70 t. O nióbio passou de 80 mil t para 90 mil t.
Com isso, a Produção Mineral Brasileira (PMB) também bateu um novo recorde, atingindo US$ 50 bilhões, em 2011. A PMB foi duplicada entre 2009 e 2011, representando 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB). O saldo comercial da mineração foi de US$ 38,4 bilhões ou cerca de 30% superior ao saldo total da balança comercial brasileira.
Dentro desse cenário, Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos Minerários do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), destaca nesta entrevista os rumos do setor.
Quais são as perspectivas do setor mineral em termos de produção, investimentos e faturamento?
Para o período de 2012 a 2016 serão aplicados US$ 75 bilhões, valor superior ao estudo divulgado em setembro do ano passado – que era de US$ 68,5 bilhões. Esse montante irá contribuir para que a mineração continue atingindo resultados cada vez melhores, mantendo papel importante na economia do País. A perspectiva do instituto é que a produção mineral brasileira cresça de 5% a 8%, neste ano.
Quais são os principais entraves que devem ser enfrentados e quais são as soluções?
Mineração é o setor privado que mais investe no Brasil. Esses investimentos poderiam ser maiores, mas, para isso, há que se superar alguns desafios. O Brasil ainda conhece pouco do seu subsolo, por exemplo. Dentre os países com tradição e relevância na produção de minérios, o Brasil é um dos que menos investem em pesquisa mineral. Dos US$ 10,7 bilhões aplicados no mundo inteiro, em 2010, o País respondeu por apenas 3%, enquanto Chile e Peru, por exemplo, representaram 5% cada, de acordo com dados do Metals Economic Group. Considerando a extensão territorial, a situação fica ainda mais crítica. Nesse cenário, os peruanos investiram 11 vezes a mais que o Brasil, enquanto que o aporte financeiro aplicado pelos chilenos foi 18 vezes maior.
Esses baixos índices se devem, principalmente, à ausência do que se chama de pesquisa geológica básica. Só cerca de 20% do território brasileiro tem cobertura numa escala que permite identificar a presença de jazidas. Mas vale ressaltar que o governo federal trabalha para melhorar essa situação.
A questão do crédito é outro importante desafio. Observe-se que as mineradoras de menor porte, contrariamente às empresas altamente capitalizadas, não têm ativos reais para garantir o financiamento de seus projetos de mineração em instituições brasileiras.
No Brasil, não existe capital de risco para pesquisa mineral oriundo da Bolsa de Valores. Os motivos são vários: ausência de poupança de risco, questão cultural e, principalmente, falta de incentivos e de regulamentação que protejam o investidor e o minerador.
Tais limitações constituem notórias desvantagens em relação às mineradoras de outros países, com os quais o Brasil compete.
Outro desafio fundamental a ser superado são os entraves burocráticos do licenciamento ambiental. Deve-se fazer uma diferença entre entrave ambiental e entrave burocrático. O entrave ambiental deve ser respeitado, discutido. Ele é legítimo e deve ser analisado e estudado, com sugestões de medidas compensatórias e mitigadoras e, até para certos projetos, pode ser contestado. Entretanto, ao que nós estamos assistindo no dia a dia não são entraves ambientais. São entraves burocráticos. A burocracia leva ao desperdício de recursos e à perda de tempo, o que pode fazer com que deixemos escapar o timing do fornecimento de matéria-prima para o mundo. Se perdermos essa oportunidade, outros projetos e outros países podem sair na frente e conquistar o mercado.
Como a crise no mundo vem afetando o setor?
A crise financeira tem, evidentemente, reflexos no Brasil. Mas é importante lembrar que atualmente essa crise se encontra mais localizada na Europa. O continente europeu é um importante parceiro comercial. No entanto, o nosso País tem expandido suas relações comerciais.
A economia mundial, mesmo com o cenário de crise, ainda cresce. No Brasil, a perspectiva não poderia ser diferente. Acredita-se que a demanda mundial por minerais continuará forte, principalmente devido ao crescimento dos países emergentes, como China, Índia e Rússia. Além disso, a economia americana também começa a apresentar melhoria no seu desempenho.
Internamente, o Brasil terá grandes investimentos em infraestrutura visando qualificar-se para receber eventos, como a Copa do Mundo em 2014 e a Olimpíada em 2016, e também para a diminuição do déficit habitacional que está próximo de 6 milhões de unidades. Há outras obras de infraestrutura programadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como a construção de redes de saneamento básico. Todas essas obras demandam uma grande quantidade de minérios.
Fonte: Padrão